Mobilização

Futuro das ocupações em escolas do Paraná será decidido hoje

Um encontro decisivo entre estudantes que estão em escolas ocupadas em todo o Paraná acontece nesta quarta-feira (26). Além dos adolescentes, os pais, professores, Ministério Público e Defensoria Pública acompanham a assembleia que pode definir o futuro das ocupações. No Paraná, segundo o movimento Ocupa Paraná, mais de 850 escolas ocupadas pelos alunos.

A intenção da assembleia é definir o que vai ser feito nos próximos dias: a continuidade ou o fim das manifestações. As ocupações foram uma forma dos estudantes secundaristas protestarem contra a Medida Provisória (MP) que prevê alterações no currículo do ensino médio e à PEC 241, que delimita um teto para os gastos públicos, aprovada na noite desta terça (25) no plenário da Câmara dos Deputados.

Além dos estudantes da capital, participam da reunião alunos de várias regiões do Estado. Conforme o presidente da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes), disse que a assembleia seria dividida em dois momentos: pela manhã os representantes das ocupações mostrariam como estão suas escolas e à tarde as decisões todas seriam tomadas.

O empasse entre estudantes e o governo do Paraná continua, uma vez que de um lado os estudantes querem tentar chegar a um consenso e o governo quer a desocupação imediata. “De qualquer forma, a gente já considera o movimento das ocupações como vitorioso”, disse Matheus dos Santos. As decisões devem ser tomadas até mesmo se vão aceitar conversar com o governo do Paraná.

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Estudantes chegaram cedo para o credenciamento. Foto: Henry Milleo.

Futuro do Enem

Entre as principais decisões dos estudantes, está a desocupação ou não das 145 escolas do Paraná que são locais de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Caso as ocupações sejam mantidas, o movimento deve analisar como os alunos vão se organizar para evitar prejuízos aos alunos que vão fazer as provas.

O Enem se tornou pauta de discussão depois que, na semana passada, o ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM), declarou que as ocupações colocam em risco a realização do exame deste ano. O presidente da Upes afirmou que a declaração foi uma estratégia. “Uma forma de tentar desmobilizar e desestimular o movimento. Nenhum estudante será prejudicado, muito pelo contrário”, afirmou Matheus dos Santos.

Através de uma nota, o movimento Ocupa Paraná afirmou que “não hesitariam em suspender temporariamente as ocupações para que a prova acontecesse”, porém, nada está decidido. “Quem vai definir isso são os estudantes. Nós não podemos afirmar nada”, explicou Matheus.

Acompanhando de perto

Foto: Henry Milleo.
Defensor público também acompanha a assembleia. Foto: Henry Milleo.

A entrada de quem iria acompanhar a assembleia foi feita com rigor pelos próprios estudantes. Houve revista nas bolsas e mochilas para garantir que ninguém entrasse com materiais cortantes. Além disso, para que a assembleia pudesse ter validade, todos os participantes foram cadastrados.

A assembleia foi acompanhada não só pelos estudantes, que devem participar de forma direta, mas também pelos pais que estão ao lado dos jovens. De acordo com alguns pais, os estudantes estão corretos em protestar e se preocuparem com o que é melhor para eles.

Professores, como Oscar Delgado, que tem licenciatura em Filosofia e também é vice-prefeito de Santa Maria do Oeste, no Centro-sul do Paraná, também acompanharam os alunos. “Estou encantado com tamanha organização. Eles sabem que isso vai gerar prejuízo para o ensino médio e devem continuar lutando para servirem de exemplo para a sociedade”.

Vários representantes de órgãos públicos também permaneceram no local. “A nossa intenção é estarmos à disposição dos estudantes para o que for necessário. Mas também queremos reforçar a necessidade do diálogo para que se ache um meio termo para essa situação”, explicou Ricardo Menezes da Silva, da Defensoria Pública.

Já o Ministério Público do Paraná (MP-PR), através de Olympio de Sá Sotto Maior, da Promotoria de Direitos Humanos, a ideia é propor aos estudantes que descoupem as escolas, mas continuem com as manifestações. “Achamos que a manifestação dos estudantes é legítima, até por ser um direito constitucional, mas precisamos assegurar o funcionamento das escolas. Por isso defendemos que os alunos permitam que as escolas funcionem de forma regular”.

Estudante de universidade veio de Guarapuava para apoiar estudantes do ensino médio. Foto: Lineu Filho.
Estudante de universidade veio de Guarapuava para apoiar estudantes do ensino médio. Foto: Lineu Filho.

Apoio das universidades

A manifestação dos estudantes do ensino médio ganhou ainda o apoio das universidades, que também estão em greve. “Em Guarapuava, de onde viemos, temos bastante colégios ocupados. Além disso, também temos os nossos campus, da Unicentro, que estão em greve. Todos sabem que a unificação dos estudantes, professores e todos os envolvidos na educação, deve ser feita”, considerou Thiago Francisco Solak, representante da Unicentro.

Conforme o estudante, a PEC é ridícula: “Congelar os gastos com saúde, educação e funcionalismo público por 20 anos vai afetar demais. Todos nós precisamos de saúde, de educação, para termos uma qualidade de vida. Estamos juntos porque só temos forças se nos unirmos”.

Thiago contou que as universidades públicas estaduais têm sofrido com o sucateamento. “Nós esperamos sair da assembleia com um horizonte de movimento mais fortalecido. Também gostaríamos muito que o governo percebesse a importância da educação para o país, mas o que parece é que eles querem mesmo é o sucateamento”.

Movimento contrário

Enquanto a assembleia acontecia do lado de dentro do Colégio Estadual Loureiro Fernandes, movimentos populares contrários às ocupações se reuniam do lado de fora. Pelo menos dois grupos chegaram à assembleia: Mais Brasil e Curitiba Contra a Corrupção. Para os representantes, os estudantes não estão percebendo que estão sendo manipulados. A ideia dos grupos era fazer com que os estudantes não continuassem com a ocupação.

Morte na ocupação

Na segunda-feira (24), um estudante de 16 anos foi morto dentro de uma escola ocupada no bairro Santa Felicidade, em Curitiba. Este fato foi lamentado pelos representantes da Upes, mas disseram que foi um fato isolado. “O saldo das ocupações não é uma morte, o saldo das ocupações é o exercício da cidadania, da pluralidade, da diversidade e da luta dos estudantes. O centro do debate é esse”, disse Matheus dos Santos.

Os representantes da Defensoria Pública e do Ministério Público também lamentaram a morte. “Ficamos muito consternados com o que aconteceu, mas preferimos não comentar até o termino das investigações”, considerou Ricardo Menezes da Silva, da Defensoria Pública. Em contrapartida, O governador Beto Richa (PSDB) disse que as pessoas que forem identificadas como responsáveis pelo movimento de ocupação de escolas no Paraná também vão ser responsabilizadas pela morte do garoto.

A ocupação no Colégio Estadual Santa Felicidade teve início no dia 14 de outubro. Foto: Átila Alberti
A ocupação no Colégio Estadual Santa Felicidade teve início no dia 14 de outubro. Foto: Átila Alberti