Curitiba

Negócio de mãe

Que a maternidade transforma a vida das mulheres, todo mundo sabe. Mas para algumas, não é apenas uma mudança no corpo e na rotina. É uma nova forma de enxergar a vida, de perceber situações, coisas e espaços que não eram vistos antes da gravidez. E é esta percepção de mãe que leva muitas delas a empreender e transformar as necessidades maternais em negócio, lucrativo e útil a outras mães.

Segundo uma pesquisa realizada pelas escritoras Patricia Travassos e Ana Claudia Konichi – autoras do livro Minha Mãe é Um Negócio – 67% das mulheres começaram um negócio próprio após a maternidade. Este é o caso das jornalistas Marcela Campos e Rosiane Correia de Freitas, que abriram em Curitiba a Vai e Vem, loja online de aluguel de brinquedos. Os pais selecionam os brinquedos no site e recebem em casa. As crianças brincam à vontade e, depois de 30 dias, os devolvem.

Foram vários os motivos que levaram as duas mães a pensarem no projeto. Marcela, mãe de uma menina de um ano, explica que as crianças, principalmente dos zero a seis anos, perdem logo interesse pelos brinquedos, o que acaba gerando pilhas deles abandonados na casa, ocupando espaço, sem contar o mau exemplo do consumo inconsequente, dos pais comprando mais e mais objetos para satisfazer e entreter os filhos. Então ela foi pesquisar sobre aluguel de brinquedos e viu que este serviço ainda não existia em Curitiba.

Mais tempo

Foto: Felipe Rosa
Marcela descobriu que não existia em Curitiba serviço que oferecia aluguel de brinquedos. Foto: Felipe Rosa

Rosiane abraçou a ideia de Marcela, não só por concordar com a linha de pensamento sobre o consumo consciente, mas também porque enxerga na nova empreitada a possibilidade de ter mais tempo para estar com seu filho de 3 anos e poder planejar a própria vida. “Quando você tem filho pequeno, o seu tempo é precisoso. E quando você trabalha numa empresa, você não é dono do seu tempo”, analisa Rosiane, que viu na loja online a possibilidade de tornar o seu horário de trabalho mais flexível.

Como a loja está funcionando há poucos meses – desde novembro – ela ainda não conseguiu essa flexibilidade. “Empreender não significa trabalhar menos, já que demanda muito tempo”, alertou a mãe. Muito pelo contrário, a jornalista e programadora ainda divide manhã, tarde e noite entre a loja e a coordenação do conteúdo digital do site de uma faculdade. Mas, daqui a um ano, ela espera ter conseguido organizar bem a rotina para chegar ao objetivo.

Ambas estão bem colocadas no mercado de trabalho e não teriam a necessidade de empreender. Mas além de estarem observando a retraída do mercado por causa da crise, foram muito motivadas a levar adiante um projeto útil a outros pais e que traga a elas, no futuro, a possibilidade de ver mais de perto os filhos crescerem.

Jantar em família

Foto: Divulgação / Paulo França
Thaynna criou um espaço para crianças fazerem suas próprias pizzas. Foto: Divulgação / Paulo França

Thaynna Bufrem, 29 anos, mãe de dois meninos, de quatro e seis anos, sentia falta de poder jantar tranquilamente com o marido, saborear um vinho, conversar sem interrupções, sem ter que ir atrás dos filhos entre as mesas ou fora do restaurante, a cada dois minutos. E foi numa noite, jantando com o marido na pizzaria dele, que ela tele a ideia tamanho “família”.

“Eu vi umas crianças correndo ao redor da mesa. Criança come e já se levanta, quer brincar. Não tem paciência de ficar duas horas sentada. Foi quando eu tive a ideia do Carollinha”, diz Thaynna que, a princípio, recebeu alguma resistência dos sócios de seu esposo, que ainda não tinham filhos e achavam arriscado destinar um espaço tão grande do empreendimento às crianças.

Crianças no Carollinha. Foto: Divulgação/ Paulo França
Crianças no Carollinha. Foto: Divulgação/ Paulo França

Em sete meses, o Carollinha ficou super movimentado e aumentou a fidelidade dos que já frequentavam a pizzaria. Os pais ficam no Carolla, jantando sossegados, enquanto as crianças ficam no espaço destinado a elas fazendo suas próprias pizzas e brincando, acompanhadas o tempo todo dos monitores e recreadores. Só saem de lá acompanhada pelos pais ou monitores.

“Tem muitos lugares com espaço kids. Mas muitos são fast foods, não restaurante, ou então, não possuem monitores. Os pais têm que sair da mesa de jantar para ficar acompanhando os filhos nos brinquedos. Eu não queria isso. O Carollinha não é exatamente um local que reúne a família, mas trata bem toda a família. Só sendo mãe para entender essas brechas do comércio, que ainda são muito grandes”, observa.

Renovada

Foto: Divulgação / Paulo França
Thaynna: “A maternidade ampliou muito minha visão.” Foto: Divulgação / Paulo França

Empreender foi um grande passo na vida de Thaynna. “Eu sempre só estudei, nunca trabalhei. Não me achava apta a nada. Depois fui ser mãe e dona de casa. Depois de abrir o Carollinha, me senti capaz, me deu confiança e coragem para seguir em frente. Antes de ter filhos, eu não conseguia enxergar como a mulher pode ser multidisciplinar. Mas a maternidade ampliou muito minha visão. Hoje percebo que posso conciliar o trabalho (na pizzaria e em uma loja), cuidar dos filhos e da casa. Eu até passo menos tempo que antes com meus filhos, mas a qualidade do tempo com eles passou a ser bem melhor”, conta.

Sobre o autor

Giselle Ulbrich

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