Sobre o primeiro vestibular dos índios na UFPR

As universidades estaduais do Paraná acumulam experiência da oferta de vestibular para índios desde 2002. A Universidade Federal do Paraná-UFPR e o Estado do Paraná Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior assinaram, em 29 de setembro de 2004, o convênio  502/04, que possibilita a participação também da UFPR do vestibular interinstitucional, que ocorrerá de 18 a 20 de janeiro de 2005 em Maringá.

A antropóloga, vice-diretora do setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Ciméa Barbato Bevilaqua, disse que a reitoria da UFPR havia constituído anteriormente uma comissão da qual surgiu a proposta denominada Plano de Metas de Inclusão Racial Social ao conselho universitário. A partir daí foram aprovadas vagas específicas para estudantes indígenas.

Pela Resolução 37/04, de 10 de maio de 2004, o Conselho Universitário definiu que a universidade ofereceria vagas a mais daquelas que já existem por meio do processo seletivo de estudantes indígenas. Começará com cinco vagas, em 2005 e 2006, passará para sete vagas, em 2007 e 2008, e para nove vagas, em 2009 e 2010. Atualmente, além da professora Ciméa, fazem parte da comissão da UFPR os professores antropólogos Edilene Coffaci de Lima e Ricardo Cid Fernandes.

O que há de diferente?

A antropóloga ressalta que “enquanto as universidades estaduais, talvez pela própria circunscrição territorial, limitam-se a atender índios residentes no Paraná, a UFPR receberá inscrições de todo território nacional. Isso é positivo, pois a geopolítica das sociedades indígenas não coincide com a geopolítica da sociedade nacional”.

Diferentemente das cotas para estudantes negros, para as quais vale a declaração individual do candidato, “no caso dos índios, entendo que essa política visa beneficiar aqueles que mantêm vínculo com suas comunidades de origem, mesmo que não residam em aldeias, mas em regiões urbanas. Por isso a inscrição deverá ser feita com o aval da comunidade e com a participação da Funai. Cria-se assim a possibilidade de atender a uma demanda coletiva de capacitação superior”, disse Bevilaqua.

Como serão feitas a inscrições?

A Funai nacional participa do processo de encaminhamento das inscrições no caso da UFPR. Para isso a UFPR e a Funai deverão assinar em breve um convênio para o encaminhamento das inscrições dos candidatos não residentes no Paraná e para apoiar a permanência dos estudantes que ingressarem na universidade. No Paraná, as inscrições podem ser realizadas em qualquer uma das instituições participantes do vestibular indígena ou nos postos da Funai. O candidato escolhe o curso e a universidade. Estão previstas visitas de agentes orientados pelas comissões universitárias às terras indígenas. Será levado material de esclarecimento e inscrição aos potenciais candidatos.

Os estudantes que passarem no vestibular vão morar onde?

“Está prevista a realização de um convênio com a Funai para que ela, na medida do possível, contribua com esse programa de permanência tanto com sua experiência, quanto com os meios de moradia, transporte etc., pois dificilmente os estudantes indígenas vão permanecer sozinhos o semestre inteiro, longe de suas famílias. Estamos conversando”, disse a professora. A UFPR vai oferecer bolsa-permanência, alimentação nos restaurantes universitários e assistência médica e odontológica.

Existe algum orientador para a interlocução entre os estudantes índios e os professores e alunos não-índios?

De acordo com a antropóloga, haverá um professor-orientador para cada estudante, tanto para apoio acadêmico quanto administrativo. Há o cuidado de estimular a inclusão dos estudantes indígenas nos programas mais gerais de iniciação científica, monitoria, extensão e outros, para evitar segregação ou que acabem desistindo do curso.

A professora comenta que “é importante criar condições tendo em vista o bom êxito de seus estudos, para que essa abertura de vagas não acabe reafirmando estereótipos, ou seja, que o aluno que não consegue acompanhar o curso por problemas de transporte e moradia acabe sendo visto como menos qualificado intelectualmente.

Além disso, é importante certa flexibilização de normas considerando as atividades na comunidade de origem. A iniciativa de ter estudantes indígenas é um passo que pode ter pouca expressão inicialmente, mas pode ser a oportunidade de estabelecer uma maior proximidade com as sociedades indígenas e de desfazer preconceitos. Acho que deve ser uma experiência bem interessante”.

Informações:

Fone: (41) 267-6766. Fax: (041) 366-1839; (041)266-0909 e 267-6766

(de segunda a sexta-feira), ou secretaria-nc@nc.ufpr.br

Zélia Maria Bonamigo

é jornalista, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social pela UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

E-mail:

zeliabonamigo@uol.com.br 

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