Marcos, ex-Paraná, tem sucesso meteórico na “Terrinha”

O goleiro Marcos fez aniversário na última segunda-feira e tem muito a comemorar. Dono da camisa número 1 do Marítimo, de Portugal, o brasileiro já é ídolo na “Terrinha”. Na última temporada, foi eleito o melhor goleiro estrangeiro em atividade na competição – concorreu com outros 14, entre eles os brasileiros Hélton (ex-Vaco) e Marco Aurélio (ex-Portuguesa). Titular absoluto de sua equipe há um ano e meio, Marcos não nega que possa se transferir para um time da França ou Espanha. Mas, por ora, só quer descansar e abriu uma exceção para conceder esta entrevista ao Paraná-Online, ontem. Ele falou à repórter Gisele Rech sobre sua nova vida e dos tempos de Paraná Clube.

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– A sua transferência para o Marítimo, de Portugal, pegou todos de surpresa. Foi realmente algo rápido?
Marcos – Até mesmo para mim. Eu já havia decidido que meu ciclo no Paraná estava encerrado e estava mantendo contatos com alguns empresários. Numa manhã, o Norberto, que tem acesso ao futebol português, me falou que tinha fechado com o Marítimo e tive que embarcar à tarde. Até havia algumas equipes do Brasil interessadas, mas dei preferência ao futebol português porque estava disposto a deixar o Brasil, pela situação do futebol brasileiro.

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Tribuna – Como foi a estréia?
Marcos – Nem tive tempo para respirar. Em dez dias minha documentação estava pronta e estreei como titular, contra o Porto, líder do campeonato e que estava há 29 jogos sem perder. A equipe vinha mal, estava em 14.º, com a defesa mais vazada e conseguimos vencer. Acabei ganhando a confiança do treinador e me firmei como titular. Não sei se fui contratado para ser titular, só sei que não saí mais do time. Acabamos a competição em sétimo, recuperados.

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Tribuna – Rolou muita “ciumeira”?
Marcos – Ah, sempre acontece. Quando cheguei, foi surpresa para eles também, que pensaram que eu seria mais um brasileiro fazendo teste. Quando fui escalado como titular, os goleiros ficaram enciumados – o brasileiro Gilmar, que depois voltou para o Goiás, e o português Nélson. Era até previsível, afinal, assumi a meta titular. No início, me olhavam meio torto, mas por pura questão de vaidade.

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Tribuna – Quais as principais diferenças entre futebol português e brasileiro?
Marcos – Na questão tática, não muda muito. Mas é impressionante como eles dão ênfase à velocidade, à rapidez. É uma correria só. Eles chegam a molhar o campo antes de todos os jogos para a bola correr mais fácil – o que é horrível para os goleiros. Chega a ser engraçada essa cultura. Quando passam jogos do campeonato brasileiro lá, eles se admiram da lentidão e dizem que o nosso futebol dá sono, por causa da priorização da posse de bola. Pode?

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Tribuna – O fato de jogar em Portugal, não deve ter dado a você problemas com a língua. Mas você chegou a confundir algum termo?
Marcos – Foi bom ter ido para o futebol português porque não enfrentei a barreira da língua. Mas há alguns termos curiosos. Uma vez estava em um restaurante e perguntei onde era o banheiro e o garçom não entendeu. Falei que queria fazer xixi, e ele disse que deveria ir à casa de banho. Também me chamaram para ver um show de mota d’água, que nada mais é que jet ski. Fui comprar um chiclete e tive que pedir pastilha elástica. Preservativo lá é durex e durex, fita-cola.

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Tribuna – Você está bem no futebol português, mas pensa em ir para algum time de outro país?
Marcos – Pelo meu contrato de trabalho, eu tenho facilidade em jogar em Portugal. Se for para outro país, contarei como estrangeiro. Além disso, tenho contrato de mais dois anos com o Marítimo. Mas não nego que haja possibilidade mais adiante, mesmo porque houve interesses de times de França e Itália. Por ora pretendo ficar, afinal, conseguimos uma vaga na Copa da Uefa e o Marítimo quer entrar forte. Mas isso não será para sempre, mesmo que não tenha do que reclamar do clube, onde recebo em dia. Diferente da época do Paraná, de onde saí com seis meses de salários atrasados, que sei que não vou receber.

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Tribuna – Como foi sua saída do Paraná?
Marcos – Em 2001 acabou meu contrato e o Paraná queria um contrato de mais dois anos. Sugeri renovação por mais um ano e deixei claro que já estava na hora de buscar novos horizontes, já que contando com as categorias de base estava há 14 anos no Paraná. Quando acabou meu contrato, já sabia que iria sair e já dei entrevistas dizendo que iria sair. Foi natural, sem mágoas para nenhuma das partes.

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Tribuna – Você foi uma das últimas revelações do Paraná, que agora vive de parceria com empresários. Isso pode ter sido forçado pela extinção da lei do passe?
Marcos – Na verdade, penso que se o clube faz as coisas certas, não perde os jogadores. Mas no caso específico do Paraná, as dificuldades começaram há algum tempo. O time perdeu muitos jogadores com ações por atraso salarial e atraso no depósito de FGTS. Na minha época, o Paraná era o time, talvez de todo o Brasil, que mais tinha em seu time atletas revelados em casa. Hoje, a saída encontrada foi se associar a empresários. Isso é muito triste. Fui fazer uma visita ao clube e só conhecia o Darcy, o Bader, o Goiano e o Wilian. É muito pouco para um clube que era mestre em revelar atletas. O clube tem que se reestruturar para reencontrar o caminho.

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Tribuna – Do que você sente mais falta do Brasil?
Marcos – Ah, de tudo. Da família, de Curitiba, que é uma cidade que não deve nada para as cidades da Europa. Os bares, a noite, os restaurantes, os shoppings, as músicas, aqui tudo é melhor e por isso mesmo não escondo que estou lá por questões financeiras. Ainda ficarei por lá por um bom tempo, mas meu futuro é aqui.

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Tribuna – Indo bem no futebol português, já ocorreu a você tentar a cidadania para poder jogar pela seleção portuguesa?
Marcos – Algumas vezes já me perguntaram isso. Seria complicado, porque ou teria que casar com uma portuguesa – e sou casado com uma brasileira – ou ficar cinco anos em Portugal, o que acho meio difícil. Mas, nunca se sabe.

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