Dia de paralisação

Servidores da rede estadual relembram a tristeza da repressão de 88

Cerca de duas mil pessoas, entre professores, funcionários e alunos da rede estadual de ensino no Paraná, protestaram nesta terça-feira (30), em Curitiba, pelos 28 anos da repressão à classe. Segundo a Secretaria Estadual da Educação (Seed), 85% das escolas funcionaram, parcial ou totalmente. O dia de paralisação deverá ser reposto. Hoje as aulas serão normais.

Após concentração na Praça Santos Andrade, os manifestantes seguiram para a Praça Nossa Senhora da Salete, no Centro Cívico, em frente ao Palácio do Iguaçu. Em reunião de representantes da categoria com a secretária da Educação, Ana Seres, e o chefe da Casa Civil, Valdir Rossoni, ficou definido que serão chamados cerca de 300 remanescentes do concurso público para professores de 2013 e será dado andamento aos concursos públicos para contratar funcionários de escolas (administrativos, merendeiras e zeladores).

Lembranças

O ato lembrou o dia em que o então governador Alvaro Dias usou a Polícia Militar com bombas e colocou cavalos para atacar os professores. Com uma exposição de fotos, a categoria também rememorou o dia 29 de abril de 2016, quando houve confronto entre protestantes e a PM no mesmo local.

A professora aposentada Meure Serrato, 65 anos, relembrou com tristeza da manifestação de 88. “Eu estava com meus dois filhos, duas crianças, e foi uma coisa absurda, bem parecido com o que aconteceu no dia 29 de abril. Acontece que ficou parecendo menor, porque não tínhamos como registrar da mesma forma que foi registrado no ano passado. Não temos como esquecer, porque ganhamos direitos, perdemos direitos, tudo depende de cada governo. Basta ver agora que estamos com progressões atrasadas, por exemplo, e muitas outras coisas que ainda precisam ser conquistadas”.
“Foi uma violência muito grande contra os professores. Estávamos em um movimento pacifico e reivindicávamos melhorias básicas. Pedíamos também pelo plano de carreira. Mas fomos surpreendidos por bombas, cavalos, cães, foi humilhante”, relatou a professora de Geografia Maria Eneida Fantin, 53. “Tudo o que conquistamos foi na luta”, apontou, citando como exemplo o plano de carreira.

Reclamações vão além

Os professores aproveitaram o momento para desabafar o que acontece nas escolas. Para a professora Meure, hoje aposentada, mas que lecionava português, de 1988 para cá as coisas só pioraram. “As escolas estão deterioradas, os professores não têm condições de trabalho, falta até giz para escrever no quadro. Já cheguei a comprar do meu próprio bolso”. Maria Eneida disse que as escolas estão sucateadas. “Tudo o que foi construído está sendo destruído. A gente vê muito professor novo entrando e achando que é assim mesmo, que não tem solução”.

O motivo para o desestímulo, conforme outra professora de São José dos Pinhais, que pediu para não ser identificada, são ameaças constantes. “Estamos sendo pressionados, descontaram o dia da manifestação do dia 29 de abril até de quem estava de folga. Estamos sob ameaça de exoneração em caso de manifestação. Muitos professores ainda estão em estágio probatório, que é de três anos, e o governo usa isso contra a gente. Por isso, muitos professores não pararam neste dia”, denunciou.

Ela avalia as condições de trabalho como péssimas. “Falta cadeira para os alunos sentarem e lanche decente. Tem sala de aula com 40 a 45 alunos. É impossível tomar conta de tantos alunos”. “A gente se esforça para sair de casa todos os dias porque temos um objetivo, lutamos pela educação e acreditamos num futuro melhor. Mas a situação é desanimadora”, resumiu. “Ou vai para a luta ou sai do profissão”, resumiu Maria Eneida.

Seed aponta investimentos

Em nota, a Seed confirmou que a falta dos professores no dia 29 de abril foi lançada, de acordo com determinação da Casa Civil. A pasta promete destinar este ano R$ 100 milhões para a aquisição de alimentos para a merenda. O Programa Estadual de Alimentação Escolar prevê refeições com cardápio diversificado. Quanto ao número de alunos, a secretaria esclarece que é determinado por uma resolução que leva em consideração a necessidade de otimizar a gestão do espaço físico.

Segundo a Seed, desde 2011 já foram entregues mais de 240 mil novos mobiliários escolares, no valor de R$ 35 milhões. No início deste ano foram repassados 36 mil conjuntos. Quanto ao material de trabalho, a Seed revela que desde o início deste ano letivo, as 2,1 mil escolas da rede pública estadual receberam R$ 45 milhões do programa Fundo Rotativo. “Esses recursos podem ser utilizados na contratação de serviços (como pequenos reparos e consertos) e na aquisição de materiais de limpeza, de expediente e didáticos, como giz”.