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Após 30 anos, a volta da banda Metrô

O reencontro não estava no script. Aqueles cinco amigos que formavam a banda Metrô na década de 1980 ficaram tanto tempo afastados que nunca imaginaram que um dia seria possível se reunir num palco – ou em estúdio – novamente. Era final de 1985. Após a intensa turnê do álbum Olhar, grande sucesso lançado pela CBS, atual Sony, Virginie Boutaud (vocais), Alec Haiat (guitarra), Yann Laouenan (teclados), Xavier Leblanc (baixo) e Dany Roland (bateria) saíram em férias, cada um viajando para um canto – e essa formação se desfez. Recordar aquela ruptura hoje, três décadas depois, ainda causa tristeza à banda. Eles preferem celebrar esse reencontro de agora, que rendeu a edição comemorativa de seu disco Olhar (1985), de onde saíram hits como Beat Acelerado, Johnny Love e Sândalo de Dândi (leia mais abaixo), shows – neste sábado, 27, o quinteto se apresenta no Serralheria, em São Paulo – e novas canções em processo.

A história do retorno do Metrô tem início na festa de 50 anos do Liceu Pasteur, em São Paulo, em 2014. Foi simbolicamente uma volta às origens, pois ali, no colégio franco-brasileiro, os integrantes, ainda adolescentes, fundaram a banda, primeiro com o nome de A Gota Suspensa e, mais tarde, rebatizada de Metrô – o som do grupo acompanhou essa transição, partindo do rock progressivo para o new wave, o pop. “A gente não tocou junto durante 30 anos, porque não ia rolar, mas aí rolou (risos)”, conta Virginie, com sua voz doce e charmoso sotaque francês, em entrevista, num restaurante em São Paulo, ao lado de Alec e Yann.

“As pessoas do Lycée queriam que a gente tocasse, ligaram para o Dany e perguntaram: ‘será que rola?’. Ele teve a ideia de perguntar para a gente e rolou. Foi muito gostoso”, completou a cantora. E Alec continuou: “A gente se reintegrou naquele momento”. Para Yann emendar: “Tem um detalhe: ensaiamos cinco dias antes, após 30 anos separados; a Virginie chegou no dia do show, fez uma rápida passagem de som, e o show rolou com a mesma química, as mesmas brincadeiras”. Em 2015, uma apresentação na Virada Cultural oficializaria essa volta, mas a banda cancelou a participação. Virginie passava por um momento triste: seu marido havia morrido. Era preciso esperar.

Aventura

O passado ficou para trás. É o que demonstra a animação genuína da banda. Mas esse passado ainda gera curiosidade: o que fez o grupo decidir ‘não dá mais’? “Foi uma aventura na nossa vida. Éramos tranquilos, vivíamos na casa de papai e mamãe. De repente, você está nessa engrenagem que te leva a 100 quilômetros por hora sem parar, e é entorpecente. Como você vai dizer: não vou gravar um Chacrinha. Jovem está cheio de gás, o que aconteceu foi que a gente ficou cortado da nossa realidade gostosa da vida”, diz Virginie. “A relação com os amigos fica também abalada. Quando você está com sucesso, ele não é uma coisa fácil de administrar. Para você que está vivendo isso, não muda muita coisa, as pessoas é que te veem de uma maneira diferente.” Hoje, com o olhar mais distante – e maduro – em relação àquele momento, eles admitem que poderiam ter apenas dado um tempo. “Isso seria maduro, a gente não era maduro”, justifica Alec.

Eram só jovens, de 20 e poucos anos, que queriam fazer seu trabalho autoral. “A gente nunca fez música para fazer esse sucesso”, atesta Yann. Foi algo inesperado e rápido. As fitas cassetes da banda caíram nas mãos certas, a ponto de receberem proposta de duas gravadoras: da Som Livre e da CBS. Optaram pela poderosa CBS. Gravaram um compacto, com Beat Acelerado e Sândalo de Dândi. As duas músicas tocaram muito nas rádios.

Assim, não demorou para receberem aval para gravar o disco Olhar, com produção de Luiz Carlos Maluly. O sucesso foi sedimentado na turnê, nos programas de TV, nas rádios. E atravessou o tempo. O que corrobora agora esse reencontro.

Olhar

A edição comemorativa do disco Olhar, remasterizado, investe num generoso material extra – e os fãs agradecem. Entre as faixas bônus, há aquelas que ganharam versões para as pistas, como o remix de Beat Acelerado, por DJ Zé Pedro. Foi incluída ainda a versão de Johnny Love feita para o filme Rock Estrela (de 1985), com participação especial de Leo Jaime nos vocais.

Lançado como álbum duplo, o projeto traz um segundo CD com demos – que deram origem ao material para o compacto e LP do Metrô (como Sândalo de Dândi, sem letra) – e canções ao vivo de shows que a banda fez pelo Brasil naquele intenso ano de 1985, registradas por Paulo Junqueiro, atual presidente da Sony Music no Brasil e que trabalhava como técnico de som da banda naquela época. “Começamos a viajar e comecei a gravar os shows em fita K7 para podermos ouvir e corrigir erros. E é assim que nasceram estas gravações ao vivo que ficaram guardadas durante 30 anos!”, escreve o próprio Junqueiro no encarte do disco.

METRÔ

‘OLHAR’ – EDIÇÃO COMEMORATIVA

SONY MUSIC: R$ 40

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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