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Emoção à flor da pele na homenagem de Curitiba à Chapecoense

Parecia uma partida de futebol. Torcedores chegavam com a camisa de seu clube ao estádio, se preparando pra uma decisão. Parecia uma festa. Tinha torcedor com camisa do Coritiba, do Atlético, do Paraná. Tinham também camisas de clubes de outros lugares. Todos chegando juntos, misturados, como se estivessem indo a um jogo decisivo.

Mas era apenas uma despedida. Nesta quarta-feira (7) o Couto Pereira não era só verde, apesar de ser a cor mais representada. Uma faixa estendida dizia “Hoje o futebol não tem cor, não tem camisa, não tem hino!”. Uma arquibancada colorida, com um único objetivo: homenagear a Chapecoense naquele que poderia ser o palco do inédito título da Copa Sul-Americana.

A taça veio, mas de uma maneira que ninguém gostaria. O trágico acidente aéreo que envolveu o time catarinense e acabou com a morte de 71 pessoas parou o mundo. Parou o futebol brasileiro. Mas serviu para unir as torcidas. A final não aconteceu, mas o local onde a última partida aconteceria na quarta teve o ambiente e o clima que um duelo como este merecia. Mais de 30 mil pessoas foram ao estádio para participar do culto ecumênico em homenagem à Chape e aos falecidos no acidente. Fora os mais de 20 mil que ficaram pra fora.

Torcedores de vários times juntos no Couto Pereira. Foto: Ricardo Brejinski
Torcedores de vários times juntos no Couto Pereira. Foto: Ricardo Brejinski

Cerca de duas horas antes do início do evento, os primeiros torcedores já chegavam, em um clima de paz e tranquilidade. As pessoas chegavam juntas, casais de clubes rivais de mãos dadas, rodinhas com camisas de três, quatro clubes se formavam, até as organizadas foram juntas, fazendo valer o objetivo do encontro. Apenas nos arredores houve uma pequena confusão entre as organizadas de Coxa e Furacão, mas rapidamente resolvida pela polícia e alguns torcedores.

“O Coritiba se sente honrado. A Chapecoense seria campeã no campo, tenho certeza. Então o Coritiba não podia passar em branco e fizemos esse culto, essa homenagem e convidamos todas as torcidas para que a paz volte a reinar no futebol brasileiro, e foi essa a lição que a Chapecoense deixa”, afirmou o presidente do Coritiba, Rogério Bacellar.

“É um pedido para que haja essa união dos torcedores, esta festa que está acontecendo. É isso que temos que manter, não apenas nas tragédias. É isso que esperamos que aconteça”, disse o presidente do Atlético, Luiz Sallim Emed.

“As homenagens a partir da Colômbia foram extraordinárias. Emocionou a todos nós. Quando você vê times rivais se abraçando, você vê que o futebol está sendo entendido de uma outra maneira. E espero que seja um marco, não precisaríamos de uma tragédia como essa para isso acontecer, mas ela está tendo esta utilidade”, destacou Christian Knaut, vice-presidente do Paraná.

Meia hora antes do culto começar, o estádio estava lotado e os gritos de “Vamo, vamo Chape”, “Olê, olê, olê, Chape” e “É campeão” tomavam conta das arquibancadas a plenos pulmões. Foi assim o tempo todo. Além dos muitos aplausos. Muitas pessoas ficaram de fora, por não caber mais torcedores na arquibancada. O Coritiba trabalha com pelo menos 20 mil torcedores do lado de fora. Era possível ouvir os gritos de quem não conseguiu entrar.

No gramado, o evento começou com um vídeo mostrando os jogadores da Chapecoense comemorando, mais uma vez comovendo a todos. Em seguida, foi entregue uma placa onde o Coritiba homenageia a Chapecoense e todas as vítimas do acidente e que ficará no Couto Pereira. Foram citados os nomes de todo os jogadores que defenderam o Coxa, além do técnico Caio Júnior. Depois, os Correios, juntamente com o Coritiba, lançaram um selo homenageando o clube catarinense, seguido por 71 balões soltos ao vento por crianças.

A missa, celebrada pelos padres José Maria e Emerson e o pastor Antonio Jairo, seguia em um ritmo tranquilo, até que foi pedido para a torcida gritar pela Chapecoense. A partir dai parecia uma conquista de um título, com o estádio gritando sem parar. Quando o padre colombiano Leonardo subiu ao palco, foi o grito de Colômbia que tomou conta do Couto.

Por fim, às 21h45, horário que começaria o jogo, aconteceram um apito e o pontapé inicial, feito por crianças representando Chapecoense e Atlético Nacional. Assim que a bola rolou, as luzes do estádio se apagaram e o que se viu foi um show de luzes nas arquibancadas com mais gritos de “Vamo, vamo Chape” e “É campeão”, juntamente com uma salva de tiros da polícia militar.

Uma comemoração de um título daquela partida que nunca aconteceu, mas que jamais será esquecida e ficará marcada pela confraternização por um único time e um único grito.