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Patti Smith e Bob Dylan têm história para contar

Patti Smith é uma habitante da república Bob Dylan há muitos anos: neste sábado, 10, ela vai subir mais um passo importante nessa hierarquia, ao tocar ao vivo na cerimônia de entrega dos Prêmios Nobel em Estocolmo – Dylan não vai comparecer, mas mandou um discurso para ser lido na solenidade. O evento está marcado para as 11h30 da manhã no horário de Brasília.

Smith é a cantora e compositora fundamental do punk rock norte-americano e sempre teve uma conexão íntima com a literatura – entre seus maiores ídolos estão Jean Genet e Arthur Rimbaud -, tanto que, apesar de se manter em turnê, ela prefere o epíteto “escritora”. A canção escolhida foi A Hard Rain’s A-Gonna Fall, do álbum The Freewheelin’ Bob Dylan (1963), com um arranjo para a Real Orquestra Filarmônica da Suécia.

“Escolhi A Hard Rain porque é uma de suas canções mais belas”, escreveu Smith em sua página oficial no Facebook. “Ela combina a maestria rimbaudiana da linguagem com um entendimento profundo das causas do sofrimento e, por fim, da resiliência humana. Eu o sigo desde que era uma adolescente, meio século para ser exata. A influência dele tem sido ampla e eu lhe devo muito por conta disso.”

O comitê havia convidado Smith em setembro, segundo seu relato, e quando o nome de Dylan foi anunciado como Nobel de Literatura, ela achou por bem escolher uma das canções dele. “Eu não havia antecipado cantar uma canção de Bob Dylan no dia 10 de dezembro, mas estou muito orgulhosa de fazê-lo e vou abordar a tarefa com um senso de gratidão por tê-lo como nosso distante, porém presente, pastor cultural.”

Patti conheceu pessoalmente o cantor por volta de 1975, quando ela começava a estourar em Nova York, e Bob Dylan já era, bem, Bob Dylan. 20 anos depois, num período muito difícil para ela – um acúmulo de perdas, o irmão, o pai, e o marido Fred “Sonic” Smith, grande amor de sua vida – Dylan a convidou para abrir shows seus em uma turnê na Costa Leste dos EUA. Homem de poucas palavras, ele a convenceu de seu lugar importante na comunidade do rock-n’-roll, segundo relatos da própria Smith que circulam na web. Foi a primeira turnê de Patti em 16 anos.

Crônicas

A editora Planeta lançou uma reimpressão de Crônicas – Volume Um, a primeira (e única publicada até agora) parte da autobiografia de Bob Dylan. O livro é um misto de memória e reflexões de Dylan, que mostra muito pouco da sua intimidade, mas explora com vigor seus interesses artísticos na música folk e no modo como ele mantém e transforma sua abordagem em relação ao trabalho.

Crônicas é dividido em cinco partes. Na primeira, Dylan conta como chegou a Nova York e perambulou por bares e lojas de discos no Greenwich Village, no início dos anos 1960, em busca de oportunidades de trabalho e moradia. Ele conta, por exemplo, como aprendeu com Richie Havens a contratar uma garota para “passar o chapéu”, jeito de ganhar mais dinheiro nas investidas pelos clubes.

Dylan fala também de sua paixão pela literatura – da impressão forte que lhe deixou a leitura de Tucídides, historiador da Grécia Antiga, até uma certa apatia em relação a Faulkner.

Em outro capítulo, Dylan relata a concepção e a gravação do álbum Oh Mercy (1989). Ele se mudou para New Orleans, e por uma indicação de Bono, chamou o produtor canadense Daniel Lanois – a relação entre eles foi complicada, mas o álbum é considerado um ponto alto da carreira tardia do músico.

Na parte final, ele conta como desenvolveu seu fascínio pela música folk, e especialmente por Woody Guthrie. Escreve Dylan: “Uma coisa era certa: Woody Guthrie jamais me vira ou ouvira falar de mim, mas era como se estivesse dizendo: ‘Estou de partida, mas vou deixar essa tarefa em suas mãos. Sei que posso contar com você’. Bom, ele nem imaginava quanto.

CRÔNICAS – VOLUME UM

Autor: Bob Dylan Tradutora: Lúcia Brito Editora: Planeta (328 págs., R$ 41,90)

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