Polêmica

Deputado diz que ataque ao acampamento pró-Lula foi “represália” a carro apedrejado

Foto: Divulgação

O deputado estadual do Paraná, Ricardo Arruda, do PSL, postou um vídeo nas redes sociais no qual afirma que os disparos contra o acampamento pró-Lula, na madrugada de sábado (27), não foram um atentado e sim uma represália. No vídeo, um rapaz conta que o atirador teve o carro apedrejado por dois seguranças do acampamento e, por isso, voltou armado e efetuou os disparos.

Na contramão do que foi dito por Arruda, o presidente do Partido dos Trabalhadores do Paraná (PT), Dr. Rosinha, afirma que o que aconteceu no acampamento foi um ato terrorista. O militante Jefferson Lima de Menezes, 38 anos, que foi baleado no pescoço enquanto estava no acampamento, continua internado no Hospital do Trabalhador (HT).

No vídeo divulgado pelo deputado Arruda nas redes sociais, um rapaz em uma sala de aula conta sua versão. “Apedrejaram o carro,  ficou inteiro destruído, o cara ficou bravo, falou que ia voltar para matar todo mundo. Voltou e descarregou dois pentes”, diz o jovem.

Logo depois, o deputado afirma que o homem que atirou também sofreu uma tentativa de homicídio. “Ninguém aprova essa atitude, ninguém quer ver ninguém dando tiro em ninguém, mas o cidadão de bem não aguenta mais ser atacado e reprimido por essa cambada de vagabundos que se alojou naquele local”, disse Ricardo Arruda, culpando a senadora Gleisi Hoffmann (PT). “Ela que teve a coragem de trazer esse tipo de gente para Curitiba, tirando o sossego, a tranquilidade dos moradores, que nada têm a ver com o bandido do Lula”.

Veja o vídeo:

Ato terrorista

Para o presidente do PT no Paraná, o que aconteceu não pode ser considerado como uma represália. À Tribuna do Paraná, Dr. Rosinha afirmou que, desde o dia que Lula foi trazido à Curitiba, os manifestantes favoráveis ao ex-presidente têm sido hostilizados. “Todos os dias passam gente xingando, nos agredindo verbalmente, tanto que já tivemos um primeiro registro de agressão no outro acampamento”.

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Segundo o político, que está direto no acampamento, não só os manifestantes, mas todos os envolvidos com os atos pró-Lula têm sido testemunhas do que vem acontecendo. “Sofremos agressão todos os dias, não só verbal, mas também de gente que joga pedra no acampamento, as pessoas passam e jogam de dentro dos carros. Agora, se alguém jogou pedra num carro por acaso, nada mais foi como revide”.

Para Dr Rosinha, a polícia tem que considerar o crime como um atentado terrorista. “Porque é essa a definição mais correta: quando uma pessoa armada atira num coletivo de pessoas civis de maneira descontrolada. Foi o que aconteceu e o estado do Paraná tem que tratar como um ato terrorista. Além disso, este comportamento do deputado Ricardo Arruda é um comportamento de alguém que defende atos terroristas”, considerou.

O que diz a polícia?

A Tribuna do Paraná apurou, com fontes ligadas à Polícia Civil, que o que foi dito no vídeo é uma das linhas de investigação sobre o crime. Apesar disso, por enquanto a Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná (Sesp-PR) não se posicionou oficialmente sobre o que já foi apurado nas investigações da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

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Neste sábado, dois vídeos, de câmeras de segurança, foram divulgados pela Polícia Civil. As imagens registraram o momento em que o autor dos disparos chega caminhando ao acampamento. Depois, ele foi filmado atirando antes de fugir.

De acordo com o delegado Fábio Amaro, que comanda a DHPP e está à frente das investigações, o suspeito chegou em um carro preto. O modelo do carro não foi informado, mas testemunhas teriam dito que era um veículo sedan. Peritos da Polícia Científica recolheram, na madrugada do ocorrido, seis estojos de calibre 9 milímetros e voltaram, à tarde, ao acampamento para novas diligências.

Ao longo da tarde de sábado, o delegado ouviu o depoimento de quatro pessoas, entre elas um morador da região, duas testemunhas e a mulher que estava no banheiro e foi ferida por estilhaços. O portal G1 Paraná noticiou que uma das testemunhas ouvidas, um educador social que disse estar ao lado de Jeferson, contou que um motorista passou pelo acampamento em um carro sedan, xingou os manifestantes e gritou apoio a um candidato à presidência. O homem também disse que, nesse momento, os acampados reagiram soltando fogos de artifício e alguns jogaram pedras contra o veículo, que foi atingido na lateral.

Conforme o depoimento, no momento em que o carro foi atingido, o homem parou e gritou que voltaria para matar as pessoas que estavam ali. Menos de 20 minutos depois, um homem chegou a pé, gritou “perdeu” e atirou várias vezes. Apesar disso, a testemunha não soube dizer se era o mesmo homem que tinha se envolvido na primeira confusão e teve o carro apedrejado.

Militante internado

Reprodução/Facebook
Jefferson está se recuperando bem. Foto: Reprodução/Facebook.

Jefferson continua internado no Hospital do Trabalhador e seu estado de saúde, que antes era instável, passou para estável e a tendência é de que melhore. O presidente do PT do Paraná explicou que, por segurança, o acesso ao militante ficou restrito à família. “Mas estive no hospital e o que foi me dito é que o estado dele era de boa reação. Quando se recuperar, ele vai ser uma pessoa importante para ajudar nas investigações contando o que aconteceu”.

Segundo o último boletim médico divulgado pelo HT, às 17h deste domingo (28), o paciente continua estável, com sedação leve, e não está mais entubado. Depois de ser internado, ele passou por vários exames laboratoriais e todos continuam sem alterações. O hospital informou que Jefferson já foi liberado até para receber visitas, que foram liberadas de duas em duas.

Segurança reforçada

Depois do ataque, representantes do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR) se reuniram com as forças de segurança e pediram mais atenção à situação dos manifestantes. Na reunião, três pontos principais ficaram definidos: que a segurança seria reforçada, que as investigações seriam feitas de forma mais rápida e que o policiamento será aumentado na próxima terça-feira (1), dia que vai ser comemorado o Dia do Trabalhador.

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