Eleições

No Coritiba, a sucessão presidencial é em dezembro, mas os bastidores estão pegando fogo

O presidente Rogério Portugal Bacellar e membros da comissão de patrimônio. Cargo máximo do clube está sendo bem disputado. Foto: Divulgação/Coritiba FC

O processo eleitoral sequer começou oficialmente no Coritiba. E, por sinal, ainda demorará a começar, porque a eleição mesmo é só em dezembro. Mas a nove meses do pleito já se pode prever um duelo sangrento pela presidência do clube, hoje ocupada por Rogério Portugal Bacellar. Pelo menos duas correntes estarão na disputa, mas é possível que até quatro candidatos surjam para disputar o comando do Coxa.

O ex-vice-presidente João Carlos Vialle. Foto: Arquivo
O ex-vice-presidente João Carlos Vialle. Foto: Arquivo

Quem saiu na frente foi a oposição. Em torno dos ex-presidentes João Jacob Mehl e Giovani Gionédis, a articulação já tem até nome para ser candidato. É o de João Carlos Vialle, que foi diretor médico, diretor de futebol e vice-presidente do Cori em vários momentos desde a década de 1960. Derrotado por Jair Cirino dos Santos na eleição de 2007 por apenas um voto, Vialle ainda não se apresenta como postulante à presidência, mas admite estar sendo procurado.

“Existe um grupo grande de pessoas que quer que eu seja o candidato. Mas vamos definir só a partir de agosto porque não queremos conturbar o clube. O Coritiba precisa de gente que tenha vivência no futebol para negociar”, comentou Vialle, que por ora diz que Gionédis, presidente entre 2002 e 2007, deveria ser o candidato. O principal cabo eleitoral do médico é Jacob Mehl, que comandou o Coxa no início dos anos 1990. “O Vialle sai como o nosso candidato a presidente. Temos também o Gionédis que não podemos abrir mão. Ele é um ótimo negociador. Tem muita gente boa querendo ajudar e isso é importante”, afirmou.

João Jacob Mehl é talvez o crítico mais contundente da gestão Bacellar. Ano passado ele já havia divulgado uma carta com contestações ao atual presidente do Coritiba, mas agora ele partiu para o ataque direto. “O Coritiba não pode mais ser cobaia de dirigente inexperiente. Não foram jogar com os titulares em Campinas (no Brasileirão do ano passado) e não fomos para a Sul-Americana, aceitam imposição de treinador que não queria ficar (Paulo César Carpegiani). Unem-se com o Atlético, contrataram um monte de jogador que não serve para nada”, disparou, em entrevista à Gazeta do Povo.

A ligação próxima de Rogério Bacellar com o presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Mário Celso Petraglia, é um dos temas mais tratados nos bastidores das correntes políticas do Coritiba. E certamente será um dos principais temas do processo eleitoral. Não foi à toa que a diretoria coxa tomou dois posicionamentos para encerrar com as conversações sobre a “Arena Trio de Ferro” – primeiro foi à torcida Império Alviverde falar que não haveria estádio compartilhado, depois divulgou uma nota com tom semelhante. Era preciso mostrar independência.

Isto porque um dos dirigentes ligados a Bacellar será o candidato da situação na eleição de dezembro. Os principais cartazes da gestão, e que serão ressaltados durante a campanha, serão o saneamento financeiro do clube, que foi encontrado com problemas sérios, e o novo contrato de direitos de transmissão em TV fechada do Campeonato Brasileiro, assinado com o canal Esporte Interativo.

Mais articulações

Vílson Ribeiro de Andrade, o antecessor de Bacellar. Foto: Aniele Nascimento
Vílson Ribeiro de Andrade, o antecessor de Bacellar. Foto: Aniele Nascimento

O grupo mais ativo nas redes sociais é o ligado ao ex-presidente Vílson Ribeiro de Andrade, o antecessor de Rogério Bacellar no comando do Coritiba. Há um forte movimento para que o cartola seja o candidato à presidência, ou que um nome apoiado por ele se lance na disputa.

Vílson tem a seu favor os números favoráveis do futebol, com os títulos paranaenses e as finais da Copa do Brasil, mas depois teve problemas internos, principalmente com atrasos de salários e a crise de relacionamento com os jogadores, principalmente com Alex – que, no final das contas, foi o principal cabo eleitoral de Bacellar em 2015, depois rompendo meses depois do pleito.

Outra corrente que deve lançar candidato é a chamada “ala dos Indomáveis”, composta pelos conselheiros que se aliaram ao atual presidente, mas depois saíram da diretoria no “escândalo do WhatsApp”. André Macias, Pierre Boulos, Arthur Klas são os mais conhecidos deste grupo. Alguns deles foram recentemente elogiados por Alex, hoje comentarista da ESPN Brasil, na conta do ex-camisa 10 do Coxa no Twitter.

André Macias, ex-vice do Cori e integrante da ala mais jovem. Foto: Hugo Harada
André Macias, ex-vice do Cori e integrante da ala mais jovem. Foto: Hugo Harada

Há duas preocupações em todas as correntes políticas do Coxa, apesar de elas estarem bem distantes umas das outras. A primeira é que não haja impacto em campo, o que já ocorreu em eleições passadas – inclusive com os mesmos protagonistas. Esse é o ponto defendido pela “ala jovem”, que tem apoio consistente no Conselhão e boas relações com a torcida organizada, mas que no momento não vai se manifestar sobre o pleito. O segundo é que o nível não baixe – houve já a tentativa de conter algumas ações mais agressivas nas últimas semanas que surgiram no Twitter e no Facebook.

O que se espera que é a disputa, que já será forte, não siga caminhos já presenciados no Coritiba. Quem poderia contar essa história seria talvez o candidato mais forte para a eleição deste ano – Domingos Moro, alvo de uma campanha de destruição jamais vista no Alto da Glória, que faleceu em fevereiro.