Tarumã

Dupla recompensa

Voluntário é aquela pessoa que exerce algum trabalho sem receber nada em troca. Certo? Errado. Para muita gente, essa até pode ser a definição do voluntariado, mas a afirmação não condiz com a realidade de quem participa das ações comunitárias. A dona de casa Iria Bueno é um exemplo de que a recompensa para quem doa uma pequena parte do tempo a quem mais necessita é muito maior do que se pensa. Desde 2003 ela faz parte do quadro de voluntários do Lar dos Idosos Recanto do Tarumã.

Iria: dou 0,5% de mim e ganho 99,5%. Foto: Felipe Rosa
Iria: dou 0,5% de mim e ganho 99,5%. Foto: Felipe Rosa

“Costumo dizer que dou 0,5% de mim e ganho 99,5%. É muito bom e gratificante ser voluntária. Eu ganho em estar junto com eles. É um aprendizado contínuo”, diz Iria, uma das responsáveis pelo setor de costura. Conserta roupas e faz ajustes em doações recebidas pelos idosos. De uma a duas vezes por semana ela sai de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, com destino ao asilo, na capital.

Daniella ajuda na produção de fraldas, bazar ou lavanderia. Foto: Felipe Rosa
Daniella ajuda na produção de fraldas, bazar ou lavanderia. Foto: Felipe Rosa

Com a mesma frequência, a advogada Daniella Laureanti Rodrigues, 48 anos, sai de casa para investir algumas horas do dia na produção de fraldas, no bazar ou na lavanderia da instituição. O ofício é exercido há pouco mais de um ano. “Depois que parei de trabalhar, fiquei muito tempo em casa e parecia que faltava alguma coisa. No ano passado, minha filha, por intermédio da faculdade, veio até esse asilo. Acabei descobrindo mais sobre ele e me interessei. O fato é que ninguém assiste os idosos. Quando uma criança é órfã, por exemplo, sempre tem alguém para ajudar a cuidar ou amparar seja uma avó ou uma tia. Os velhos, não. Todo mundo foi criança. Mas idoso ainda não. É uma experiência única e que te faz crescer por dentro”, explica Daniella.
Ela explica que uma simples conversa acaba por fazer a diferença. “A gente troca uma ideia, coisa rápida, e no dia seguinte eles contam que chegaram a sonhar com isso. Perguntam pela gente, inclusive”, lembra a voluntária.

Dos 140 idosos atendidos, 120 são internos e 20 passam o dia no asilo, voltando para casa à noite. Muitos deles foram abandonados por familiares ou não tinham quem pudesse dar os devidos cuidados.

Churrasco com histórias

Em datas festivas, um grupo é responsável pela organização de almoços comemorativos. A empresária Eliane Paixão Rodrigues, 41, é a coordenadora do grupo Entre Amigos Pela Ação Social, que promove ações em diversas entidades e também para pessoas necessitadas. “Aqui nós fazemos um churrasco aos domingos de datas especiais. É uma tradição. Isso anima eles. É um cardápio diferenciado e a gente tem a oportunidade de conversar e ouvir as histórias de muitos”, explica Eliane. “Acho que a maior necessidade deles é conversar. Tendo alguém para dar atenção e ouvir já ajuda muito eles têm boas lembranças para compartilhar”.

Trabalho estimado

Arlindo: serviço nota mil. Foto: Felipe Rosa
Arlindo: serviço nota mil. Foto: Felipe Rosa

Quem melhor para avaliar o trabalho voluntário do que o público beneficiado pelas ações? “Tudo gente boa. O serviço é nota mil. Se não fosse por eles, as coisas não iam funcionar bem como funcionam. A gente, graças a Deus, por enquanto tem saúde, mas tem muitos aqui que não podem andar e são cadeirantes ou precisam de fisioterapia, por exemplo, e é aí que entra o voluntário”, afirma Arlindo Szychta, 62 anos. Há cinco meses se tornou morador do asilo, onde também exerce a função de marceneiro nas horas livres. “Continuo trabalhando e vou até onde eu puder. É gostoso ver o serviço pronto, aprendi aqui e, além do mais, assim você ocupa a cabeça”.

Odino: pessoal me trata muito bem. Foto: Felipe Rosa
Odino: pessoal me trata muito bem. Foto: Felipe Rosa

O amigo Odino Leite da Silva, 74 anos, é um pouco mais velho na casa. Completou cinco anos. “Meu pai faleceu, minha mãe faleceu. Fiquei sozinho e tive um problema de saúde. Passei um tempo internado e daí eu vim pra cá. Sou bem cuidado e o pessoal me trata muito bem. Mas eu também ajudo no que precisa, carrego os outros pra cima e pra baixo, faço o que precisar”, afirma, sorridente.

Para ele, as refeições são as melhores coisas. “Tem café às 5h, 8h, almoço às 12h, café da tarde às 15h30, janta às 18h, café de novo às 21h. O pessoal não fica de barriga fazia. Quer coisa melhor que isso?”, questiona.

Crise afetou doações

Antônio Carlos: serviço dos 120 voluntários é essencial. Foto: Felipe Rosa
Antônio Carlos: serviço dos 120 voluntários é essencial. Foto: Felipe Rosa

O presidente da Sociedade de Socorro aos Necessitados, mantenedora do Recanto Tarumã, Antônio Carlos dos Santos Lima, garante que o serviço dos cerca de 120 voluntários é essencial para manter o funcionamento do asilo que sobrevive, em boa parte, de doações. “Qualquer um pode ser voluntário. Basta ter boa vontade. A pessoa vem aqui, passa por uma entrevista e vê onde se encaixa melhor. Graças a esse tipo de serviço o Recanto é mantido há quase 95 anos”, destaca.

O asilo cuida de idosos independentes, semidependentes e totalmente dependentes. A instituição, segundo Antônio, é mantida por familiares ou pelo próprio idoso, com uma parcela da aposentadoria. “Costumamos receber muitas doações, também, mas isso diminuiu demais com a crise econômica. Agora, mais do que nunca, o voluntariado tem sido de extrema importância. Temos enfrentado um problema com a folha de pagamento do pessoal. Sendo assim, precisamos cortar o quadro de funcionários e o desfalque tem sido suprido pelos voluntários”, diz.

Lar dos Idosos Recanto Taruma, dia do voluntariado. Foto: Felipe Rosa
Lar dos Idosos Recanto Taruma, dia do voluntariado. Foto: Felipe Rosa

Quer ajudar no Lar dos Idosos?

As atividades que podem ser executadas por voluntários são:
– Acompanhantes para os idosos (Auxiliar os idosos durante passeios e consultas);
– Administração (Arquivo, separação e conferência de documentos);
– Artesanato (Pinturas, bijuterias, bordados e artesanato em geral);
– Barbearia e corte de cabelo (Cortar barba e cabelo dos idosos);
– Bazar (Auxiliar nas vendas e na arrumação dos bazares);
– Biblioteca (Organizar os livros e estimular a leitura); Costura (Arrumar e costurar peças de roupas);
– Estoque (Auxiliar a separação, conferência e contagem de produtos);
– Eventos (Ajudar na organização, execução e arrumação do evento decoração, limpeza e social);
– Farmácia (Fracionar, etiquetar e separar medicamentos);
– Fisioterapia (Auxiliar o trabalho da fisioterapia);
– Higiene pessoal (Auxiliar na limpeza de objetos pessoais);
– Instrutor de informática básica (Ensinar procedimentos básicos de informática);
– Estoque (Auxiliar na separação, conferência e contagem de produtos);
– Jardim (Cortar grama, varrer folhas, zelar pelo jardim da instituição);
– Lavanderia (Colocar roupas e tirar roupas das máquinas, dobrar e passar roupa);
– Limpeza (Varrer, passar pano e zelar pela limpeza da instituição);
– Manutenção (Pintar, fazer pequenos reparos na instituição);
– Psicologia (Auxiliar a psicóloga nas atividades com os idosos);
– Terapia ocupacional (Auxilio em atividades lúdicas e terapêuticas).

Mais informações: (41) 3266-3813
Rua Konrad Adenauer, 576, Tarumã, Curitiba (PR).

Quer ser um voluntário?

O Dia Nacional do Voluntário é comemorado no dia 28 de agosto. Instituída em 1985, pela Lei nº 7.352, a data busca reconhecer e destacar o voluntariado, valorizando o trabalho de pessoas que doam tempo, trabalho e talento para causas de interesse social e para o bem da comunidade. Interessado? Confira algumas dicas:

1 – Pense sobre o que gosta de fazer: sem remuneração, é interessante que se exerça um ofício que lhe agrade ou interesse. Novos talentos podem ser descobertos.
2 – Escolha uma causa: o serviço voluntário é amplamente recebido em instituições que cuidam de crianças, idosos, adolescentes ou com causa específica, como educação, meio ambiente, qualidade de vida.
3 – Conheça: é importante fazer uma visita e conversar com os responsáveis pela organização social. Assim, verá se pode contribuir, diminuindo as chances de desistência.

Sobre o autor

Tribuna do Paraná

(41) 9683-9504