Delação

Tríplex era parte de propina ao PT, segundo OAS

Foto: Evaristo Sá/AFP.

Em reportagem publicada na edição deste final de semana, a revista Veja afirma que o acordo de delação que vinha sendo negociado entre a Procuradoria-geral da República e o ex-presidente da empreiteira OAS, Léo Pinheiro, continha informações sobre pagamentos indevidos para o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, abordava destinação de valores para o caixa 2 da campanha da presidente afastada Dilma Rousseff e citava ainda o senador Aécio neves (PSDB-MG) e o ministro das Relações Exteriores José Serra (PSDB-SP)

A revista aborda o conteúdo de 7 anexos que teriam sido entregues  ao procurador-geral Rodrigo Janot. Além dos petistas, a revista ainda cita o pagamento de propina de 3% para uma pessoa apontada como operador de Aécio e a destinação de 5% sobre as obras da empreiteira no Rodoanel durante a gestão de Serra no governo de São Paulo.

O Estado confirmou com pessoas que têm acesso à investigação o conteúdo dos termos citados por Veja. Entretanto, segundo investigadores ouvidos pela reportagem, o número de anexos extrapolam os 7 abordados pela revista. As tratativas entre a OAS e a PGR foram rompidas após Veja revelar, na semana passada, que entre os temas discutidos estava a citação ao ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal.

De acordo com a publicação, quatro anexos da delação de Pinheiro estavam relacionados ao ex-presidente Lula. O primeiro deles, diz a revista, detalha como valores desviados de obras da Petrobrás foram utilizados no pagamento do triplex no edifício Solaris, localizado no Guarujá. O imóvel já é alvo de investigação e resultou no indiciamento de Lula e de sua esposa, Marisa Letícia, na sexta-feira, pela Operação Lava Jato.  Ainda segundo Veja, o acordo sobre o pagamento do imóvel teria sido combinado com o então tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, João Vaccari Neto.

Outro anexo do acordo de delação, apontado como de número 2 pela revista, cita a solicitação direta do próprio Lula para que a OAS realizasse as reformas no sítio em Atibaia. Segundo a revista, teria ficado implícito que a OAS “atuaria e seria remunerada com o abatimento de créditos com o PT e também em retribuição ao serviço prestado por Lula em favor dos negócios internacionais da empresa”.

Lula ainda é citado, aponta Veja, no anexo de número 3. No documento, Pinheiro afirma que contratou o serviço de palestras do ex-presidente para “influenciar” autoridades em outros países. O delator, diz a revista, detalha a contratação de uma palestra em Costa Rica no valor de 200 mil dólares. O pagamento teria resultado em encontro, em 2011, com a presidente do país, Laura Chinchilla. O quarto anexo citado pela revista detalha como a OAS pagou, após solicitação do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, a guarda de bens pessoais do ex-presidente Lula. O pagamento teria como objetivo garantir a ajuda de Lula em negócios da empreiteira no exterior.

No caso da presidente afastada Dilma Rousseff, segundo a revista, a OAS teria firmado contrato fictício com a agência de comunicação Pepper. O contrato teria como finalidade pagar dividas da campanha da petista. A solicitação para o pagamento teria sido feita pelo tesoureiro da campanha e ministro de Dilma, Edinho Silva (PT)).

Tucanos. Além dos petistas, segundo Veja, a delação de Léo Pinheiro atingia dois caciques tucanos: o senador Aécio Neves e o atual ministro das Relações Exteriores, José Serra. De acordo com a revista, o contrato assinado em 2007 entre o governo do Estado de São Paulo, na gestão Serra, e OAS, para construção do trecho Sul do Rodoanel, resultou no pagamento de propina por meio das empresas de fachada do operador Adir Assad e entregas em dinheiro vivo. Segundo a versão divulgada pela revista, os valores eram destinados ao então secretário de Transportes, Dario Lopes, e ao diretor de engenharia da secretaria de Transportes, Mario Rodrigues.

Sobre o senador Aécio Neves, Léo Pinheiro, diz a revista, teria apontado que Oswaldo Borges da Costa Filho era o operador do tucano. Ainda segundo o ex-presidente da empreiteira baiana, à época da licitação para construção da cidade administrativa, maior obra da gestão de Aécio Neves no governo de Minas Gerais, ele teria procurado Costa Filho e soube da necessidade do pagamento de 3% sobre o valor do contrato. De acordo com Pinheiro, a “contraparte da OAS foi paga em espécie e, segundo o declarante, as quantias eram condicionadas ao então governador Aécio Neves”.

Outros lados. Em nota, a assessoria do senador Aécio Neves disse desconhecer as citações e que o tucano as considera “falsas e absurdas”. “A correção e regularidade dos procedimentos de execução das obras da Cidade Administrativa de MG foram atestadas pelos órgãos públicos de controle do Estado e por empresa de gerenciamento e auditoria externa, contratada por meio de processo de licitação”, diz o texto.

A assessoria defende que a “obra foi conduzida com absoluta transparência e controle da sociedade”. “É fantasiosa e irresponsável a afirmação de que o senador Aécio Neves teria “um operador”. As doações feitas pela OAS ao PSDB estão devidamente registradas na Justiça Eleitoral e ocorreram dentro da legalidade”, diz.

O tucano afirma ainda que “acusações dessa gravidade precisam vir acompanhadas de provas, sob o risco de servirem apenas a interesses outros que não os da verdade”.

Procurado, Serra não se manifestou até a publicação desta reportagem.