Ataques sem trégua

Em média, oito assaltos são cometidos todos os dias contra ônibus e estações-tubo

Foto: Gerson Klaina

Percorrendo as estações-tubo de Curitiba, é difícil encontrar algum cobrador que nunca tenha sido assaltado. Os relatos vão de simples ações até o uso de armas de fogo. Alguns assaltantes mais audaciosos ainda usam o transporte público para chegar e ir embora das estações-tubo depois dos crimes. “Eles pagam apenas uma passagem e roubam quantos tubos quiserem”, desabafou um cobrador, que não se identificou.

De janeiro a setembro deste ano, os números de assaltos aumentaram 1,84%, em relação ao mesmo período de 2015. Conforme dados do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), em 2016 já foram 2.322 – contra 2.280 em igual período do ano passado. A média deste ano é de oito assaltos por dia.

Desde 2014, a estação-tubo que mais registra assaltos é a Coronel Luiz dos Santos, no Hauer. Neste ano, de janeiro a setembro, foram 321 ações de bandidos em ambos os sentidos (Centro e bairro). “Aqui já batemos recorde. A gente já nem contabiliza mais, porque são muitos os roubos”, confirmou um cobrador.

Para tentar diminuir prejuízo, cobradores ficam apenas com quantias essenciais para os trocos. Foto: Gerson Klaina
Para tentar diminuir prejuízo, cobradores ficam apenas com quantias essenciais para os trocos. Foto: Gerson Klaina

Há três meses na profissão, o trabalhador nunca foi assaltado, mas está atualizado dos números e da forma de agir dos bandidos. “Sabem nossos horários, sabem quais os momentos de maior movimento de dinheiro e agem da mesma forma. Só neste ano, no mesmo período de janeiro até setembro, foram R$ 190 mil em prejuízo por causa dos roubos”, comentou.

Na tentativa de diminuir o número de abordagens, o dinheiro agora é repassado em mais vezes ao dia e os cobradores ficam apenas com quantias essenciais para os trocos. “A gente às vezes sofre com os passageiros, por não termos tanto troco, mas isso refletiu na queda dos assaltos”.

Audaciosos

Quem costuma assaltar as estações-tubo são, geralmente, “figuras carimbadas”. Embora os profissionais não possam fazer nada para impedir as ações, alguns tentam da sua maneira afastar os bandidos. “Não estou nem aí. Vou pra cima mesmo. Se eu vejo que posso enfrentar, enfrento. E a minha colega também é assim”, relatou uma cobradora que trabalha no tubo Viaduto Capanema, no Cristo Rei.

Segundo a cobradora, que também pediu para não ser identificada, as ações por ali têm se tornado rotina porque os bandidos se acostumaram. “Eles sabem os horários. E escolhem as mulheres no período do começo da manhã, sabem que somos alvos mais fáceis. Dias atrás, por exemplo, quatro rapazes chegaram, pegaram uma cobradora, colega minha, e levaram tudo. Pediram o dinheiro, ela deu, mas fugiram até com o celular”, desabafou.

Estação-tubo Viaduto Capanema, no Cristo Rei, é uma da preferidas dos marginais. Foto: Gerson Klaina
A estação-tubo Viaduto Capanema, no Cristo Rei, é uma da preferidas pelos marginais. Foto: Gerson Klaina

Na estação-tubo campeã de assaltos, no Hauer, os bandidos são ainda mais audaciosos para os roubos. “Eles chegam de ônibus mesmo. Não dão a mínima. Pegam o que querem e ainda esperam outro ônibus passar para seguirem caminho. Já soubemos de caso que roubaram um tubo, pararam em outro e assaltaram também. Sabem que nada vai acontecer e que a gente não pode reagir”, contou um cobrador.

Praticamente da mesma forma acontece no tubo do Cristo Rei, mas lá os bandidos apenas voltam do “serviço” no final do dia. “Descem vários aqui. Tem vez que aproveitam e nos assaltam, mas como sabem que estamos preparadas e vamos pra cima, eles têm desviado”, observou a cobradora.

Perigo a bordo

Os números do Setransp também mostram que, no mesmo período comparado, os assaltos aos ônibus de linha também preocupam. Com 35 assaltos de janeiro a setembro, a linha Osternack/Sitio Cercado só perde para a linha Trabalhador, que registrou 46 roubos. “A gente lá em casa sempre soube que a nossa linha (do Sítio Cercado), é perigosa. Todo dia tem pelo menos um comentário de cobrador que foi assaltado nessa região”, disse Elaina Gonçalves de Deus, 50.

Elaina usa todos os dias linha Osternack/Sitio Cercado, uma das mais assaltadas. Foto: Gerson Klaina
Elaina usa todos os dias linha Osternack/Sitio Cercado, uma das mais assaltadas. Foto: Gerson Klaina

A mulher, que esperava o ônibus no ponto final, disse que nunca foi assaltada, mas outras pessoas da família não escaparam. “Dentro do ônibus, os bandidos levaram tudo da minha nora, a bolsa toda, mas antes fizeram a limpa também no cobrador”.

Assustado ouvindo o depoimento de Elaina estava João Victor, 19. “Eu não sabia que era tão perigoso aqui. Pego ônibus duas vezes por semana e, agora, sabendo disso, vou tomar mais cuidado”, comentou o rapaz, que disse já ter sido assaltado na rua, mas não esperando ônibus ou dentro dos coletivos. “No mínimo preocupante, né?”.

Tentando melhorar a situação

Depois de se assustarem com os números, representantes das empresas de ônibus e o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), resolveram tomar uma atitude. Isso porque, nos primeiros 10 dias de outubro, somente na região Sul de Curitiba, que é de responsabilidade da Viação Cidade Sorriso, foram registrados 29 assaltos, contra 39 em setembro inteiro.

Na manhã de ontem, uma reunião foi feita com o Comando Geral da Polícia Militar para pedir por mais patrulhamentos e policiamento preventivo, principalmente nessas regiões onde mais ocorrem assaltos.

“Sabemos que, devido ao baixo efetivo da PM, a corporação não consegue fazer um policiamento mais ostensivo, mais eficaz, mas precisamos desse apoio”, disse o presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira.
Durante a reunião, conforme o presidente do sindicato, a PM se comprometeu a montar um planejamento para atuar nos pontos que foram reivindicados.

“O nosso maior problema hoje é a região dos bairros Umbará e Tatuquara, onde houve o aumento. Precisamos fazer com que a simples presença de um policial por perto, nessas regiões, iniba os assaltantes”.

A PM informou que ouviu as reivindicações dos representantes das empresas de ônibus e do Sindimoc e espera que eles repassem um relatório dos crimes, com dia, horário e locais, para ter um mapeamento. “O patrulhamento já tem sido feito nas proximidades de estações-tubo, terminais e operações esporádicas para arrastões em linhas de ônibus”, diz, em nota.

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Câmeras, cartão e comunicação

Conforme a Urbanização de Curitiba (Urbs), foram instaladas câmeras em todos os terminais de ônibus e estações-tubo. Em alguns locais, por conta de vandalismo, câmeras foram retiradas, mas devem ser recolocadas.

Além disso, a Urbs adotou a medida confirmada pelos cobradores entrevistados pela Tribuna, que é o recolhimento do dinheiro em mais vezes ao dia. Os valores maiores têm sido colocados em um cofre para evitar assaltos. O incentivo ao uso do cartão de transporte também é uma das metas da empresa. Desde 2014, a adesão dos usuários passou de 50 para 60%.

Como medida de segurança, a Urbs informou que os ônibus todos possuem um sistema de comunicação com as garagens e o Centro de Controle Operacional (CCO). Se preciso, são acionadas as forças de segurança, pois um guarda municipal faz o acompanhamento do sistema.

Já a Guarda Municipal informou que realiza rotineiramente operações de segurança em ônibus, estações-tubo e terminais de embarque para prevenir e coibir a prática de crimes. “Quando necessário, a Guarda encaminha o suspeito ou criminoso detido em flagrante à delegacia da Polícia Civil para registro do boletim de ocorrência”, explica a nota. Na revista, os agentes buscam armas, drogas e substâncias ilícitas. Em caso de emergência ou risco, a orientação é ligar para 156, da prefeitura, 153, da Guarda Municipal, e 190, da Polícia Militar.