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Rotina de insegurança ronda entorno da estação-tubo mais assaltada de Curitiba

Foto: Gerson Klaina.

Cobradores, usuários, moradores e comerciantes do entorno das estações-tubo Coronel Luiz José dos Santos, no bairro Boqueirão, em Curitiba, têm uma preocupação em comum: o medo de assaltos. No ano passado, os tubos da Coronel Luiz José dos Santos, sentido bairro e Centro, na Avenida Marechal Floriano Peixoto, foram os que mais registraram roubos no transporte coletivo na capital, segundo levantamento da Urbs, a empresa que gerencia o sistema. Foram 349 ocorrências, quase a média de um roubo por dia, e mais de 25 mil pessoas com pertences levados nessas situações.

Uma cobradora que não quis se identificar afirma que já perdeu a conta de quantas vezes foi vítima de assaltos no trabalho. A quantidade de boletins de ocorrência guardados por ela, no entanto, a ajuda a ter uma ideia do número de vezes que o dinheiro do tubo e pertences dos passageiros foram levados por ladrões. “Tenho uma mala cheia em casa. São mais de 300, com certeza. Nem parei para contar, é muita coisa”, diz.

A trabalhadora, que chegou a ir até a delegacia identificar os assaltantes, assinala que tem medo de ser perseguida. “Se eles assaltavam na segunda, na quarta estavam aqui de novo. Sempre em dias alternados. Não tinha folga”, comenta. Depois de ver todos os colegas sofrendo com a criminalidade na Coronel Luiz José dos Santos, a cobradora pediu dezenas de vezes para trocar de estação. A resposta da empresa para a qual trabalha, segundo ela, sempre foi a mesma. “Eles dizem que ninguém quer vir trabalhar aqui. Ai eu tenho que ficar, não tem outra pessoa”, lamenta.

A situação, completa a funcionária, só melhorou neste ano, depois que os valores pagos pelos usuários passaram e ser recolhidos pelas empresas com mais frequência. A tensão, porém, continua.

Em 2017, de acordo com dados da Urbs, as os dois tubos Coronel Luiz José dos Santos sofreram cinco assaltos. A área do transporte coletivo com mais assaltos passou para o Bairro Novo, mas a Urbs não informou qual estação-tubo passou a receber esse título neste ano.

Modo de agir

De acordo com outro cobrador do transporte público, que também não quis se identificar, o modo de agir os assaltantes é sempre o mesmo – principalmente no final da manhã e noite. Os ladrões esperam a saída dos colégios da região – três, pelo menos – e uma fila se formar para fora do tubo. É neste momento que eles aproveitam para levar celulares e carteiras dos passageiros.

Um desses celulares pertencia à Irene Stresser, moradora do Boqueirão há mais de 40 anos. Ela acompanhava a mãe em uma sessão de fisioterapia numa clínica em frente ao tubo da Coronel Luiz José dos Santo. Depois de roubar os passageiros do tubo, um homem entrou na clínica em que Irene estava e levou o celular dela. “Todo mundo que mora por aqui está com medo. De uns anos para cá, não dá para sair com nada na rua que eles levam”, conta.

Os comerciantes também reclamam da falta de segurança. Não é difícil encontrar quem tenha sido assaltado na região. A dona de uma loja da região que não quis se identificar disse que o comércio é arrombado pelo menos uma vez por ano. Por conta desses casos, já teve que comprar sete vezes portas novas de ferro para o estabelecimento. “Tocou o telefone de madrugada, eu já sei o que é. A gente já se acostumou”, reclama.

Quatro assaltos por dia

De acordo com a Urbs, os assaltos a estações-tubo tiveram queda de cerca de 50% neste ano. Enquanto em 2016, aconteciam, em média, 8 assaltos por dia, neste ano, a média tem sido de 4 ocorrências por dia. Até esta quarta-feira, 424 roubos haviam sido registrados em estações da cidade.

De acordo com a Secretaria Municipal de Defesa Social, que é responsável pela Guarda Municipal, duas ações foram responsáveis pela diminuição dos assaltos aos tubos. Uma delas foi a criação da Patrulha do Transporte Coletivo. A segunda medida foi a criação de um grupo entre cobradores dos tubos mais assaltados e a inteligência da guarda.

Entre fevereiro e março, depois de um mês da criação da patrulha, o número de ocorrências atendidas cresceu 5,5%. Já o número de prisões em flagrante aumentou 62%, segundo a secretaria.