NA BRONCA

Novo binário em Curitiba ainda gera reclamação de comerciantes

Já faz mais de um mês que o binário das ruas Mateus Leme e Nilo Peçanha, que liga o São Lourenço ao Centro, passou a funcionar. Agora, quem vive na região afirma que os motoristas estão mais acostumados e que grandes congestionamentos não se formam com tanta rotina. Em contrapartida, o movimento no comércio diminuiu e tem gente já pensando que não vai aguentar manter as portas abertas.

Na loja de autopeças da família de Ricardo Pereira Lima de Oliveira, de 42 anos, o movimento caiu drasticamente. ‘Estamos aqui no mesmo ponto há 30 anos. Tínhamos certa frequência no atendimento e agora isso diminuiu mais do que a metade. O motivo principal, que percebemos, é a velocidade da via, que aumentou e agora as pessoas não conseguem parar‘, explicou.

Foto: Gerson Klaina.
Foto: Gerson Klaina.

Segundo o homem, com a implantação do binário, a faixa amarela dos dois lados da via fez com que os motoristas passassem um pouco do limite da velocidade, que varia de 30 a 60km/h. ‘Virou uma rápida e isso foi bom para o trânsito em si, mas para nós comerciantes e moradores, péssimo‘.

Na Rua Mateus Leme, encontrar comerciante revoltado com as mudanças que o binário provocou não é difícil. Da loja de autopeças aos restaurantes, todo mundo tem pelo menos uma reclamação. ‘Até o movimento do Correio caiu. Não que antes fosse uma correria intensa, mas agora as pessoas não conseguem mais nem estacionar, quem dirá entrar nos comércios‘, desabafou Paulo Alberto, de 62 anos.

Medo geral

O comerciante, que mantem uma papelaria há 21 anos, avaliou que o último mês foi tão ruim, que não sabe quanto tempo aguenta mais na região. ‘A gente acha que não aguentaremos mais um ano aqui. Mas vamos insistindo, temos que continuar, né?‘.

Foto: Gerson Klaina.
Foto: Gerson Klaina.

Carlos Lopes, de 36 anos, mantem uma pastelaria há quatro anos na região do binário. Ele avalia que, para o comércio, o maior problema tem sido a falta de estacionamento. ‘Conheço vários comerciantes e todos têm a mesma reclamação, independente do horário, os motoristas não conseguem mais parar tão fácil‘.

Além de trabalhar na região, Carlos também mora na Rua Mateus Leme e disse que, como morador, o exagero na velocidade tem sido um problema. ‘Os motoristas estão passando do limite e isso tem feito com que a gente desista de sair quando está em casa. Além disso, nosso bairro tem muito idoso e essas pessoas precisam de mais cuidado‘.

O medo de sair de casa, conforme avaliação de Carlos, faz até com que o fluxo do comercio seja menor, porque as pessoas circulam menos. ‘Tudo tem sido um circulo vicioso. Além disso, quem usa ônibus também sofreu com as mudanças. O pessoal já está até pensando em fazer protesto‘.

Foto: Gerson Klaina.
Foto: Gerson Klaina.

Revolta continua

Do outro lado, na Rua Nilo Peçanha, as reclamações são parecidas e tem comerciante muito revoltado. ‘O movimento diminuiu e, como se não bastasse, o trânsito ficou pior ainda. Já tiveram dois acidentes no mesmo cruzamento, tudo por falta de uma sinalização correta, além de que os motoristas estão mesmo exagerando na velocidade‘, desabafou o dono de uma panificadora, que preferiu não se identificar.

No sentido ao Centro de Curitiba, algumas lojas fecharam as portas e mudaram de endereço, pois os proprietários sentiram o problema logo no inicio. ‘Pagamos impostos, trabalhamos aqui há mais de 20 anos, e agora temos que passar por isso. É muita humilhação‘, criticou o homem.

Segundo os comerciantes, a promessa da prefeitura era a de que novas vagas de estacionamento seriam abertas, tanto na Rua Mateus Leme, como também na Nilo Peçanha. ‘Mas isso não aconteceu e nem vai ser feito, foi só promessa. Para o trânsito pode ter melhorado, mas para o comércio, a situação só piora a cada dia‘, considerou Ricardo Pereira.

Fase de adaptação

A prefeitura de Curitiba, através da assessoria de imprensa, informou que na Nilo Peçanha, continua sendo permitido parar à noite e nos finas de semana. No trecho em que a maior parte dos prédios é comércios, o estacionamento também é permitido. Já na Mateus Leme, as vagas não foram retiradas e os remansos, àquela espécie de recuo nas calçadas, continuam valendo.

Conforme a prefeitura, o comerciante que tenha interesse em fazer a solicitação de análise para a implantação de estacionamento em frente ao seu estabelecimento pode registrar o pedido pelo 156. Todos os pedidos são analisados por uma equipe técnica. Várias medidas estão no planejamento, para curto, médio e longo prazo, mas tudo ainda passa por fase de adaptação e avaliação.

Alterações nas vias

Sobre o excesso de velocidade, a Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) informou que vai começar a fiscalizar com radares estáticos no binário, nas próximas semanas. Além disso, outras medidas estão sendo estudadas para os pedestres e também para fazer com que os motoristas respeitem a sinalização. Para a implantação de outras medidas, a Setran explicou que aguarda o retorno do movimento normal de veículos, que ocorre a partir da quinzena de janeiro.

Além disso, a Setran também informou que, nos próximos dias, serão realizadas outras alterações na região com o objetivo de ampliar a segurança dos pedestres, como implantação de semáforo no cruzamento das ruas Nilo Peçanha com Orestes Beltrami; implantação de faixa de pedestres no cruzamento da Nilo Peçanha com Sen. Xavier da Silva; e alteração de geometria para ampliar calçada na Rua Mateus Leme com Rua Carlos Cornelsen (medida mitigadora do Hospital Onix).