Sítio Cercado

UPS dominada

Há cinco anos, com a instalação da Unidade Paraná Seguro (UPS) da Vila Osternack, no bairro Sítio Cercado, em Curitiba, a promessa do governo do Paraná era que a população teria mais segurança. Atualmente, pouca gente sequer se lembra de que ali, na Rua Eduardo Pinto da Rocha, existia uma base policial. A Polícia Militar (PM), por sua vez, se defende informando que a base foi trocada por um módulo móvel.

Acontece que, diferente do que consta nos sites da Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp) e da PM, que a UPS continua ativa, o que a Tribuna do Paraná encontrou no local foi o contrário: abandono. No próximo mês de agosto a instalação completa seu quinto aniversário, mas para a população, ficou apenas a preocupação, já que o local não recebe mais policiais e, sim, vândalos.

Segundo os moradores que conversaram com a reportagem, mas pediram para ter seus nomes trocados por medo de represália, a UPS do Osternack hoje é um verdadeiro sinônimo de dinheiro público jogado fora. “Não consigo nem me lembrar quando foi a última vez que vi um policial aqui dentro”, comenta José da Silva*.

UPS Vila Osternack, no Sítio Cercado. Foto: Átila Alberti
UPS Vila Osternack, no Sítio Cercado. Foto: Átila Alberti

O contêiner colocado no terreno ainda está lá, mas já sem os adesivos que indicavam a presença de uma UPS, e os vizinhos contam que só não foi completamente destruído porque os vândalos o utilizam para dormir. As janelas foram levadas há muito tempo e a porta arrebentada. “O pior mesmo é por dentro. Cheira urina e fezes. Isso sem contar a destruição. É horrível ver isso do jeito que está”, comenta Joaquim Manoel*.

A UPS foi criada para aproximar a PM dos bairros e trazer segurança aos locais mais críticos da capital. Todos os espaços eram equipados com, pelo menos, quatro cômodos e um banheiro, mas o que se encontra agora são móveis – os poucos que sobraram – quebrados, sujos, molhados e deteriorados pelo tempo. “Não sei como ainda não tiveram a ideia de ocupar o contêiner pra morar”, diz Joaquim.

O espaço já nem tem mais identificação de UPS. Foto: Átila Alberti
O espaço já nem tem mais identificação de UPS. Foto: Átila Alberti

Medo toma conta

Sem a presença dos policiais na região, passar perto do espaço onde funcionava a UPS se tornou desafio. “A gente vem sempre ressabiada. Muita gente já foi assaltada ao lado do ponto onde antes a gente se sentia seguro. Andar por aqui, só de dia”, relata Janaína Santos*, que caminhava com duas crianças.

Com o abandono da UPS, moradores têm medo até de até esperar pelo ônibus. Foto: Átila Alberti
Com o abandono da UPS, moradores têm medo até de até esperar pelo ônibus. Foto: Átila Alberti

O comerciante Wilson de Oliveira*, que há quatro meses trabalha na região da UPS, contou que até mesmo pegar ônibus se tornou complicado. “Graças a Deus, nunca fui assaltado. Mas já vimos de tudo por aqui. No ponto de ônibus, na saída da escola, que fica do outro lado da rua, a coisa tá feia e o que dói mais é saber que se os policiais estivessem aqui, isso talvez não aconteceria”.

O projeto da UPS ficou pouco tempo na Vila Osternack, segundo os moradores. “Foi instalado em 2012, mas há pelo menos dois anos não tem mais ninguém ali, só os vândalos e usuários de drogas mesmo”, aponta Janaína.

Menos mortes

Segundo as estatísticas divulgadas pela Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná (Sesp-PR), o número de homicídios no bairro caiu. De janeiro a março deste ano, sete pessoas foram mortas no Sítio Cercado. Em 2016, 15 assassinatos foram contabilizados nos três primeiros meses do ano. “Mas, indiferente se aumentaram ou diminuíram as mortes, a gente continua com medo, porque a sensação que temos é que estamos esquecidos. Queríamos, pelo menos, poder dizer que nosso dinheiro foi bem investido”, observa Joaquim.

*Os nomes reais dos entrevistados foram trocados por nomes fictícios, a pedido deles, por temerem represálias.

Empurra-empurra

Conforme apurou a Tribuna, a Polícia Militar (PM) emitiu um protocolo pedindo a retirada do contêiner da UPS Osternack do endereço, justamente pela reclamação da população, mas até o momento nada foi feito. A Sesp, por meio da assessoria de imprensa, não entrou em muitos detalhes sobre o imbróglio que a envolve. A secretaria informou apenas que “busca uma sede nova para a UPS, num terreno a ser cedido pelo poder público municipal e aguarda posicionamento da Prefeitura de Curitiba”. Já a administração municipal se limitou a informar que o pedido está em trâmite.

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

A PM, por sua vez, informou que a UPS não foi desativada, mas também não entrou em detalhes sobre o abandono do contêiner e também não respondeu à pergunta da reportagem sobre a denúncia da população, de que há pelo menos dois anos não se vê policiais no espaço. Conforme a nota enviada pela assessoria de imprensa da corporação, “a UPS continua atuante, com efetivo e viaturas próprios. Um módulo móvel, por exemplo, circula na região, além das operações policiais”.

Problema em outros bairros

De acordo com a PM, nenhuma das dez UPSs instaladas em Curitiba ao longo de 2012 foi desativada. A corporação ressalta que, com exceção da unidade do Sítio Cercado, que aguarda a definição do novo local, as outras nove estão funcionando – em contêineres ou sedes físicas.

Mas a Tribuna já mostrou casos parecidos de abandono e descaso em vários bairros. No Tatuquara, o contêiner foi desativado e a UPS foi transferida para uma sede de alvenaria, a 1,9 quilômetro de distância. Já no Parolin, a UPS que funcionava em um contêiner na esquina da Rua Antônio Parolin Júnior com a Rua Brigadeiro Franco foi deslocada para a Praça Afonso Botelho, no Água Verde, a uma distância de 2 quilômetros.

No Cajuru, a UPS Vila Trindade deixou de funcionar e o atendimento foi incorporado pela UPS Uberaba. Por sua vez, moradores da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) reclamam que a UPS instalada na Vila Verde está frequentemente fechada, o que dificulta o atendimento às ocorrências policiais da região.

Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

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