Xaxim

Jovens campeões

Disciplina, responsabilidade, organização, fraternidade e concentração. É o que alunos do Colégio Estadual São Pedro Apóstolo (CESPA), no Xaxim, aprenderam a ter depois que começaram a praticar o jiu jitsu. A modalidade é oferecida na escola através do projeto voluntário CESPA JB, encabeçado pelo professor Edeson das Neves. Mas, justamente por ser voluntário, precisa de ajuda da comunidade para ter continuidade e para que os atletas possam disputar competições. A necessidade mais emergencial é locar um ônibus, para levar a equipe até Londrina, mês que vem.

Edeson é professor de artes do colégio e praticante de jiu jitsu. “Eu conheci o esporte para combater o sedentarismo. Vi que a disciplina que aprendi com o jiu jitsu agregou muita coisa positiva na minha vida e poderia agregar aos alunos também”, diz o professor, que teve apoio da diretoria da escola. Mas não havia nenhuma verba disponível para a atividade.

Edeson é o idealizador do projeto de jiu jitsu no Colégio Estadual São Pedro Apóstolo. Foto: Felipe Rosa
Edeson é o idealizador do projeto de jiu jitsu no Colégio Estadual São Pedro Apóstolo. Foto: Felipe Rosa

Em fevereiro do ano passado, Edeson conseguiu uma sala de aula sem uso e a reformou, com doações e ajuda dos colegas da academia de jiu jitsu que frequenta, a Gracie Barra. Reformou piso, paredes, fez um tatame, conseguiu equipamentos e quimonos e colocou a turma pra treinar.

Equipe oficial

Um grande incentivo foi o registro da equipe nas Federações Estadual e Internacional de Jiu Jitsu, que permite aos alunos participarem de competições oficiais. O registro foi feito por Francisco Valente, professor de jiu jitsu de Edeson na academia e que tem os requisitos necessários (faixa preta) para assinar a documentação.

Equipe tem registro oficial para participar de competições de federações. Foto: Felipe Rosa
Equipe tem registro oficial para participar de competições de federações. Foto: Felipe Rosa

Valente também dedica seu tempo ao projeto voluntário. Vai algumas vezes por mês até a escola, acompanhar e orientar os treinos e instrutores (Edeson e o professor Michel Elias). Está tentando melhorar e aumentar o espaço para os treinos, além de buscar inserir o projeto na lei de incentivo ao esporte, com apoio de mães de alunos.

Medalhas

Com poucos meses de treino, os alunos do professor Edeson passaram a participar de competições e rapidamente conquistaram medalhas, tamanha a dedicação. A equipe tem um campeão invicto no campeonato deste ano. Bruno Ermelino Machado, 15, estudante do 1.º ano do Ensino Médio, levou ouro nas duas primeiras etapas do ano. Se ganhar mais duas das seis etapas, ele já será o campeão da temporada em sua categoria.

Garotada já coleciona diversas medalhas nos campeonatos disputados. Foto: Felipe Rosa
Garotada já coleciona diversas medalhas nos campeonatos disputados. Foto: Felipe Rosa

Mas participar de competições tem sido um desafio. Mês passado eles foram para Guarapuava, participar da segunda etapa do campeonato paranaense. Trouxeram 12 medalhas (sete ouros, três pratas e dois bronzes) e ficaram em 10.º lugar no ranking das melhores equipes paranaenses. Mas foi um sufoco conseguirem R$ 2 mil para pagar o ônibus.

Mês que vem, no dia 15 de julho, haverá mais uma etapa em Londrina. A locação do ônibus custa R$ 3 mil e os alunos não sabem de onde vão tirar a quantia. Quem tiver como ajudar financeiramente no transporte dos alunos, pode telefonar para a diretora da escola, Andreia Saldanha de Pinho: (41) 3346-8989. O projeto também precisa de quimonos e lanches.

Da água pro vinho

Adrian Barboza, 16 anos, aluno do 1.º ano do Ensino Médio, vivia indo pra sala da diretora. Era bagunceiro, tirava várias notas vermelhas e sua mãe era sempre chamada na escola. Desde que começou a treinar jiu jitsu com o professor Edeson, no Colégio Estadual São Pedro Apóstolo, mudou “da água pro vinho”. Quase não tira mais notas baixas, não vai mais para a coordenação e foi elogiado pela ex-diretora no último conselho de classe.

Em casa, diz Adrian, sua mãe também percebeu a mudança. “Ela diz que agora eu sou mais organizado, mais dedicado”, diz o adolescente, que em pouco mais de um ano treinando, já participou de quatro campeonatos e ganhou três medalhas de bronze. Os treinos na escola são só duas vezes por semana. Mas Adrian e os amigos gostam tanto que vão todos os dias pro tatame brincar, treinar, limpar a sala e arrumar o material.

Maria Eduarda sempre acompanha o irmão Kauê nos treinos. Foto: Felipe Rosa
Maria Eduarda sempre acompanha o irmão Kauê nos treinos. Foto: Felipe Rosa

Quieto

Kauê de Carvalho Brito, 14, aluno do 9.º ano do Ensino Fundamental, também era da turma dos bagunceiros, não praticava nenhum esporte e mudou muito depois do jiu jitsu. “Aqui a gente aprende respeito, disciplina”, diz ele, ao lado de sua maior incentivadora, a irmã Maria Eduarda, 4, que pede à mãe, Renata de Lima Carvalho, 38, para que a leve aos treinos junto com Kauê. “Duda” também veste quimono e vai para o tatame. Já sabe diversas técnicas, acredita que o irmão vai ser um grande campeão e vai ficar rico.

“Ele era quieto, não conversava, não saia, não tinha amigos. Depois que começou a treinar, melhorou na escola, em casa. Ele é interessado na luta, se espelha muito no professor dele, no caráter. Então decidimos incentivar. É um investimento no futuro dele”, diz Renata. Kauê gosta tanto do esporte que, além dos treinos na escola, vai todas as noites à academia onde o professor Edeson treina, para aperfeiçoar a técnica. “Objetivo é o ouro”, resume o garoto.

Maria Isabel: rumo ao ouro. Foto: Felipe Rosa
Maria Isabel: rumo ao ouro. Foto: Felipe Rosa

Mulheres determinadas

No tatame do professor Edeson também tem mulheres medalhistas. Maria Isabel Moreschi, 16, aluna do 3.º ano do Ensino Médio, treina desde o início do projeto, já participou de três campeonatos e ganhou uma medalha de prata e outra de bronze. Ela revela que, no começo, não tinha muito apoio da família. “Eles não botavam muita fé. Minha mãe não queria muito que eu viesse lutar. Mas quanto eu ganhei minha primeira medalha, que foi a de prata, eles viram que era pra valer e todos passaram a me apoiar”, relata.

A categoria de Maria Isabel é uma das mais disputadas no campeonato. No final do mês, a equipe participará de mais uma etapa do campeonato paranaense em Curitiba. “Meu objetivo é o ouro”, almeja.

Alunos melhores

Andreia Saldanha de Pinho, diretora da escola, nota as mudanças nos alunos que participam do projeto. ‘Vemos alunos mais disciplinados, organizados, dedicados. Pois eles sabem que precisam de tudo isso para competir em campeonatos. E isso acaba refletindo no comportamento em sala de aula. Hoje eles ‘abraçam’ a escola com outro olhar. Já não são só alunos da escola, eles se sentem parte da escola. Vêm pra cá mesmo que não tenham atividades curriculares. A escola passou a ser um lugar prazeroso pra eles”, comemora.

Projeto se mantém com doações. Foto: Felipe Rosa
Projeto se mantém com doações. Foto: Felipe Rosa

Sobre o autor

Giselle Ulbrich

(41) 9683-9504