Pra muitos, a BR-277 não é apenas uma viagem. É a segunda casa!

Enquanto para algumas pessoas o trecho da BR-277 entre Curitiba e São Luiz do Purunã é apenas uma parte do trajeto, para outras a rodovia é a segunda casa. Em média, trafegam por ali 27 mil veículos por dia.

Alfranio mora e trabalha como borracheiro em contêiner à beira da BR-277: se preciso, ele levanta de madrugada para atender. Foto: Felipe Rosa
Alfranio mora e trabalha como borracheiro em contêiner à beira da BR-277: se preciso, ele levanta de madrugada para atender. Foto: Felipe Rosa

A qualquer hora

Alfranio Machado literalmente “mora” na rodovia. O jovem, de apenas 18 anos, trabalha e vive em uma borracharia contêiner, que fica no estacionamento de um posto de gasolina, em São Luiz do Purunã. Ele terminou o ensino médio e atua como borracheiro há quatro meses. “Eu trabalho das 7h à meia-noite, mas se precisar, na madrugada eu levanto pra atender”, explica.

A quantidade de serviço varia conforme o dia. Segundo Alfranio, quando tem movimento não dá pra contar o número de carros que ele troca o pneu. “Sempre acontece de ir do outro lado socorrer o pessoal. Pego as coisas e leva lá. Tem que tomar cuidado para atravessar”, revela. O pai do jovem mora em Ponta Grossa, e às vezes passa o fim de semana com o filho na borracharia. Quando não tem movimento, ele se distrai no telefone celular. “Com a internet, a gente fica vidrado, assiste um filme e passa o tempo”.

José é frentista de um posto em Campo Largo há 28 anos: muitos amigos. Foto: Felipe Rosa
José é frentista de um posto em Campo Largo há 28 anos: muitos amigos. Foto: Felipe Rosa

Popular

José Ramos tem 66 anos e há 28 trabalha como frentista de um posto de gasolina na beira da estrada, em Campo Largo. “Passo mais tempo na rodovia do que na minha casa”, diz. Ele chega às 5h30 e sai às 17h, todos os dias. A função de José é atender caminhoneiros e veículos de empresas que abastecem no posto. Em todo esse tempo ele ficou popular pelos clientes. “Mais de uns 10 mil me conhecem, e eu não conheço mais de 100”, afirma. Mas um cliente se tornou especial: o Paulo. E já são 26 anos de amizade. “Ele trouxe a filha bebê pra eu conhecer, e hoje ela é formada”, conta.

Jorge trabalha há 19 anos na concessionária e passa mais tempo na rodovia que em casa. Foto: Felipe Rosa
Jorge trabalha há 19 anos na concessionária e passa mais tempo na rodovia que em casa. Foto: Felipe Rosa

Por acaso

Jorge Luiz Bressan, 46, também já presenciou várias situações na rodovia. Ele trabalha na CCR Rodonorte há 19 anos. “É uma vivência de vida, muitas experiências, boas e tristes, mas tudo para garantir o melhor atendimento às pessoas que aqui trafegam”. Jorge entrou na profissão de inspetor de tráfego por acaso. Quando foi aberta a vaga, ele nem sabia o que era isso, e acabou gostando. Agora ele trabalha como motorista e socorrista na equipe de resgate da concessionária. O plantão de 12 horas faz com que José passe mais tempo no posto de atendimento do que em casa. “São duas famílias, uma aqui e outra em casa”, afirma.

A rotina dele é conviver com as ocorrências da rodovia. “A hora que for chamado, independente das condições, a gente tem que ir atender o acidente”, relata. Para ele, a maior recompensa do trabalho é o agradecimento. “O que mais nos deixa bem é quando a pessoa agradece pelo serviço prestado. O muito obrigado é o mais gratificante”.

Idebrando, com sua cozinha improvisada, viaja seis dias de Campo Largo (PR) a Goiana (PE). Foto: Felipe Rosa
Idebrando, com sua cozinha improvisada, viaja 6 dias de Campo Largo (PR) a Goiana (PE). Foto: Felipe Rosa

No improviso

A estrada também é a segunda casa de Idebrando Luiz Vieira, 41. O caminhoneiro sai de Campo Largo (PR) e viaja seis dias até entregar a carga em Goiana (PE). A saudade da família, que mora em Araújos (MG), incomoda. “É a parte mais difícil que tem, mas de vez em quando a patroa vem junto, aí ameniza um pouco a saudade”, diz.

A rotina não é fácil. A comida é feita na cozinha improvisada no caminhão. “Para tomar banho, tem que contar com o posto. Mas tem posto que se não abastecer nem banho pode tomar”, revela. Idebrando ama o que faz e garante que toma todo cuidado possível para não se envolver em acidentes. “Pista molhada, neblina, tem muito acidente porque os irresponsáveis não respeitam o limite de velocidade. A rodovia é bem sinalizada”.

Paixão

Em comum, todos têm o amor pelo asfalto e pelo vai e vem dos veículos. “Adoro o que faço, não vou sair daqui. Já tentei fazer outra coisa e não consigo. Não vejo o tempo passar. Quando vejo, está na hora de ir embora”, confessa o frentista José Ramos. O motorista e socorrista Jorge Luiz pretende continuar na profissão por muito tempo. “Até a hora que o corpo falar que não dá mais. Enquanto eu puder e tiver forças e saúde, pretendo permanecer na rodovia”, ressalta

 

Artéria do Paraná é uma série especial que mostra a importância da infraestrutura rodoviária para o desenvolvimento do país.

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