Curitiba

Trem de Natal: crianças fazem viagem especial a Morretes, na companhia do Papai Noel

Manhã de terça-feira na rodoferroviária de Curitiba. Impossível não notar, já de longe, a muvuca da criançada. Uniformizados com camisetas brancas, boné e mochilinha, os pequenos em polvorosa, corriam de um lado a outro pelo terminal da Serra Verde Express, onde a composição de 11 vagões aguardava para o embarque. Atentos, professores e responsáveis conferiam os últimos detalhes antes da partida: repelente, protetor solar, garrafa d’água. Tudo pronto.

Autorizado o embarque, não demorou para que os 200 pequenos viajantes ocupassem seus lugares, ansiosos pelo que estaria por vir. Pontualmente, às 8h30, o Trem de Natal da Serra Verde Express deixou a rodoferroviária de Curitiba rumo à Morretes, no litoral do Paraná, onde uma programação especial, reservada exclusivamente para as crianças, estava preparada. Mais que uma simples viagem, o objetivo da ação beneficente que, em 2018, chegou à sua 16ª edição, é proporcionar aos pequenos – vinculados a seis  instituições de ensino públicas e ONGs –  uma experiência única no Natal.

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Na boca da criançada, uma só pergunta ecoava no portão de embarque: “cadê o Papai Noel?”. A promessa de ver o bom velhinho, anunciada desde o início do passeio, de fato seria cumprida. Reservada para o final da viagem, a visita da figura natalina mais querida entre as crianças seria precedida de um trajeto repleto de novas descobertas, reveladas por meio da fauna e flora presentes desde os primeiros quilômetros, na saída de Curitiba, até o pé da Serra do Mar.

“Não vamos descer a serra. Vamos serpenteá-la”, anunciou a guia turística pelo microfone antes do serviço de bordo. Partindo da Estação Rodoferreoviária, o trem foi, lentamente, seguindo rumo à Serra do Mar. Até a saída definitiva de Curitiba, onde o cenário urbano pouco atraía a atenção,  a graça  maior eram as curiosidades anunciadas pela instrutora.

“Alguém aqui sabe quem é a autoridade máxima dentro de um trem?”, perguntou às crianças. “O maquinista?”, arriscou um dos pequenos. “Não. Dentro de um trem a autoridade máxima é o chefe de trem, que circula a viagem inteirinha entre os vagões e verifica se tudo está ok”, explicou. Entre outras singularidades reveladas sobre o trajeto de aproximadamente 68 quilômetros, a riqueza da fauna e flora locais eram, sem dúvida, as mais notáveis.

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Alguns quilômetros mais à frente, no entanto, todos os olhinhos se voltaram a um único atrativo: as janelas da composição, por meio das quais as belas paisagens da serra começaram a despontar. Represa Caiguava, Reservatório do Marumbi, Véu da Noiva, Canyon do Ipiranga. Entre um túnel e outro, a beleza da floresta arrancava exclamações sinceras dos pequenos.

“Para a maioria essa é a primeira viagem de trem. Muitos nem dormiram essa noite tamanha a empolgação”, afirmou a professora Elisabete dos Santos Silva, responsável por um grupo de 8 alunos da Escola Municipal Professor Germano Passionrick.

“Macaco bugio, gambá, serelepes, borboletas azuis. Tudo isso tem na floresta. Mas como eles já estão acostumados ao ir e vir do trem, nem chegam perto dos trilhos”, explicava a guia turística pelo caminho. Quanto mais naquela manhã, onde, sem aviso, um grupo de jovens da Associação Beneficente Dikaion, que estava no mesmo vagão, trouxe ao trajeto um som diferente do da locomotiva. Munidos de violinos e flautas transversais, o grupo deu início ao ensaio do repertório especial a ser apresentado na chegada, em pleno coreto central de Morretes. Misturadas ao som do trem, as notas da trilha de abertura da série “Game of Thrones” tornavam o passeio ainda mais especial.

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“Eles se prepararam por muito tempo e para a maioria essa será a primeira oportunidade de se apresentarem em público. Além de um momento especial, isso significa a chance de provarem a si próprios que, com dedicação, tudo se pode conquistar”, disse o maestro William Sampaio de Souza, responsável pelo grupo.

Muito calor

Na chegada a Morretes, o calor. Às 13h, a sensação térmica na cidade chegava perto dos 80 graus. Sob o olhar cuidadoso das professoras, os alunos eram instruídos. “Meninos que estão com blusa por baixo, podem tirar e ficar só de camiseta. Todo o mundo passou protetor solar?”, reforçava Elisabete. Entre os pequenos uma só dúvida: “será que o Papai Noel vai aparecer mesmo com esse calor?”.

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Direcionados ao saguão da Igreja Matriz da cidade, o bando encalorado recebeu almoço gratuito, típico do litoral do paraná: arroz, feijão, salada e barreado. Para a pequena Eduarda Lacerda, 13, aluna da Associação Dikaion, o grande momento, no entanto, ainda estava por vir. “Vamos cantar em inglês”, disse. No repertório do coral, Stand By Me, de Bem E. King e What a Wonderful World de Louis Armstrong, faziam parte da performance.

Depois do almoço, a praça central de Morretes foi o próximo destino. Apinhados em pequenos grupos, os alunos disputavam um espaço à sombra em torno do coreto da cidade. Com duração de cerca de 20 minutos, a apresentação musical foi curta, porém suficiente para emocionar tanto o público quanto as próprias crianças.

“Para eles, essa é uma chance única de mostrarem o quanto se esforçaram durante o ano. O fato de estarem aqui e poderem se apresentar em público significa muito. Estamos muito gratos pela solidariedade, amor e companheirismo dessas equipes que proporcionaram esse passeio. Esse é o verdadeiro espírito do Natal”, afirmou a assistente social Sandra Bertoldo, da Associação Dikaion.

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Passeio, trem, almoço, música. O passeio já estava quase no fim e nada do Papai Noel. No retorno à Curitiba, os olhares cansados se negavam a pegar no sono com o balanço do trem, na expectativa de encontrar o bom velhinho. De repente, do vagão traseiro, sininhos anunciaram o momento mais esperado do dia. Passando por todos os vagões com o saco vermelho cheio de presentes, o Bom Velhinho em pessoa tirou muitos sorrisos da criançada.

Para a pequena Ana Clara dos Santos, 10, a espera valeu a pena. “Tinham falado que ele vinha, e eu fiquei muito feliz quando ele apareceu de verdade”, afirmou empolgada, segurando nas mãos a boneca que acabara de ganhar.

Disfarçando a emoção, a professora Elisabete mal acreditava na reação dos alunos. “Olha o rostinho deles!”, disse. “Muitos jamais teriam a chance de viver esse momento. Tenho certeza de que eles jamais se esquecerão desse passeio. Desse presente que começou a partir do momento que eles sentaram nos bancos do trem. A meu ver, mais do que os brinquedos que o Papai Noel deixou, esses momentos foram o presente mais significativo para eles”, finalizou.

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Maria Luiza Piccoli

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