Projeção

Economia tende a melhorar se Dilma sair, dizem especialistas

O mercado financeiro vem desde a semana passada sinalizando que está aprovando a saída de Dilma Roussef da presidência. Desde que a maioria dos deputados passou a posicionar-se a favor da saída dela, ainda antes da votação, a cotação do dólar segue em alta. Ontem, um dia após a Câmara autorizar o processo de impeachment, a moeda fechou a R$ 3,59, com valorização de 2%. Economistas ouvidos pela Tribuna concordam que, se Dilma Roussef sair, há chances de a economia melhorar a médio e longo prazo. Se Dilma ficar, a recessão deve continuar ou piorar.

Caso os senadores optem por não levar adiante o processo de impeachment, o professor Gilmar Lourenço, da FAE, prevê a “intensificação do caos”. Como Dilma não tem apoio do Congresso para aprovar medidas e organizar a economia, há o medo que ela adote ações populistas, só para aparentemente melhorar a vida das pessoas de imediato e reverter sua impopularidade.

Mas Lourenço aponta que as medidas vão custar muito caro no futuro, pois a crise será pior. Segundo ele, haverá deterioração dos salários, aumento do desemprego, diminuição da capacidade de consumo das famílias e a economia não vai andar.

Banho-maria

O segundo cenário possível, diz Ângela Broch, coordenadora do curso de Economia da Faculdade Santa Cruz e conselheira do Conselho Regional de Economia (Corecon), é este período de 180 dias em que Dilma poderá ficar afastada e o vice-presidente, Michel Temer, assumir. Ela chama este período de “banho-maria”, onde os empresários e a população, por não saberem se Dilma fica ou sai, vão preferir agir com cautela, sem grandes investimentos, contratações ou decisões. A economia continuará parada.

Mesmo assim, ela vê a possível interinidade de Temer no governo melhor do que se estivesse Dilma. “Ela está tão enfraquecida, os deputados estão tão repulsivos a ela, que se ela e o Temer propuserem exatamente a mesma ação para votação do Congresso, a receptividade será diferente. É provável que barrem a proposta dela e aprovem a de Temer. Por isto, ela não vai conseguir propor algo que impacte a economia. Já se Temer o fizer, como os próprios deputados o colocaram na presidência, vão fazer de tudo para que as proposta dele prosperem”, analisa.

Ela acredita que, mesmo que não ocorra nenhuma mudança significativa na economia enquanto Temer estiver assumindo interinamente, a esperança de tempos melhores leve os empresários e o mercado financeiro internacional a acreditarem mais na economia brasileira.

E se Temer ficar?

O economista Gilmar Lourenço diz que, Temer assumindo por apenas 180 dias ou definitivamente até o fim de 2017, terá pouco tempo para levar ao Congresso medidas econômicas que já deveriam ter sido levadas por Dilma há tempos.

O medo é que, para tentar salvar a economia, ele adote medidas “populistas”, ou seja, para fazer o povo se sentir imediatamente melhor mas que, no futuro, custarão caro. Entre estas medidas, estão a redução das taxas de juros e o aumento dos gastos públicos. No primeiro caso, as empresas e famílias já estão endividadas. Fazer mais compras a prazo só as fará jogar dívidas maiores para frente.

No segundo caso, o governo vai gastar as poucas reservas que tem (destinadas a outros gastos) para injetar dinheiro na economia e aumentar a dívida a ser paga lá na frente. Isso pode resultar em aumento de impostos, redução da geração de empregos e da renda e aumento dos preços em geral, como comida, combustível e passagem de ônibus.

Reformas

“Os problemas da economia brasileira são muito volumosos e cresceram muito rápido nos últimos anos. Não é assim de uma hora para outra que vão ser resolvidos”, analisa Lourenço. Na visão dele, Temer terá que encaminhar urgente ao Congresso um conjunto de reformas ins,titucionais, a reforma da previdência, a fiscal e a das leis trabalhistas. São medidas que não vão impactar rápido na vida da população, mas vão recuperar o otimismo imediatamente e recuperar a economia a longo prazo, de forma duradoura. O economista aposta que não haverá nenhuma grande mudança na economia em 2016, só a partir de 2017 ou 2018.