União ameaçada?

O “hoje sim, hoje não” do Coritiba ao Atlético nos bastidores

Com ótima relação nos últimos tempos, Rogério Portugal Bacellar e Mário Celso Petraglia ficaram de lados opostos desta vez. Fotos: Arquivo

Não é apenas um “não” que o Coritiba deu nesta sexta-feira ao afirmar, em nota oficial, que não alugaria o estádio Couto Pereira para que o Atlético enfrentasse o Santos no dia 5 de julho pela Copa Libertadores. Foi o desfecho de uma história repleta de idas e vindas, de uma diretoria que se viu pressionada por todos os lados, e de uma união que tentava se mostrar forte publicamente, mas que neste episódio sofre a primeira grande fratura. No primeiro teste da mudança da relação entre Furacão e Coxa, o resultado foi o mesmo de sempre.

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O OUTRO LADO: Atlético reage e diz que há um contrato que garante cessão do Couto

Foram pouco mais de trinta dias entre a classificação do Atlético, a definição do adversário, a luta pela mudança da data, para que não batesse com a realização da fase final da Liga Mundial de Vôlei na Arena da Baixada e a negociação com o Coritiba. Tudo aconteceu com mais intensidade na última semana, quando a Conmebol marcou para o dia 5 a partida – bem no meio do evento, marcado desde o ano passado e no qual o Atlético buscou, principalmente, visibilidade internacional para seu estádio.

Sem ter onde jogar, e com a necessidade de ter um palco com no mínimo 20 mil lugares – pela determinação do regulamento da Libertadores e pela necessidade de abrigar os sócios -, o Atlético partiu para a conversação com o Coritiba. Nos últimos dois anos, as duas diretorias vêm se acertando em praticamente tudo. Através da boa relação entre o presidente coxa, Rogério Portugal Bacellar, e do presidente do Conselho Deliberativo rubro-negro, Mário Celso Petraglia, a dupla Atletiba passou a ser parceira em patrocínios, em valorização dos clássicos e até na criação de competições, como a Primeira Liga.

Mas a grande parceria sempre esteve ligada à busca de melhores condições nos direitos de transmissão. Por conta desse interesse conjunto, os dois clubes deixaram a Liga neste ano, não aceitaram fechar com a TV Globo o contrato do Campeonato Paranaense e partiram para uma inédita transmissão pela internet dos clássicos do Estadual, incluindo as duas partidas da final. Sem contar que ambos fecharam contrato com o canal Esporte Interativo para transmissão do Campeonato Brasileiro em TV fechada a partir de 2019. E embutido em todo esse acordo está, desde 2015, um acerto verbal de que haveria um empréstimo de estádio caso um clube necessitasse.

Surgiu o momento

O Atlético imaginava que o acordo seria tranquilo. Mas internamente o Coritiba já fervia. Uma reunião rotineira do Conselho Deliberativo colocou Rogério Bacellar contra a parede. Ele foi questionado pelos conselheiros se emprestaria o Couto Pereira para o rival. E acabou dizendo que não tomaria esta atitude. A resposta do presidente constou na ata da reunião, inclusive com declarações de integrantes do encontro de que “para o Atlético a resposta tem que ser sempre não”.

A postura do cartola ia totalmente contra à relação que ele tem com Petraglia. Os dois sempre tiveram um relacionamento amigável, inclusive tratando de assuntos do próprio Coritiba. Além disso, havia uma questão financeira, não seria um empréstimo gratuito, havia um pagamento. Mas ninguém, nem mesmo Bacellar, se atrevia a tratar do assunto. O presidente estava em viagem e os outros integrantes do G5 do Coxa se recusavam a conversar sobre o tema Couto Pereira.

Na quinta-feira (22), Rogério Bacellar voltou. A proposta do Furacão tinha aumentado. Os rumores de que o Coritiba poderia aceitar começaram a ficar muito fortes. Focados no jogo contra o Grêmio, os dirigentes evitaram qualquer tipo de declaração sobre o assunto. Mas na manhã desta sexta o tema explodiu – o Coxa tinha aceitado e o anúncio aconteceria a qualquer momento. A reação interna foi a pior possível para a diretoria. Nas redes sociais, centenas anunciavam que cancelariam o plano de sócio. Torcedores chegaram a descobrir o telefone do presidente e mandaram mensagens reclamando.

Bacellar se viu num fogo cruzado. De um lado, a união da dupla Atletiba. De outro, a fúria de conselheiros, sócios e torcedores – a menos de seis meses da eleição presidencial. De qualquer forma, ele ficaria com algum ônus da decisão. Entre as 11h30 e as 13h20, o Couto Pereira esteve em ebulição. E às 13h25, veio a nota oficial, sem assinatura, com a confirmação do não empréstimo. O presidente do Coxa esqueceu a relação com o rival e decidiu pelo que a torcida queria.

Só que o Atlético apareceu com uma carta na manga, afirmando que há um contrato que trata exatamente da cessão dos estádios (Couto Pereira e também a Arena) quando os clubes precisarem. E garantiu que joga contra o Santos no Alto da Glória. Além disso, deixou no ar que Rogério Bacellar, o principal personagem de toda a crise, não teria cumprido com a palavra. Após os dois dias de tensão, fica a dúvida sobre o futuro da união da dupla Atletiba. O primeiro grande teste da relação entre as duas diretorias mostrou que ainda não há solidez para bancar todas as decisões, populares ou impopulares.