Londrina, o laboratório do mensalão

  Arquivo / O Estado
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José Janene: ex-sócio quer contar tudo
e detonar o deputado paranaense.

Brasília – O advogado Eduardo Alonso de Oliveira, 45 anos, um ex-sócio da estreita confiança do deputado federal José Janene (PP-PR) conta uma boa parte do que sabe para a revista Isto É desta semana. O esquema do mensalão começou a ser colocado em prática em Londrina, na administração do ex-prefeito Antônio Belinati. E o seu mentor foi José Janene.

O deputado federal José Janene, apontado pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) como operador do mensalão no Congresso foi com o seu ex-sócio, Eduardo Alonso, indiciado no escândalo que levou à cassação do ex-prefeito de Londrina, Antônio Belinati. O pior não é isso. O pior para Janene é que Alonso quer contar tudo o que sabe para o Ministério Público e para o Congresso Nacional.

E Alonso sabe de muita coisa porque foi coordenador das campanhas de Janene a deputado federal e diretor da empresa de ônibus que o líder do PP possui em Ji-Paraná (RO). O ex-sócio promete destroçar o último pilar de segurança que sustenta o parlamentar. Embora José Janene se considere imune às CPIs que proliferam em Brasília, as revelações que Alonso faz ajudam a explicar como o deputado saiu do limbo do PP malufista para a glória iluminada do PT de Lula.

Para a revista Isto É Alonso adianta que José Janene montou em Londrina a versão original do mensalão. Ele atiça a curiosidade dos integrantes das CPIs em Brasília, ao relatar a incrível história de uma frustrada viagem de três dias a Miami, com um bebê de três meses, para sacar US$ 1 milhão da conta de Janene. Alonso não economiza infrormações. Ao ser indagado sobre o idealizador do mensalão, ele responde: "posso garantir que, no PP, quem opera, quem libera, quem manda e quem vale ali dentro é o Janene". E que Janene sempre teve "este hábito de bancar político". Sobre o mensalão em Londrina, ele diz que "havia uma conversa muito forte". E conta que "logo que o Antônio Belinatti assumiu a prefeitura em 1997, fez um acordo com os vereadores para ter o domínio da bancada. Ele teria um número X de cargos para cada vereador. Como o Ministério Público foi para cima e exigiu demissão de todo mundo, o Janene assumiu o compromisso de controlar a bancada de vereadores. E Janene criou o mecanismo de compensação financeira". Que se chamava mensalão.

Alonso conta que quando o dinheiro não chegava, acontecia de um ou outro vereador ligar, xingando, brabo para reclamar: "O Zé (Janene) ficou de mandar e não mandou." Em Londrina o mensalão "era o equivalente a mais um salário de vereador. Ganhavam R$ 5 mil de proventos e outros R$ 5 mil por fora". Naquele tempo, Janene era deputado federal e presidente do PP do Paraná, enquanto Alonso era presidente do diretório municipal. "A gente tinha intimidade maior com um ou outro vereador e alguns pediam: "Fala com teu pai, aí, tô precisando." O número era o suficiente para dar a maioria ao prefeito. Não sei se eram dez ou 11 dos 21 vereadores", diz ele. O dinheiro "era pago em envelopes da própria Câmara Municipal. Pelo que falavam, era grana viva". O curioso é que o próprio Alonso admite que "não precisava disso. Afinal, existiam vereadores que eram ligadíssimos ao Belinati, sem mensalão".

Alonso não sabe explicar a origem do dinheiro para o mensalão em Londrina. "Só o Belinati e o Janene podem responder isso. Talvez nem o Belinati saiba de onde vinha. Isso mostra também o poder do Janene sobre o Belinati. Não era a Câmara do prefeito, era a Câmara do Janene", conta o ex-sócio. E esta situação não foi até o fim do mandato porque como o próprio advogado afirma, houve "intervenção violenta do Ministério Público, num caso de corrupção que virou escândalo nacional, ele (Belinati) acabou cassado".

Sobre a semelhança do mensalão de Londrina com o de Brasília, Alonso diz: "Tudo o que acontece hoje em Brasília tem semelhanças com o que aconteceu em Londrina. Veja a questão do publicitário Marcos Valério, que fez empréstimo para o PT nacional. O prefeito de Londrina estava devendo dinheiro de campanha em bancos e também chamou um publicitário, Waurides Brevilheri Jr, que assumiu este encargo no Banestado para poder justificar o caixa. Waurides recusou e denunciou ao MP, dois anos depois. O secretário municipal da Fazenda e o diretor do Sercomtel eram os contratantes da operação. Waurides diz que foi chamado à prefeitura e o gerente do Banestado já estava lá, com todos os contratos prontos, tudo em nome da empresa dele, tudo certinho, com empréstimo em favor de sua agência, Metrópole, e em nome dos dois secretários. Eles rasgariam os títulos em nome dos secretários e substituiriam pelos títulos da agência. O plano era usar o dinheiro na campanha. Igualzinho ao que fizeram em Brasília. Quando a gente vê na tevê, a gente lembra tudo, parece um remake", diz Alonso. 

Viagem para sacar dólares em Miami

São Paulo – Nem o sofisticado esquema de segurança dos Estados Unidos resistiu ao charme de Janene. Ele arrancou visto para Miami para cinco pessoas uma delas um bebê que não passaram perto do consulado. Tudo isto para fazer um saque de US$ 6 milhões, que acabou frustrado. Alonso conta: "Em 1998, trabalhei na campanha que reelegeu Janene deputado federal. Ele ficou tão feliz que me deu de presente a caminhonete Ford Explorer que usou na campanha. Ele foi o segundo mais votado no Paraná, só atrás do Rafael Greca (PFL). E ofereceu uma viagem a Miami à minha esposa, à esposa dele (Stael Fernanda) e a outra amiga (Favanah Gusso)". Alonso continua: "Um dia depois do desembarque em Miami, Stael Fernanda disse que não tinham dinheiro, que o Janene tinha feito uma remessa no nome de minha mulher, para ser recebida numa casa de câmbio. "Não tem problema", disse ela. "Quanto é que vou sacar?" A mulher do Janene respondeu: "US$ 1 milhão."

Resposta

Ainda ontem o deputado José Janene rebateu as acusações do advogado Eduardo Alonso de Oliveira. Em nota distribuída à imprensa, Janene acusa a publicação de irresponsável e afirma que Oliveira nunca foi seu sócio. Leia a nota na íntegra: "Eu, deputado José Janene, líder do Partido Progressista na Câmara venho esclarecer sobre a matéria publicada na Revista Isto É edição deste fim de semana (27/08):

1.Eduardo Alonso de Oliveira, autor das declarações publicadas de forma irresponsável pela revista, nunca foi meu sócio. Trata-se de um desafeto, ex-gerente da empresa de ônibus citada de JI-Paraná, que comprou a empresa, não pagou e moveu uma ação trabalhista enorme em 1994 contra mim, para justificar o não pagamento.

2.Eduardo Alonso de Oliveira, fonte da matéria irresponsável da Revista Isto É, responde a mais de dez ações criminais. Portanto, a entrevista não merece mais nenhum tipo de comentário da minha parte.

3.Com relação à Revista Isto É, informo que já estou movendo ação indenizatória contra a mesma, em função de outras reportagens tendenciosas, e esta reportagem será alvo de mais uma ação contra a revista. Dep. José Janene. Líder do Partido Progressista na Câmara."

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