Briga de galo é negócio. E vale R$ 500 milhões

Rio  –Sem se importarem com a Lei de Crimes Ambientais, que classifica a manutenção de rinhas de galo como um “ato de abuso e maus-tratos aos animais”, os adeptos desse tipo de diversão defendem a violência contra as aves de olho num negócio que, segundo eles, pode movimentar anualmente mais de R$ 500 milhões em apostas no país.

 Eles têm até uma entidade de classe: a Associação Brasileira dos Criadores de Aves de Combate. E afirmam que a atividade gera 150 mil empregos diretos e indiretos de norte a sul do país. Para se ter uma idéia do montante de dinheiro circulando no meio, agentes federais calculam que o valor total das apostas numa rinha estourada pela PF em Jacarepaguá chegou a R$ 1,7 milhão só na quinta-feira, quando ocorreu a operação que resultou na prisão de 200 pessoas, entre elas o publicitário Duda Mendonça e o vereador Jorge Babu (PT).

Ainda segundo a PF, havia apostas com cheques no valor de até R$ 28 mil. De acordo com o empresário Eudes Carneiro, de 51 anos, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Aves de Combate e fundador do Clube Privê Cinco Estrelas, onde aconteceu a operação, alguns galos campeões (cujo valor chega a R$ 50 mil) podem ser exportados para países como Cuba, Espanha, Porto Rico e República Dominicana, onde as rinhas não são reprimidas.

“Na República Dominicana, por exemplo, eles organizam todo os anos, com o apoio do governo, o Mundial de Combate e Exibição de Galos Brigadores. O evento é considerado a Copa do Mundo dos galos de briga e tem a participação de aves de 25 países. Lá, não há preconceito algum”, diz Eudes, que foi uma das 200 pessoas detidas pela PF em Jacarepaguá.

Segundo o empresário, a associação que preside tem cerca de 44 mil filiados no Brasil. “É gente que freqüenta os eventos e aposta”, diz Eudes, considerado pelos colegas um dos maiores exportadores de galos de briga do país. Ele conta que os eventos são realizados em todos os estados, “como os rodeios”. A temporada vai de março ao início de dezembro. De dezembro a fevereiro os animais estão na muda. Portanto, não estão aptos para a competição. Os eventos, segundo Eudes, são freqüentados por profissionais de todas as áreas e com dinheiro para gastar: “Há médicos, fazendeiros, empresários, advogados e políticos, gente de bem. É um evento bem família”, afirma.

As raças utilizadas nas rinhas brasileiras são fruto do cruzamento de galos indianos, japoneses e cubanos, e os animais não servem para o abate. “Se nós não pudermos criar nossos bichinhos, vamos ter que exterminar as raças, pois eles não servem para mais nada, são agressivos por natureza e têm a carne muito dura”, argumenta o fazendeiro Artur Ribeiro da Silva, que há cinco anos traz seus galos de Vitória da Conquista, na Bahia, para participar do evento que foi interrompido pela PF.

Galos brigam e homens são presos

Galos brigam no Paraná e vez e outra seus donos vão para a cadeia. Há uma semana a polícia baixou no CTG Índio Bandeira, em Campo Mourão, e prendeu cerca de cem pessoas em um campeonato nacional de apostadores e criadores de galos de briga. Esta foi uma operação no atacado. Mas no varejo as prisões também acontecem.

No final de setembro dois irmãos foram para a Delegacia do Meio Ambiente, em Curitiba, por maus-tratos a animais. A expressão esconde a verdadeira atividade dos dois: eles foram pegos com 26 galos de briga. Os animais eram treinados para competições. A apreensão foi no quintal de uma casa na rua Vicente Geronasso, no Boa Vista.

Na casa dos dois foram encontrados vários apetrechos, como estimulantes para galo, biqueira e espora de aço e elásticos para fortalecer a musculatura do animais. O superintendente Peter Otávio Costa afirmou que não é um caso isolado. “Suspeitamos de um local onde tem briga de galos e vários criadores se reúnem. Se apanharmos em flagrante todos serão autuados por formação de quadrilha”, disse.

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