Eleições 2016

Xênia Mello quer refazer licitação do transporte coletivo

A Tribuna do Paraná ouviu as principais propostas da candidata à Prefeitura de Curitiba, Xênia Mello (PSOL). Confira abaixo o papo com a candidata:

De todas as suas propostas, qual é a principal? Qual será o foco?

Vamos construir uma cidade para as pessoas, tomar a gestão pública para que ela seja voltada para a população e não apenas aos interesses econômicos. Vamos garantir saúde , educação e  transporte de qualidade e moradia digna para as pessoas. Precisamos mudar Curitiba por nós mulheres, mães, jovens da periferia que sofrem com a PM e também com a Guarda Municipal. Por nós LGBTs que sofremos com preconceito e violência, por nós povo preto que construiu essa cidade e também por nós, cidadãos e cidadãs, que não temos moradia digna.

O que você pretende fazer para melhorar a educação em nossa cidade?

Em primeiro lugar, vamos zerar a fila e garantir vagas nas creches para todas as crianças de 0 a 5 anos. Hoje há mais de 10 mil crianças esperando por uma vaga. Vamos valorizar os profissionais, equiparando salários e carreiras do magistério e da educação infantil, garantindo o pagamento da hora-atividade de 33% e o cumprimento integral da lei do piso salarial nacional dos professores. Para isso, vamos investir de fato 30% do orçamento da cidade em Educação, uma promessa do atual prefeito que ainda não saiu do papel. Também defendemos a inclusão do debate de gênero nos Planos Municipais de Educação e a discussão sobre machismo, racismo e LGBTfobia em sala de aula, com capacitação dos professores e equipe sobre direitos humanos.

Existe a possibilidade de retomada do subsídio estadual ao transporte coletivo?

Algum tipo de subsídio do poder público é necessário para a manutenção do transporte integrado na RMC e com uma tarifa justa. Tanto por parte do município quanto do estado, no caso do transporte intermetropolitano. Porém, uma retomada dentro da conjuntura dos atuais contratos é totalmente inviável. Antes, é necessário anular os atuais contratos e refazer a licitação.

A tarifa de ônibus subiu junto com reclamações sobre as condições do transporte coletivo. Como resolver este problema?

É preciso que o prefeito tenha coragem para enfrentar a máfia que tomou conta deste serviço. Relatórios elaborados pelo Tribunal de Contas, pela CPI do Transporte na Câmara Municipal e por diversas entidades e técnicos apontam que houve fraude e direcionamento na última licitação, além de diversas irregularidades nos contratos.  Nós vamos pedir na Justiça a nulidade dos atuais contratos e refazer a licitação. Dessa forma, será possível implementar medidas que vão melhorar muito  qualidade do transporte coletivo, como o bilhete único temporal. Com ele, o usuário vai poder comprar um bilhete diário, semanal ou mensal e usar quantos ônibus quiser durante esse período, sem precisar ir até os terminais para trocar de ônibus, evitando deslocamentos desnecessários e reduzindo o tempo das viagens. Essa medida será o primeiro degrau em direção à tarifa zero no transporte coletivo de Curitiba.

Curitiba tem registrado uma onda de assaltos no transporte coletivo, muita gente reclama. Existe uma solução?

Curitiba é uma cidade extremamente violenta. Isso acontece porque temos muita desigualdade social: quem é rico é muito rico e quem é pobre é extremamente pobre. Os roubos e a violência são consequências da falta de condições de trabalho digno, de acesso à educação, de uma política sobre drogas que seja digna e respeitosa aos usuários e a imensa falta de espaços de cultura e lazer. Vamos investir nestas áreas para diminuir os roubos na cidade!

As UPAS e unidades básicas vivem sobrecarregadas. Como resolver imediatamente?

É urgente que a Secretaria Municipal de Saúde volte a realizar concursos públicos e acabe com a terceirização e as contratações via fundações. Um atendimento de qualidade só será possível com a valorização e oferta de boas condições de trabalho aos profissionais de saúde. Vamos garantir a jornada de 30 horas semanais e não deixar que o sistema dependa de horas-extras para funcionar. Além disso, é preciso colocar para funcionar Unidades de Saúde que estão praticamente prontas, mas continuam fechadas por falta de profissionais, como a UPA do Tatuquara.

A população reclama da burocracia dos postos de saúde, que não possuem um sistema de agendamento de consultas eficiente. Qual seu projeto?

É inadmissível que o cidadão tenha atendimento negado em qualquer uma das unidades de saúde do município. Vamos garantir o atendimento irrestrito em todas as unidades, com o fim da exigência do comprovante de endereço. Com a contratação de mais profissionais e garantia de melhores condições de trabalho será possível implantar um sistema eficiente de agendamento, em que as pessoas não precisem esperar meses por uma consulta ou exame.

São várias as reclamações sobre os parques de Curitiba. Vão de limpeza, manutenção, até iluminação. Como solucionar isso?

Nós assinamos a Plataforma da Política Urbana. Nessa carta, apontamos nosso compromisso com os parques da cidade. Queremos a recuperação e manutenção de áreas verdes da cidade que vem sendo preteridas e negligenciadas, especialmente das áreas mais distantes do centro, como o Zoológico e o Parque Náutico (Boqueirão) e o Bosque do Trabalhador e o Parque do Passaúna; Vamos piorizar aa instalação de equipamentos públicos e comunitários, bem como de espaços públicos de lazer nas áreas mais distantes do centro e pouco providas em termos de serviços e infraestrutura. Além disso, vamos direcionar os recursos destinados à obras públicas a fim priorizar a universalização de demandas de urbanização básica como asfaltamento, saneamento e iluminação pública.

Sobre os moradores de rua, existe alguma solução?

Vamos acabar com a exigência de comprovação de seis meses de circulação pela cidade para o acesso aos serviços de acolhimento. Além disso, é fundamental instalar uma rede de serviços que proporcione a saída das ruas, com a criação de serviços-escola nas próprias instituições de acolhimento, oficinas profissionalizantes e programas de acesso à moradia. Outra medida é implantar a formação continuada em direitos humanos a todos os funcionários que trabalham nos serviços voltados a este segmento.

Como melhorar o trânsito da capital?

A única maneira de melhorar o trânsito é incentivar o uso do transporte coletivo e da bicicleta. Utilizar esses meios de transporte tem que ser mais barato e ágil que andar de carro ou moto. Como Curitiba é uma cidade de longas distâncias, com bairros que ficam a mais de 30 quilômetros do Centro, é preciso que a bicicleta esteja totalmente integrada com o transporte coletivo para que ela seja uma alternativa viável ao trabalhador.  É preciso bicicletários seguros nos terminais e um sistema gratuito de bicicletas públicas e compartilhadas nas áreas centrais. Isso já existe em outras cidades, com um índice baixíssimo de roubo das bicicletas.

E a Linha Verde? Será terminada? Vão ser construídas trincheiras ou viadutos?

A Linha Verde é uma das grandes obras realizadas que está em em regiões já estruturadas e valorizadas , que drenam boa parte dos recursos públicos destinados ao urbanismo. Precisamos pensar em novos trajetos entre bairros e região metropolitana. Precisamos atender principalmente a periferia e não servir de lobby para as empreiteiras.

Como resolver o impasse entre taxistas e motoristas do Uber?

É falsa a polêmica entre UBER e taxistas. Nós da Frente de Esquerda PSOL / PCB temos como compromisso enfrentar a máfia do táxi porque hoje a ausência de licença para táxis é ligada a quem domina essas licenças. Essa é a grande questão. E nós temos como a defesa a regularização do UBER porque são trabalhadores e precisam terseus direitos garantidos, assim como os taxistas.

O que pretende fazer com as pessoas que estão nas áreas de invasão, principalmente na Cidade Industrial de Curitiba?

É urgente que Curitiba tenha uma política efetiva de regularização fundiária. Nas ocupações mais antigas, a prefeitura precisa reconhecer o direito de propriedade das pessoas que ocupam esses imóveis há décadas. Não é possível que a Cohab venda casas para pessoas que moram nelas há 30 anos. É preciso dar o título de propriedade a essas famílias. Para as ocupações recentes, geralmente formadas por barracos e moradias sem a mínima estrutura, é necessário trabalhar em parceria com o governo federal, no programa “Minha Casa, Minha Vida”. A modalidade “Entidades” desse programa, voltada para famílias reunidas em associações e cooperativas habitacionais, é fundamental para isso. Esse é um programa que está ameaçado pelo governo golpista de Michel Temer e é preciso que o prefeito atue politicamente para defendê-lo. Outra medida é a implantação do Aluguel Social para pessoas que vivem em condições muito precárias.

Como você imagina Curitiba daqui a quatro anos?

Acreditamos que é preciso ter peito para mudar a realidade em que vivemos e que os sonhos podem governar.  Queremos uma Curitiba menos violenta e mais acessível a todas e todos. Uma Curitiba humanizada e cheia de cuidado, que valorize a periferia e os trabalhadores e as trabalhadoras dessa cidade.