Tatuquara

Busca por justiça

Escrito por Lucas Sarzi

Homem acusado pela polícia de participar de assalto pode estar preso injustamente

Esteves Alves de Oliveira, 34 anos, foi preso em 13 de dezembro suspeito de um assalto a um aviário no bairro Tatuquara, em Curitiba. A família alega que ele não cometeu o crime e diz ter provas. A Polícia Civil, que fez o flagrante da prisão do homem, empurra a responsabilidade para a Polícia Militar, que por sua vez devolve para os colegas da Civil. Neste desencontro de informações e responsabilidade, Esteves pode estar preso injustamente.

O medo dos familiares é que o homem seja transferido para uma penitenciária. O assalto foi cometido por três bandidos. Pouco tempo depois, Esteves foi preso, em casa, enquanto estava com a família reunida para uma oração da igreja. “Foi horrível, entraram, pegaram ele na frente de todo mundo e foram embora”, desabafou Leile Aparecida Machado Oliveira, esposa de Esteves.

Esteves continua preso e família diz que ele está sendo injustiçado. Foto: Arquivo Pessoal
Esteves continua preso e família diz que ele está sendo injustiçado. Foto: Arquivo Pessoal

No dia da prisão, o dono do aviário não teria reconhecido Esteves no momento em que ele foi preso pela Polícia Militar, só depois, através de uma foto, na delegacia. Contudo, dias depois, voltou atrás. “A esposa dele me mostrou fotos e vimos que não tinha nada a ver. Os assaltantes eram jovens e Esteves é mais velho”, comentou o comerciante, de 38 anos, que preferiu não ser identificado.

Segundo o dono do aviário, quando a PM prendeu Esteves, em nenhum momento ele viu quem era o detido. “Não cheguei a olhar pra ele, ou falei que era bandido. Os policiais disseram que era ele, porque o rastreamento da tornozeleira apontou que ficou cinco minutos parado próximo ao aviário, e eu acreditei no que os policiais disseram”, explicou o comerciante.

O reconhecimento, na delegacia, veio enquanto o comerciante fazia o boletim de ocorrência do assalto. “O delegado me mostrou uma foto dele (Esteves), mas essa foto não tinha nada a ver com a foto atual. Eu estava abalado, já era madrugada, nervoso e cansado. Fui pelos policiais militares e confiei”.

Ainda conforme o dono do aviário, no momento em que Esteves foi preso, com ele não foi encontrado nada do que foi levado no assalto. “E os três bandidos fizeram a limpa. Levaram relógio, documento, mochila, celular, dinheiro, tudo o que conseguiram pegar. Pelo menos alguma coisa estaria com ele”, completou o comerciante.

Transferências e trauma

Preso, o homem foi encaminhado a Central de Flagrantes, no Centro. Na tentativa de ajudar, o dono do aviário se propôs a fazer uma carta e a registrou em cartório. A família de Esteves procurou a polícia, foi atrás da Justiça e não obteve nenhuma resposta. “O juiz substituto não quer analisar o caso. O tempo vai passando e meu marido vai pagando por algo que ele não cometeu”, disse a esposa.

Depois de alguns dias detido no 11.º Distrito Policial, Esteves foi encaminhado ao Centro de Triagem, no Centro. No passado, Esteves foi preso por tráfico de drogas. “Ele ficou quatro anos preso, mas foi solto e estava com tornozeleira eletrônica. Nunca foi traficante, foi preso porque estava com um pouco mais de maconha do que a quantidade que seria considerada de usuário”, explicou Vera Lucia dos Santos, a tia do homem.

Depois que saiu da cadeia, o homem passou a frequentar a igreja e se batizou. “Como nunca foi bandido, já estava trabalhando. Conseguiu emprego registrado, como serviços gerais. E outra coisa, o assalto que acusaram ele foi na mesma região em que moramos, como que meu marido faria uma coisa dessa perto de casa?”, indagou Leile.

Além do trauma de ser assaltado, o dono do aviário sente também por ter contribuído que Esteves fosse preso e também teme porque os verdadeiros assaltantes estão soltos. “Me sinto mal pelo que aconteceu, principalmente sabendo que tem uma pessoa que não tem nada a ver respondendo pelo que não fez. Meu medo é que os verdadeiros bandidos voltem”, afirmou.

Incerteza

Sobre a prisão de Esteves, a Polícia Militar informou que os policiais encaminharam o homem à delegacia para averiguação, por ele ter apresentado características, conforme as apontadas pelas vítimas, em relação ao autor do crime. A Polícia Civil explicou que o inquérito foi instaurado, concluído e já encaminhado à Justiça. Com base nisso, apenas um juiz pode definir o futuro de Esteves. A Tribuna procurou o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) e aguarda retorno.

Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

(41) 9683-9504