Sítio Cercado

Quebradeira!

“Esperança”, palavra em grafite que ilustra um dos muros da Escola Municipal Dona Lulu, na Rua Milton Miramir Visinoni, no Sítio Cercado, é algo que funcionários e pais de alunos estão perdendo. Nesta semana, o colégio foi invadido por vândalos que quase mandaram tudo “para os ares”. O estrago só não foi pior porque os bombeiros foram rápidos e evitaram que o fogo atingisse um botijão de gás.

Tudo aconteceu em plena luz do dia, próximo das 18h da última terça-feira (19). Os vândalos invadiram a escola pela parte de fora, rompendo uma das proteções da janela que dá acesso à despensa. Lá dentro, os marginais jogaram tudo no chão, destruíram o que conseguiram e na saída atearam fogo.

“Quando os bombeiros chegaram, o fogo estava quase na sala ao lado e aí seria destruição total. O botijão, grande, estava cheio e iria explodir tudo”, contou uma das funcionárias, que pediu para não ser identificada. Do lado de fora, os marginais ainda tentaram invadir a sala dos professores, mas foram impedidos por uma porta pantográfica.

De acordo com os funcionários, não foi possível precisar se algum pertence da despensa da escola foi levado, porque o que sobrou foi tomado pelo fogo. As aulas voltam na semana que vem. Caso não seja feito o reparo em tempo, a merenda dos alunos será cortada.

Problema vai além

Foto: Átila Alberti
Tudo aconteceu em plena luz do dia. Foto: Átila Alberti

O dia a dia dos funcionários, pais de alunos, crianças e vizinhos da escola tem sido problemático. “E não vem de hoje, é só observar a escola do lado de fora. Está toda pichada, não aguentamos mais pintar e fazer manutenção”, desabafou a funcionária.

A escola até tinha câmeras de segurança, que poderiam identificar os vândalos, mas foram furtadas e as que sobraram não funcionam mais. Os vidros da parte de baixo do prédio já não são mais trocados, porque a direção não consegue arcar com as despesas. “Trocamos os de cima, quando precisa, por respeito aos alunos. Geralmente o problema era maior em janeiro, também nas férias, mas agora fomos surpreendidos”, relatou outra funcionária.

No colégio, durante o dia, estudam crianças do pré ao 5º ano e, à noite, alunos do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ceebja) e Educação de Jovens e Adultos (EJA). O parquinho dos pequenos foi destruído pelos vândalos, que agora usam o telhado da casinha do parque como motel. “Estamos cansados. Camisinha usada, encontramos no chão todos os dias, mas já teve até pendurada nas grades. Isso não é condição digna para uma criança pequena estudar”, desabafou uma funcionária da limpeza.

Burocracia trava soluções

Foto: Átila Alberti
Escola não consegue arrecadar dinheiro, pois festas são barradas pela prefeitura. Foto: Átila Alberti

Para tentar solucionar os problemas, a direção da escola faz festas e tenta arrecadar dinheiro. “O problema é que a prefeitura impede boa parte das festas. Esbarramos em burocracias”, contou uma mãe de aluno, que também não se identificou. Na tentativa de mudar o visual do prédio, os professores até pensam em pedir para que artistas façam grafite, pois aí os pichadores não agiriam. “A palavra ‘esperança’, lá no muro, está intacta. Talvez porque nós ainda temos isso, pois amamos essa escola”.

O espaço onde a escola fica abriga também o CMEI Arnaldo Agenor Bertone e o Farol do Saber. “Ficamos juntos e expostos da mesma forma. Já tentamos pedir que a prefeitura aumente as grades, faça um muro, mas dizem que não pode. Prometem muita coisa, mas não fazem nada”, explicou uma das funcionárias do CMEI, que foi alvo de uma tentativa de invasão na madrugada de ontem (20).

O Farol do Saber está abandonado. Segundo os moradores, a pintura não é feita há muito tempo, os vidros estão quebrados e a manutenção não é feita periodicamente. “Antes, até podíamos aproveitar a vista lá de cima, mas agora todo mundo tem medo de subir, não tem manutenção”, disse um homem que mora em frente ao local. A reforma, segundo funcionários, está na lista da prefeitura, mas até agora, não aconteceu.

Medo de trabalhar

Foto: Átila Alberti
Espaço virou “motel” para marginais. Foto: Átila Alberti

A reclamação sobre a segurança também foi unânime. Conforme uma das professoras, que trabalha na escola Dona Lulu há 10 anos, a chance de ser assaltado no entorno do complexo de ensino se tornou grande. “Até agora não tínhamos tanto medo, mas já tem até funcionário pensando em não trabalhar mais aqui por conta dos assaltos. A segurança está cada vez mais deficiente”.

Um morador contou que a Guarda Municipal e a Polícia Militar até são chamadas quando algo acontece por ali. “Mas a demora de quatro a cinco horas para vir faz com que quando cheguem já não adiante mais. A gente costuma nem se envolver mais, porque não adianta. Mas estamos todos tristes, porque estamos abandonados, isso é fato”.

Enquanto a equipe de reportagem estava na escola, representantes do núcleo de educação chegaram e teriam prometido para os funcionários do colégio que até o final da semana a manutenção na despensa será concluída. Uma reunião com a direção da escola e o núcleo também deve ser marcada, para apresentação das dificuldades do local.

Hora do conserto

A Secretaria Municipal da Educação informa que já iniciou os reparos necessários na Escola Municipal Dona Lulu, no Sítio Cercado, que foi alvo de vandalismo esta semana. Segundo a pasta, também está sendo providenciada a reposição dos materiais danificados, e a unidade estará pronta para o retorno dos alunos às aulas, na próxima terça-feira (26).
A escola sofreu arrombamento, seguido de vandalismo e incêndio. O ataque resultou em vidros quebrados, portas e grades danificadas e perda de utensílios de cozinha. A diretora da unidade registrou a ocorrência no 10º Distrito da Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros já realizou a perícia no local.

Em nota enviada ao jornal, a prefeitura cita que investe anualmente mais de R$ 1,5 milhão para reparar ações de pichação e vandalismo em equipamentos públicos. “É um valor próximo ao necessário para construir um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI), e que poderia ser destinado para outros investimentos e serviços”, aponta.

De acordo com o comunicado, “infelizmente, apesar dos cuidados com a segurança, muitas unidades educacionais são frequentemente invadidas e depreciadas por vândalos. O engajamento da comunidade em medidas de proteção às escolas e CMEIs é uma estratégia que as unidades utilizam para o debate sobre ações possíveis para o combate ao vandalismo”.

Em relação à segurança da escola, além de rondas periódicas realizadas pela Guarda Municipal que faz patrulhamento preventivo em complemento ao trabalho da Polícia Militar, a quem cabe o policiamento ostensivo na cidade , as unidades escolares também contam com a segurança feita pela empresa G5, por meio de sistema monitorado. Segundo dados da G5, é crescente o número de registros de arrombamentos, furtos e atos de vandalismo em unidades de ensino da região “o que, infelizmente, é parte de um contexto maior, que afeta toda a sociedade”, segundo a prefeitura. De acordo com o município, até o início de junho foram registrados 18 sinistros somente na região do Bairro Novo.

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Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

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