Escola de Chicago e a transformação social

A fundação da Escola de Chicago ocorreu em 1892, graças à doação milionária do magnata do petróleo John Davison Rockefeller (1839-1937), apelidado pela imprensa de ?barão ladrão?. A escola, segundo Howard Becker, tornou-se uma espécie de perspectiva ou opinião global.

Chicago, que está localizada às margens do Lago Michigan, ao norte dos Estados Unidos, é a terceira maior cidade do país e a que mais recebeu imigrantes das cidades americanas. Além de berço do McDonald?s, das mutretas do bandido Al Capone (1899-1947) e das histórias de gangsters, é responsável pelo início do estudo da Antropologia Urbana. Em entrevista, Sandra Stoll, professora de Antropologia da Universidade Federal do Paraná, explica:

Jorge – As grandes metrópoles sofrem com problemas relacionados a banditismo, desemprego, prostituição, entre outros. Quais as contribuições da Escola de Chicago com a transformação social?

Sandra – A ?Escola de Chicago? compreende o conjunto de uma produção, que abarca três gerações de cientistas sociais norte-americanos, estimulados por Robert Park, que realizaram uma série de estudos entre os anos de 1930 e 1950 sobre o que se apresentava à época como um novo fenômeno social: a constituição das metrópoles. Chicago despontou nesse cenário, nos Estados Unidos, tornando-se por essa razão uma espécie de ?laboratório? de pesquisa social. A preocupação central da ?Escola de Chicago? voltava-se à dinâmica da vida social urbana, sendo um de seus principais temas de reflexão a questão da imigração (principal fator de crescimento demográfico na época). A assimilação dos imigrantes de diferentes gerações na/pela sociedade norte-americana era a principal questão em pauta, em função da qual desdobraram-se estudos sobre temas diversos: juventude, educação, desemprego, delinqüência, criminalidade, etc. A organização do espaço urbano também se destaca nesse contexto, tema que remete à discussão do ?espaço? como ?espelho? da lógica de segregação social: o conceito de ?regiões morais?, proposto por Park, remete tanto a atividades, quanto a populações ?discriminadas? socialmente. A ?Escola de Chicago? chama atenção, portanto, para as ?questões sociais? que envolvem a vida nas grandes cidades, as quais não podem ser equacionadas sem levar-se em conta a complexidade que as caracteriza.

Jorge – Sérgio Cabral Filho, governador do Rio de Janeiro, apresentou a legalização do aborto como alternativa de contenção da violência, respaldado numa tese levantada pelos autores do livro Freakonomics, Steven Levitt e Stephen J. Dubner. Quais suas considerações?

Sandra – A proposição de soluções simplistas – em geral de cunho higienista – tem sido uma prática corrente das elites e, freqüentemente também do poder público. Equacionar a questão da criminalidade, em termos do combate à pobreza via controle da natalidade (incluindo-se aí a descriminalização do aborto), significa reduzir a complexidade do tema. Desonera-se o sistema econômico e político vigente, bem como os valores que organizam e orientam as relações sociais da responsabilidade pela produção e perpetuação da desigualdade e limites impostos à cidadania, transferindo aos ?pobres?, em especial às mulheres nesse caso, a responsabilidade pelos ?problemas sociais?.

Jorge Antonio de Queiroz e Silva é pesquisador, historiador, professor. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

queirozhistoria@terra.com.br

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