Transporte coletivo

Botão do pânico nos ônibus foi acionado mil vezes por engano em 2017

Foto: Henry Milleo

Os constantes casos de violência no transporte coletivo durante o ano passado intensificaram o debate sobre soluções para a segurança de passageiros, motoristas e cobradores em Curitiba. Uma das soluções debatidas foi a melhoria nos “botões do pânico”, que já existem nos ônibus, terminais e estações tubo de Curitiba. Entretanto, dados consultados pela Gazeta do Povo, mostram que o uso do dispositivo como é hoje tem se provado ineficiente.

Em 2017, dos 1.147 acionamentos do dispositivo, 1.113 foram involuntários, causados por algum esbarrão acidental ou por falha no sistema. No ano passado, apenas em duas ocasiões o botão foi apertado em alguma situação real de emergência.

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Os números estão em um relatório encaminhado pela Urbs ao vereador Dr. Wolmir (PSC), que solicitou as informações para entender melhor o funcionamento do dispositivo, cogitando, inclusive, que haja botões também ao alcance dos passageiros.

Hoje o botão funciona da seguinte maneira: assim que o motorista ou cobrador aperta o botão, um alerta é recebido, de forma simultânea, pela empresa responsável pelo veículo e pela Urbs que, em conjunto, analisam a melhor forma de atender o chamado.

Discussão na Câmara

Os vereadores também entraram na discussão sobre a segurança nos ônibus e a Câmara Municipal promoveu uma audiência pública sobre o tema. Dois parlamentares apresentaram um projeto de lei que torna o “botão do pânico” um dispositivo obrigatório nos ônibus do transporte coletivo de Curitiba.

Na justificativa, os parlamentares Cristiano Santos (PV) e Dr. Wolmir (PSC) afirmam que um botão à disposição de motoristas e cobradores seria acionado em casos específicos e geraria um alerta para os órgãos públicos competentes. A ideia também é defendida pelo Setransp, o sindicato que representa as empresas de transporte.

Erros

O Setransp, porém, reconhece que “há uma quantidade inadmissível de apertos involuntários do botão do pânico”. Segundo o diretor-executivo do sindicato, Luiz Alberto Lenz César, esbarrões e panes são as principais causas de acionamento involuntário.

“O Setransp periodicamente convoca seus chefes de tráfego, apresenta os relatórios sobre o disparo involuntário e orienta seus colaboradores para que tenham mais atenção e cuidado durante as viagens”, diz.

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Segundo ele, no caso dos cobradores, o botão já foi realocado e as empresas já estão em contato com a Urbs para mudar a posição também para os motoristas. A Urbs confirma as tratativas.

“Para tentar diminuir os acionamentos involuntários, a Urbs estudará junto com o Setransp a reinstalação do botão do pânico numa outra posição, especialmente dentro dos ônibus. O dispositivo deve estar num local de fácil acesso, mas não próximo dos operadores a ponto de ser acionado com a simples movimentação ou distração”, diz, em nota, a empresa responsável pela gestão do transporte coletivo.

Sobre as falhas no sistema do botão, Lenz César defende a atualização do aparelho. “O botão precisa ser modernizado, pois hoje sofre muita interferência – umidade, água da lavagem dos ônibus, curtos circuitos – que causam um acionamento indevido”, avalia.

Defesa do dispositivo

Apesar da atual ineficiência do botão, as empresas seguem defendendo seu uso para garantir segurança aos passageiros e trabalhadores do transporte.

“A ideia do Setransp é conectar o botão do pânico diretamente com a polícia para que o atendimento seja mais rápido e menos pessoas corram qualquer tipo de risco. Sem dúvida, o grande número de acionamentos involuntários mostra que ainda é preciso evoluir antes que essa conexão seja feita. Mas a ideia é benéfica, só que o funcionamento precisa ser corrigido”, diz Lenz César.

Ele defende, entretanto, que a principal forma de diminuir os assaltos aos coletivos é o pagamento da tarifa com cartão transporte, reduzindo, dessa forma, o dinheiro em circulação.

A reportagem tentou entrar em contato com representantes do Sindicato de Motoristas e Cobradores, mas as ligações não foram atendidas.

Com a colaboração de Maria Scroccaro.