Sítio Cercado

Luta e liberdade

Dar voz ativa a pessoas que perderam a visão. Este foi o principal incentivo para a criação da Associação dos Deficientes Visuais do Paraná (Adevipar), em 1979. Trinta e seis anos depois, o trabalho cresceu e a entidade oferece suporte a mais de 100 famílias.

Roberto: Foto: Antônio More.
Paulo: “Nada como um grupo para saber o que realmente precisamos” Foto: Antônio More.

A ideia surgiu durante partidas de futebol com então internos do Instituto Paranaense de Cegos. O objetivo foi reunir pessoas que sabem de seus problemas e suas necessidades, para juntos chegar a uma solução. “Nada como um grupo para saber o que realmente precisamos”, comenta o diretor sócio-artístico-cultural da associação, Paulo Roberto Bueno, que nasceu com deficiência visual. “Queremos decidir por nós. Nosso destino muitas vezes é decidido por pessoas que enxergam, ficam teorizando em cima dos cegos, mas não sabem nossas necessidades”, completa Jaime de Oliveira, secretário geral da Adevipar.

Foto: Antônio More.
Jaime: ” Estamos aqui para que o deficiente visual tenha liberdade’. Foto: Antônio More.

A proposta de incentivar o esporte entre os deficientes visuais se expandiu para o atendimento social. A associação oferece atividades sociais e esportivas, aulas de orientação e mobilidade, braile, sorobã (sistema para contagem, semelhante ao ábaco) e, em parceria com o Estado e o município, aulas de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Além disso, pessoas mais carentes recebem doações de alimentos e orientações burocráticas, como encaminhamentos para o mercado de trabalho, para atendimento médico e auxílio com documentação.

“Estamos aqui para que o deficiente visual tenha liberdade. É como diz o nosso símbolo: Luta como ação, liberdade como consequência”, observa Oliveira. Hoje integrante da diretoria da instituição, ele foi ajudado pela Adevipar. Diagnosticado na infância com glaucoma, perdeu totalmente a visão aos 24 anos, mas se vinculou à instituição na adolescência, quando praticava judô e participou de várias competições internacionais. “Meu trabalho aqui é uma forma de gratidão pelo que a associação fez por mim”.

A vida continua

O maior público da Adevipar – cerca de 60% – é de pessoas que perderam a visão depois de adultos e precisam se adaptar à nova dinâmica de vida. Muitos chegam bastante fragilizados e revoltados com a situação, mas encontram na equipe a inspiração para seguir adiante.

Foto: Felipe Rosa.
Foto: Felipe Rosa.

“Alguns têm até ideias de suicídio, em depressão, mas conversando vão percebendo que a vida não acaba e que vale a pena”, destaca Jaime de Oliveira. “Se na primeira queda a pessoa desistir, que vida ela vai ter? Ela vai cair, vai bater a cabeça, mas vai conseguir”, garante ele, que não desistiu: foi casado duas vezes, tem três filhas, uma neta e não se cansa de viajar pelo mundo.

Braile

O atendimento da associação é gratuito, mas usuários com melhor condição financeira costumam fazer contribuições. Para se manter, a Adevipar conta com doações feitas pela conta de luz e também com a imprensa braile. Na própria sede da entidade é realizado o trabalho de impressão de materiais em braile, como livros, cardápios e placas de orientação. “É uma maneira que temos de nos manter. É uma fonte de renda da entidade”, comenta Jaime.

Serviço
Associação dos Deficientes Visuais do Paraná (Adevipar)
Site: http://www.adevipar.com/
Endereço: Rua Eurico Zytkievtz, 91 Sítio Cercado
Fone: 3349-1101

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Sobre o autor

Carolina Gabardo Belo

(41) 9683-9504