Professor usa música para ensinar literatura

O professor de História Alexandre Santana, de 32 anos, desenvolveu um método para atrair o interesse dos alunos de Ensino Médio para a literatura brasileira, especialmente os que pretendem fazer o vestibular. Santana pegou o violão e de olho nos personagens dos livros foi criando canções que levam o estudante para o interior da obra literária. “Eu procuro analisar o perfil psicológico do personagem, explorar o contexto histórico, trabalho com enredo”, diz ele.

O objetivo de Santana é aproximar estudante da obra. “A música serve de apresentação dos personagens principais, um prelúdio da obra, como fosse um hiperlink. Não pretendo substituir a obra, mas apresentá-la”, diz. Segundo ele esta é uma maneira de dialogar com um futuro leitor. Ele faz a comparação de seu trabalho com a adaptação de uma obra literária para um filme. “A mesma coisa acontece com a música. Convida o leitor a conferir a obra original. E aí ele vai ver que ela é mais rica”, diz.

O foco do professor de História é a lista de obras literárias apresentadas pela Universidade Federal do Paraná aos candidatos de seus concursos vestibulares. Este foco tem uma explicação. Santana ainda como professor de História da Escola Professora Abigail dos Santos, no Balneário Riviera, em Matinhos, desenvolveu em 2007 a pedido da UFPR-Litoral um trabalho de popularização das obras literárias que iam cair no vestibular daquele ano.

A princípio seriam musicadas apenas duas obras literárias – Dom Casmurro, de Machado de Assiste, e Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector. Mas ele se animou e musicou todas as dez obras, entre elas O Santo e a Porca (Ariano Suassuna), São Bernardo (Graciliano Ramos) e Leão de Chácara (João Antônio). Uma curiosidade do repertório é que nele não há um autor paranaense. Santana alega que desde 2007 não encontrou um autor paranaense na lista dos autores abordados nos vestibulares da Federal.

De qualquer forma, o trabalho evoluiu, abrindo para o professor as portas de um mestrado na UFPr (em fase de conclusão) e aprovação de seu projeto em terceiro lugar na Lei do Mecenato Subsidiado de Curitiba, que prevê a gravação de um CD com as obras musicadas (ou com as músicas feitas com base em obras literárias). O professor, que já musicou 30 obras literárias, todas nacionais, agora está empenhado em levantar os recursos para gravar o seu CD.

Atualmente, as músicas são feitas por Alexandre Santana, executadas por uma banda que ele criou chamada A Traça do Mestre Graça (numa referência a Graciliano Ramos) e cantadas por Carine Nunes, uma guarapuavana radicada em Curitiba. Esta não é a primeira incursão de Santana no território de apoio às atividades dos alunos do Ensino Médio. Em 2000 ele desenvolveu um projeto de Educação Ambiental chamado Água Limpa e em 2007 saiu a segunda edição do livro Uma estória ambiental com ilustrações feitas por seus alunos.

O professor que morou 23 anos em Matinhos não tem planos de voltar à educação básica. Ele quer ampliar o seu trabalho envolvendo música e literatura e pretende aprofundar a carreira acadêmica, fazendo doutorado.

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