Pouco explorada a maior reserva de água da Terra

A maior reserva de água doce do mundo, o Aqüífero Guarani, ocupa cerca de 53% do território paranaense e tem vazão calculada em aproximadamente 5 mil metros cúbicos por segundo. Apesar de seu alto potencial e sua grande extensão – além do Paraná, ele atravessa outros sete estados brasileiros, e ainda a Argentina, o Uruguai e o Paraguai -, sua exploração no Estado ainda é tímida. Em 2002, a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) retirou cerca de 8,5 milhões de metros cúbicos do aqüífero, o que corresponde a apenas 8,5% do total de água subterrânea retirada pela empresa no ano.

“De cada cem perfurações, 18 apresentam algum problema: ou não há água ou ela é imprópria para consumo. É preciso um estudo hidrogeológico que minimize os riscos”, aponta o geólogo João Horácio Pereira, gerente da área da hidrogeologia da Sanepar, referindo-se à exploração de poços profundos.

É com o objetivo justamente de fazer um mapa hidrogeológico do Paraná que o professor Ernani Rosa Filho, coordenador do Laboratório de Pesquisas Hidrogeológicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), estará embarcando em janeiro para o Canadá, onde ficará durante um ano. Para fazer o mapa, o professor levará cerca de 40 amostras da água coletada em diversas áreas do Aqüífero Guarani no Paraná. “O objetivo é fazer o zoneamento para verificar onde a água é doce e onde não é”, explica. O mapa só deverá ser publicado em 2005. “Nossa função é disponibilizar o relatório para a comunidade em geral – Sanepar, Suderhsa, empreendimentos particulares”, conta.

Benefícios

Para Ernani Filho, a exploração da água subterrânea gera uma série de benefícios, inclusive do ponto de vista econômico. “Um poço com mil metros de profundidade custa cerca de R$ 1 milhão. Em um ano se paga este investimento, principalmente quando se trata de abastecimento público”, revela. “O custo da matéria-prima é zero”, salienta. O professor lembra ainda que a água subterrânea é mais saudável, não requer tratamento e ainda causa menos impacto ambiental do que a captação de água superficial.

“Cerca de 97% da água doce líquida no mundo é subterrânea, enquanto só 3% é superficial. Mesmo assim, o Brasil explora pouco a água subterrânea”, lamenta Ernani. Para ele, a questão é cultural. “Na Europa, 80% da água consumida é subterrânea. Na Áustria, por exemplo, o índice é de 100%, enquanto no Brasil, apenas 40%.” Ele cita ainda o exemplo do Uruguai, onde são explorados grandes empreendimentos turísticos que têm como atrativo a água térmica. No Paraná, o resort Termas de Jurema, em Campo Mourão, e o Aguativa, em Cornélio Procópio, são exemplos da exploração turística do Guarani.

Projeto reúne quatro países

A Sanepar participa do Projeto de Aproveitamento Sustentável e Proteção Ambiental do Aqüífero Guarani, que reúne o Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Coordenado pela Organização dos Estados Americanos (OEA), Fundo para o Meio ambiental Mundial (GEF), Banco Mundial e Agência Nacional de Águas (ANA), o projeto tem por objetivo apoiar os quatro países na elaboração e implementação de um modelo técnico legal e institucional para o gerenciamento e preservação do Aqüífero Guarani para as gerações atual e futuras.

A Sanepar, por meio da Unidade de Serviços de Hidrogeologia, USHG, está subsidiando a equipe de técnicos, entre eles, professores da Universidade Federal do Paraná. Já foram repassados os estudos desenvolvidos pela Companhia e a experiência acumulada na perfuração de mais de 50 poços no Guarani, além das necessidades para melhor aproveitamento desse manancial.

A expectativa da OEA e das demais instituições que financiam o projeto é, ao longo prazo, definir os mecanismos necessários para garantir o abastecimento sustentável de água potável para a população; água de alta qualidade para a indústria; abastecimento sustentável de água termal para turismo, indústria e municípios; e menores possibilidades de conflito devido ao uso das águas do Sistema Aqüífero Guarani nas zonas transfronteiriças.

A maior parte do Aqüífero Guarani está no Brasil. Ocupa área dos estados de Minas Gerais, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e avança pelo Uruguai. No Paraná ocupa 70% do território estadual.

Embora já detenha tecnologia para extrair a água que se encontra a mais de mil metros de profundidade, a Sanepar ainda não tem condições de aproveitar esse manancial em determinados pontos, em função da qualidade da água, que por estar a milhares de anos contida no Guarani, e em contato direto com a rocha, é enriquecida de sais e minerais. “É necessário um tratamento adequado para a remoção desses elementos, para então tornar essa água potável. No entanto, é fundamental ter um destino apropriado a esse rejeito”, explica o gerente de Hidrogeologia da Sanepar, João Horácio Pereira. (AEN)

ONG alerta para venda a multinacionais

O coordenador da organização não-governamental (ONG) Grito das Águas, Leonardo Moreli, alerta para a venda de áreas por onde passam o Aqüifero Guarani a multinacionais. Segundo ele, a Coca-Cola teria comprado “boa parte do chaco paraguaio” e a Nestlé teria “grandes áreas em Minas Gerais e Santa Catarina.” “Especula-se até que a Monsanto tem interesse em explorar a água depois dos transgênicos”, falou Moreli. A compra, segundo ele, estaria sendo realizada via Banco Mundial. Desde o último domingo, a ONG está promovendo em Araraquara (SP) evento onde está sendo discutido o valor social da água. “Agora é hora de alertar as autoridades para que os poços de água subterrânea não caiam nas mãos das multinacionais.”

Para o professor Ernani Rosa Filho, da UFPR, o alerta da ONG é ?infantilidade.? “Comprar o aqüífero é o mesmo que comprar todo o Sul do Brasil. E não há nada até hoje que mostre que as multinacionais estejam forçando a compra junto ao Banco Mundial”, refutou Ernani. (LS)

Sanepar ajudará CNBB na campanha do próximo ano

A Sanepar e a Diocese de Jacarezinho deram ontem o primeiro passo para um amplo trabalho de resgate do valor da água. A Campanha da Fraternidade, organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para o próximo ano, terá como tema Fraternidade e Água, com o lema Água, fonte de vida.

O assunto escolhido pela CNBB está sendo estudado há dois anos. Dom Fernando acredita que o trabalho de conscientização sobre a importância da água e da preservação ambiental, junto a cerca de 450 mil pessoas, que participam das 40 paróquias daquela diocese, será bastante favorecido pela participação da Sanepar. “Sem o conhecimento e apoio da Sanepar, a Campanha não atingiria seus objetivos”, afirmou ele.

Segundo dom Fernando, contar com profissionais especialistas no setor de água facilitará o direcionamento das ações para diminuir os problemas ambientais que atingem os recursos hídricos. O diagnóstico sobre a realidade de cada comunidade deverá direcionar ainda mais o esforço e culminar na viabilização de propostas concretas.

O material da campanha convida a uma reflexão de como a comunidade pode estar interagindo com o meio ambiente. “Haverá o momento de ver, julgar e agir”, garantiu dom Fernando. O lançamento da Campanha será no dia 25 de fevereiro de 2004. (AEN)

Guarani responde por 8,5% da água subterrânea no PR

Em 2002, a Sanepar retirou 100 milhões de metros cúbicos de água dos poços profundos, o que representou 17% do volume total de água produzida. O Aqüífero Guarani respondeu por 8,5% do volume. Ele atende atualmente a 19 cidades (cerca de 150 mil pessoas), especialmente do Norte Pioneiro – Cambará, Andirá, entre outras – e conta com 27 poços.

Segundo o geólogo João Horácio Pereira, gerente da área da hidrogeologia da Sanepar, há 800 poços de água subterrânea no Estado, distribuídos nos cinco principais aqüíferos: Caiuá, Serra Geral, Guarani, Karst e Paleozóico. Dos 342 municípios atendidos pela Sanepar, 277 têm poços profundos, sendo que 92 são abastecidos apenas com água subterrânea.

Atualmente, dois poços em Londrina estão em estudo piesométrico: um localizado na região sul, com 523 metros de profundidade e que deverá produzir 300 litros de água potável por segundo, e outro localizado na região norte, com 650 metros de profundidade e vazão de 200 litros por segundo. “Um dos dois deverá ser colocado em funcionamento”, avisa Pereira. (LS)

Área do aqüífero equivale ao território de três países

O Aqüífero Guarani é um reservatório de água subterrânea que ocupa um milhão e 200 mil km quadrados. Essa área é equivalente ao território da Inglaterra, França e Espanha juntas. Segundo a ANA, no Brasil o aqüífero ocupa 840.000 km quadrados, no Uruguai, 58.500 km quadrados; na Argentina, 355.000 km quadrados, e no Paraguai, 58.500 km.

O volume de água que poderia ser aproveitado é da ordem de 40 km³/ano, ou seja, 30 vezes superior à demanda por água de toda a população existente em sua área de ocorrência, cerca de 15 milhões de habitantes.

Em Ribeirão Preto, São Paulo, o Aqüífero Guarani é responsável pelo abastecimento de toda a população da cidade. Também naquele município está seu principal ponto de recarga, que é por onde a água da chuva entra no aqüífero.

Por isso, Ribeirão Preto e Salta, na Argentina, foram escolhidos pela OEA para a implantação de quatro projetos piloto. Os pontos de estudo nos outros países, Uruguai e Paraguai, ainda não foram definidos.

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