NEPOTISMO

Presidente do Sindimoc estaria empregando parentes na entidade, alguns a preço de ‘ouro‘

Foto: Marcelo Andrade.

Desvio de dinheiro não é a única denúncia contra o Sindimoc. O Ministério Público do Paraná (MP-PR) também recebeu denúncia de nepotismo. O que mais chama atenção é o escritório de advocacia que atende o sindicato, ao custo de aproximadamente R$ 130 mil mensais. Conforme testemunhas informaram ao Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), da Polícia Civil, ele pertence ao irmão do presidente Anderson Teixeira, Alcenir Teixeira.

Segundo um advogado que conversou com a Tribuna, mas pediu para se manter anônimo, o escritório é pago apenas para atender os trabalhadores e ainda ganha honorários à parte, quando dos atendimentos surge alguma demanda judicial. Um primo de Anderson, advogado, também seria funcionário do departamento jurídico do sindicato a um salário de R$ 5 mil mensais. Nas convenções coletivas, quem atua é o escritório do jurista Elias Mattar Assad que, segundo o advogado, recebe cerca de R$ 20 mil para atuar na negociação, mais honorários à parte por demandas específicas.

Já a lavanderia que lava as toalhas do salão de beleza do sindicato pertence à enteada de Anderson, num “contrato bem valorizado”, de acordo com uma testemunha ouvida pelo Nurce. A Tribuna soube por outras fontes que o custo seria de R$ 3 mil mensais para lavagem de aproximadamente 200 toalhas, ou seja, R$ 15 por unidade. Mas a reportagem encontrou o mesmo serviço por R$ 0,50 a R$ 0,65 a toalha em outra lavanderia da cidade.

Mais parentes

Uma das filhas do presidente estaria registrada como funcionária da entidade, com salário de R$ 1.300 por mês, sem nunca ter aparecido para o trabalho, conforme depoimentos prestados à polícia. Enquanto o primo do atual presidente, Guilherme Cristiano, estaria atuando no departamento de informática e com redes sociais, ao custo de R$ 5 mil mensais.

Foto: Arquivo.
Foto: Arquivo.

A cunhada Maristela Plazido foi contratada como chefe do Centro Integrado de Saúde Sindimoc (CISS) a um salário de R$ 7 mil. Mas, de acordo com o advogado denunciante, depois de saber que o Sindimoc estava sendo investigado pelo Nurce, e para não configurar contratação de parentes a altos salários, ela teria feito um acordo de demissão e voltado depois ao cargo, por um salário um pouco menor, de R$ 3.500. Mas, na prática, nunca teria se afastado das atividades.

Sem contar a esposa do presidente, Andrea Plazido Teixeira, que foi nomeada a um cargo comissionado na Secretaria do Governo Municipal, conforme consta no Portal da Transparência de Curitiba, a um salário bruto de R$ 1.555,98. Andrea foi admitida em abril deste ano e estaria atuando na regional Bairro Novo, aponta o advogado denunciante.

Até comida

Até mesmo desvios de produtos da lanchonete, em benefício dos familiares de Anderson, foram presenciados por funcionários da entidade, conforme testemunhas ouvidas pelo Nurce. Sem contar os registros de gastos de R$ 7 mil em boates e estacionamentos, além de que familiares do sindicalista estariam abastecendo seus carros com notas fiscais emitidas pelo sindicato, conforme os relatos à polícia.

Foto: Marcelo Andrade.
Foto: Marcelo Andrade.

“Falsas denúncias”, rebate Sindimoc

O Sindimoc rebate as denúncias que estão sendo investigadas pelo Nurce.

Confira, na íntegra, a nota enviada à Tribuna:

“As denúncias contidas no Inquérito 55322-2015 são falsas e têm cunho político. Foram feitas por pessoas derrotadas nas eleições sindicais de 2010 e 2014 e ligadas à antiga diretoria do Sindimoc, de 2010, a qual é alvo de ação penal impetrada pelo Ministério Público e acolhida pela 9ª Vara Criminal de Curitiba. Segundo investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) que embasa esta ação, entre 2006 e 2010 houve desvio de R$ 8 milhões dos cofres da entidade (Ação Penal 2011.0001201-0).

Lamentável que pessoas processadas judicialmente na esfera criminal por formação de quadrilha, peculato e falso testemunho ocupem, agora, o aparelho do estado com falsas denúncias, por mero interesse político.

O Sindimoc já prestou todas as informações solicitadas pelo Núcleo de Repreensão a Crimes Econômicos (Nurce), tais como as prestações de contas, balanços e balancetes contábeis de 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015, e seus diretores ingressarão com ação judicial individualmente contra todos os responsáveis por injúria, calúnia, difamação e denunciação caluniosa.

Ressaltamos que os autores das falsas denúncias não apresentaram uma prova sequer que embasasse suas acusações. Destacamos ainda o pleno conhecimento dos motoristas e cobradores sobre a falsidade do teor das denúncias de tal Inquérito, o que se evidencia por dois fatos emblemáticos: o alto grau de credibilidade do Sindimoc perante a categoria (que resulta em plena adesão a mobilizações e greves até então inexistentes nesse setor) e a esmagadora vitória eleitoral nos pleitos de 2010 e 2014, quando os denunciantes montaram três chapas e obtiveram 15% dos votos, contra 85% da atual gestão do Sindimoc, em eleições amplamente acompanhadas e fiscalizadas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).”