Ontem, no Rio, mais acusados foram punidos pelo STJD

Foto: Valquir Aureliano/Tribuna
Antes absolvido pelo TJD-PR, Amoreti foi eliminado do futebol.

Após mais de três horas, no final de um dia agitadíssimo no Superior Tribunal de Justiça Desportiva, aconteceu o julgamento do ?Caso Bruxo?, escândalo de arbitragem envolvendo árbitros, ex-árbitros e dirigentes de clubes e da Federação Paranaense de Futebol.

No final das contas, mais acusados foram punidos (antes oito, agora dez), sendo que três tiveram a pena reduzida, dois a pena aumentada, dois antes absolvidos foram punidos e outros três absolvidos.

O ex-árbitro Amoreti Carlos da Cruz acabou sendo o maior punido do julgamento. De absolvido no TJD-PR, ele foi eliminado do futebol.

Os ex-diretores de arbitragem Fernando Luiz Homann e Antônio Carvalho, absolvidos antes, pegaram dois anos de suspensão, mesmo caso dos árbitros Antônio Oliveira Salazar Moreno e Marcos Tadeu Silva Mafra e do ex-diretor da FPF Johelson Pissaia (estes foram eliminados do futebol no segundo julgamento).

O árbitro Sandro César da Rocha, eliminado no TJD-PR, foi absolvido.

Foram absolvidos (assim como aconteceu no TJD-PR) o ex-árbitro Carlos Jack Rodrigues Magno e o ex-presidente da Comissão de Arbitragem Valdir de Souza. Além dos nove julgados ontem, foram reconfirmadas as penas do ex-árbitro José Francisco de Oliveira e dos ex-dirigentes Genézio de Camargos, Sílvio Gubert e Gílson Pacheco, que já no primeiro julgamento do TJD-PR foram eliminados.

O caso foi julgado por apenas cinco auditores: Virgílio Val (que presidiu a sessão), José Mauro Couto de Melo, Caio César Vieira Rocha, Paulo Valed Perry e Eduardo Machado Costa, que foi o relator do caso.

O primeiro a falar foi Eduardo Machado Costa, que apontou os principais detalhes do relatório, que tinha 1.463 páginas. Em dado momento, o auditor comentou a reação do presidente da FPF, Onaireves Moura. ?Ele foi astuto, agindo antes que outras coisas acontecessem?, afirmou. Depois, foi a vez do procurador-geral do STJD, o paranaense Paulo Schmitt, que apresentou algumas das razões do pedido do procurador Alexandre Quadros – este pediu a punição de todos, tanto os absolvidos quanto os eliminados do futebol pelo TJD-PR. ?Este é um processo de provas testemunhais, e elas levam para a decisão pedida pelo procurador?, disse Schmitt.

A defesa foi iniciada por Vinícius Gasparini, que representou Johelson Pissaia. O advogado argumentou que não havia razão de o presidente do TJD-PR, Bôrtolo Escorsim, votar no primeiro julgamento. ?O caso estava resolvido, não tinha motivos dele votar?, disse Gasparini, que completou pedindo que os auditores não encerrassem a carreira de Pissaia. ?Uma pessoa com quinze anos de futebol não pode ser condenada sem provas e ser chamada de bruxo do futebol paranaense.?

Logo depois, veio Domingos Moro, advogado de Fernando Luiz Homann, Sandro César da Rocha, Marcos Tadeu da Silva Mafra, Antônio Oliveira Salazar Moreno e Carlos Jack Rodrigues Magno (Amoreti Carlos da Cruz, Antônio Carvalho e Valdir de Souza foram julgados à revelia). Ele repetiu o argumento da falta de provas, lembrando que o ?Caso Bruxo 2? corre risco de sequer ser julgado. ?Por que isto acontece? A quem interessa o esquecimento deste e a lembrança do primeiro caso?, disse.

Moro também alfinetou Escorsim. ?Todos os ex-presidentes que votaram pela absolvição dos árbitros não usaram contas pessoais para receber multas do TJD, como aconteceu com o atual?, atirou – por sinal, a história fez com que o presidente do TJD-PR entrasse em rota de colisão com Paulo Schmitt.

O advogado encerrou seu pronunciamento afirmando que os cinco acusados defendidos por ele já se afastaram do futebol. ?Eles já têm uma mácula no esporte, mas podem voltar a ter dignidade.?

Os auditores resolveram votar em duas partes: primeiro foram para a pauta os recorridos Antônio Carvalho, Fernando Luiz Homann (ambos pegaram dois anos de suspensão por cinco votos a zero), Carlos Jack Magno (absolvido por 5×0), Valdir de Souza (absolvido por 4×1) e Amoreti Carlos da Cruz – este, absolvido no TJD, acabou eliminado do futebol por três votos a dois.

Após, vieram os que foram punidos no segundo julgamento – os chamados recorrentes. Os auditores decidiram suspender

Antônio Salazar Moreno (cinco votos a zero) e Marcos Mafra (três votos a dois) por dois anos.

Sandro César da Rocha foi absolvido por três votos a dois. Fechando a pauta, Joelson Pissaia foi punido com dois anos de suspensão.

Clima esquenta no STJD

Rio – Ficou para depois. Em uma tarde de intensas negociações e de uma verdadeira batalha de bastidores, o STJD não conseguiu realizar sua eleição -que acontecerá em uma sessão extraordinária a ser marcada. Após ameaçar renunciar, o presidente interino Rubens Approbato Machado aceitou permanecer no cargo e no tribunal. Apesar de ninguém confirmar, a diretoria da CBF teria tentado intervir na política interna do STJD.

Rubens Approbato Machado chegou ao Rio de Janeiro disposto a renunciar por conta das interferências externas na eleição do tribunal. ?Eu sou um advogado de 72 anos que pretende sempre a concórdia entre todas as pessoas. Por conta disto, estava disposto a tomar a atitude que vocês (jornalistas) já estavam sabendo?, confessou o presidente interino do STJD, em manifestação pública antes do início da reunião de ontem.

Segundo pessoas ligadas ao tribunal, havia um movimento partindo da CBF para que outro auditor (que seria Francisco Antunes Maciel Mussnich) fosse candidato à presidência do STJD, fato que criou uma cisão interna. A reunião de ontem quase não aconteceu – o que daria novos tons ao ?Caso Bruxo?, que poderia até prescrever.

Após uma reunião entre os auditores, que durou quase uma hora, Approbato aceitou permanecer no cargo (e no STJD) pelo menos até a eleição. ?Precisamos de mais maturidade, de mais tempo, e de mais conversas. Não queria, mas acabei aceitando. Não sou mais dono de mim. Vou ter até de mudar minha passagem de volta para São Paulo?, afirmou o presidente interino, que deixou no ar a possibilidade de uma confusão política entre a CBF e o tribunal.

?O escândalo não está instaurado hoje?, atirou o advogado, que assumiu a presidência do tribunal após o afastamento de Luiz Zveiter, por conta da resolução do Conselho Nacional de Justiça que impede os desembargadores da ativa de trabalharem na justiça desportiva.

Espera agonizante pros ex-árbitros

O STJD fica ?encravado? no centro do Rio – localizado na minúscula rua da Ajuda, uma travessa entre as avenidas Nilo Peçanha e Rio Branco.

A reunião marcada para as 16h atrasou, e a espera parecia agoniar os ex-árbitros Sandro César da Rocha, Antônio Oliveira Salazar Moreno e Marcos Tadeu Silva Mafra. Eles conversavam apenas com o advogado Domingos Moro. Só os jornalistas se movimentavam.

Com o correr dos minutos, profissionais (advogados e repórteres) ficavam ainda mais ansiosos – principalmente por conta dos rumores que corriam no tribunal, da possível renúncia de Rubens Approbato Machado.

Só uma coisa fez com que os ânimos serenassem, uma hora e meia depois: o início da primeira sessão do STJD em 2006.

Rio ferve

O carioca não sabia para onde olhar na tarde de ontem. Enquanto muitos já estão na contagem regressiva para o Carnaval, outros tantos só querem saber do apoteótico show dos Rolling Stones, amanhã, na praia de Copacabana.

Para completar o frenesi, Franz Beckenbauer colocou seus pés na Calçada da Fama do Maracanã. O ?Kaiser? foi simpático, encontrou o conterrâneo e técnico do Atlético Lothar Matthäus, elogiou o estádio, disse que o Brasil é o grande favorito na Copa do Mundo (?Se tivesse 1 dólar, apostaria 90 centavos no Brasil e 10 na Alemanha?, afirmou) e saiu festejado pelos cariocas.

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