CPI dos Correios instalada no Congresso

Ricardo Stuckert / ABr

Presidente Lula na inauguração da plataforma P-47, da Petrobras.

Brasília – O Congresso instalou ontem, pouco antes das 17h, a CPI mista para apurar as denúncias de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Coube ao senador Jefferson Peres (PDT-AM), o mais velho, anunciar a instalação da CPI. O impasse entre governo e oposição pelo comando da comissão levou à suspensão da sessão por uma hora.

O governo insistiu em indicar o líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), para a presidência e o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) para a relatoria, mas a oposição manteve a indicação do senador Cesar Borges (PFL-BA) para relator. A oposição argumentou que o governo não pode ficar com a presidência, a relatoria e a maioria dos membros da CPI. Sem acordo, o presidente em exercício do Senado, Jefferson Peres (PDT-AM), suspendeu a sessão por uma hora para que os partidos busquem um acordo e alertou: "Se essa CPI desandar no nascedouro, vai ser péssimo para o Congresso Nacional", disse Jeferson Peres, a quem cabe instalar CPIs mistas por ser o senador mais velho.

Na reunião da CPI, o senador José Agripino (PFL-RN) disse que a oposição aceita indicar o presidente ou o relator da comissão, mas desde que faça esta indicação com liberdade. Se as lideranças do governo insistirem em forçar a nomeação do presidente e do relator, disse Agripino, a oposição vai propor uma CPI apenas do Senado.

Já o líder do governo no Senado, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), afirmou que o funcionário dos Correios Maurício Marinho, flagrado numa gravação de vídeo recebendo propina, trabalha na empresa há muitos anos e que, por isso, a corrupção denunciada deve ter começado há mais tempo do que os dois anos e meio do governo Lula. Por esta razão, disse Mercadante, não deverá haver limite no tempo para se realizarem as investigações.

Oposição e governo têm até terça-feira para consenso sobre presidência e relatoria da CPI.

Reforma

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, defendeu a realização da reforma política para o fortalecimento da democracia e o combate à corrupção no país. "Nenhuma democracia funciona bem sem partidos fortes e independentes, ou sem mecanismos que controlem a influência do poder econômico sobre o processo eleitoral", afirmou o ministro, durante seu discurso ao 4.º Fórum Global de Combate à Corrupção, em Brasília.

Anteontem, o presidente Lula determinou a criação de um grupo formado por três ministros: Aldo Rebelo (Coordenação Política), Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e Jacques Wagner (do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), que será coordenado por Thomaz Bastos. O grupo tem 45 dias para discutir fortalecimento dos partidos, aperfeiçoamento das regras do sistema eleitoral e financiamento público de campanha. 

Lula se reúne com Renan e Severino

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu ontem à noite no Palácio do Planalto com os presidentes da Câmara, Severino Cavalcanti, e do Senado, Renan Calheiros. Oficialmente, no encontro eles discutiram a agenda do Congresso e a proposta de acelerar a reforma política, mas certamente falaram sobre a crise política provocada pelas denúncias de pagamento de mesada na Câmara e de corrupção nos Correios.

Horas antes Lula esteve no Rio de Janeiro inaugurando uma plataforma da Petrobras (P-47),onde evitou falar sobre política, mas demonstrou grande cansaço. Anteontem o presidente tentou estimular uma agenda positiva, pedindo ao Congresso para acelerar a reforma política.

PFL quer MP investigando Delúbio Soares

Brasília – Após reunião da Executiva do PFL, o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, e o presidente do partido, Jorge Bornhausen, anunciaram ontem que vão apresentar uma notícia-crime na Procuradoria Regional da 1.ª Região, em Brasília, contra o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para apurar as denúncias feitas pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, de que Delúbio pagava mesadas a parlamentares do PP e do PL para votarem com o governo no Congresso. O PFL também vai pedir proteção de vida para Jefferson.

O partido vai propor a autoconvocação do Congresso em julho para que as investigações não sejam prejudicadas e reiterou que não aceita que os governistas fiquem com a relatoria e a presidência da CPI dos Correios. Os pefelistas estão brigando para ficar com a relatoria da CPI.

O PFL também não aceita que o depoimento de Jefferson à Corregedoria seja sigiloso. Cesar Maia disse ainda que foi notificado pela Corregedoria da Câmara por causa da entrevista em que disse ter ouvido falar na existência do mensalão e informou que já encaminhou aos membros da comissão de sindicância recortes de jornais com notícias que falavam do mensalão antes de ele falar do assunto. Cesar Maia disse ainda que, se for convocado, vai depor na CPI.

Corrupção

O líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), afirmou ontem que o PT ficou "tão eficiente na coleta de dinheiro" que começou a repassar para os aliados. Segundo o parlamentar, a corrupção no Brasil agora é no atacado. "Onde já se viu mesada para deputados? Isso é grave! A tese do PT é a seguinte: se alguém fez algo de errado no passado, nós também podemos fazer", disse.

De acordo com o líder da minoria, a CPI que vai investigar denúncias de irregularidades e corrupção envolvendo agentes públicos e parlamentares do Congresso pode ampliar dúvidas sobre o governo. Ao comentar a entrevista concedida pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, Aleluia disse que a ação do presidente Lula no combate à corrupção, que considerou tímida, diminui a credibilidade do governo e compromete a reeleição do presidente.

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