Curitiba Pinheirinho

Histórias de vida

Mesmo lotada de crianças, a biblioteca da Escola Municipal CEI Francisco Frischmann, no Pinheirinho, fica em silêncio quando Ivani de Fátima Michelon Pazello, 57, começa a folhear as primeiras páginas do livro que será contado. Isso acontece independente da história, mas é certo que o momento será encantador aos pequenos, que mostram reações conforme as coisas acontecem no mundo da fantasia e chegam aos ouvidos dos alunos pela voz da educadora.

O acervo no espaço é grande – são mais de 10 mil livros -, e a vontade de Ivani de trazer um momento de prazer aos alunos não deixa a desejar. Ela trabalha na escola há 25 dos seus 33 anos de atuação na rede de educação, que lhe renderam encontros agradáveis. Muitos ex-alunos se tornaram pais de novos estudantes, além de professores e estagiários na própria escola, o que para ela significa que seu trabalho deu certo. “Nós marcamos a vida deles”, avalia. Também é comum encontrar pelo bairro ex-alunos com uma carreira profissional e pessoal de sucesso. Mesmo aposentada, ela garante que não troca seu trabalho “por nada no mundo”, pois se realiza contando histórias.

Durante uma semana os alunos podem emprestar livros na biblioteca e na semana seguinte a atividade é ir ao espaço para ouvir as histórias contadas por Ivani. Porém, não são apenas os pequenos que têm este privilégio. Inúmeras vezes pessoas da comunidade acompanharam a apresentação, inclusive trabalhadores que prestavam serviços na escola e assistiram tudo da janela.

Irani nasceu no município de Lajes, em Santa Catarina, mas acredita ter uma missão a cumprir na cidade que a acolheu. “Queremos formar cidadãos críticos, crianças que saibam viver no mundo lá fora, que vão questionar. Cidadãos que saibam seus direitos e principalmente seus deveres”, garante.

Gentileza nas catracas

A cada dia passam pela cobradora Edimara de Paula dos Santos, 35, aproximadamente 650 pessoas. Desde que ela começou a trabalhar na estação tubo em frente ao Museu Oscar Niemeyer (MON), já foram quase 400 mil passageiros que ela faz questão de atender com respeito e simpatia.

Cobradora há três anos, ela diz que gosta da profissão e tem orgulho do que faz. E mesmo encontrando tanta gente todos os dias, Edimara conquistou o respeito dos passageiros, alguns que ela considera até amigos. “Gosto do trabalho, de trabalhar com o público. Os passageiros me tratam super bem e trato todos com educação. Fiz amizade com os passageiros, aqui tenho certeza de que sou querida”, conta.

A paisagem próxima ao seu local de trabalho também ajuda. Ela, que já foi cobradora nos tubos da linha Santa Cândida-Capão Raso e no Boqueirão, também adora contemplar o monumento símbolo do MON, o olho. “Dá um ânimo muito bom ter uma vista dessas. É um lugar muito bonito. Por aqui passam bastante turistas, bastante gente de fora e bem educada”, afirma ela, que não pretende mudar de local de trabalho.

A mudança, na verdade, só terá uma razão e acontecerá quando ela conseguir sua carteira de motorista para o sistema de transporte coletivo. “Vai ser bem legal. Na empresa só tem uma mulher motorista e sem dúvida, vou levar minha simpatia para os passageiros. Além disso, o transporte é superimportante para a cidade”.

Guarda com muito orgulho

“Ser guarda municipal pra mim representa tudo: a confiança da população, o orgulho em saber que as pessoas acreditam no nosso trabalho”. É assim que o guarda Cláudio Strobino Júnior, 43, apresenta a profissão (seu 16.º emprego), que também reflete diretamente no cotidiano de Curitiba. Na corporação há quase 19 anos, ele já esteve em todas as áreas da cidade, como pontos turísticos renomados, parques e nos bairros.

Atualmente Strobino trabalha durante a noite, período que combate uma situação que se tornou um problema na cidade: a pichação. “Está em alta. Prendemos no mínimo dez pichadores por noite e ainda assim não damos conta”, lamenta. Além da área central, os pichadores também escolhem pontos isolados como o Viaduto Capanema e escolas.

Mas o trabalho de guarda municipal também rende histórias inusitadas e que já tiveram repercussão nacional. Além da tradicional lenda da Loira Fantasma, Strobino se envolveu no caso da Morena Fantasma, que aconteceu em 2001. Durante o trabalho no Cemitério Municipal, no dia de Finados, ele atendeu uma moça passando muito mal. Uma equipe de reportagem que acompanhava a movimentação no local fez uma matéria sobre a situação, que chamou a atenção de uma senhora que assistiu a transmissão e quatro anos antes tinha perdido uma filha muito parecida com a moça atendida pelo guarda municipal. Coube a Strobino explicar a situação, que não passou de um equívoco.

“Curitiba é uma cidade de paixão. Não tenho a intenção de deixar a cidade. Gosto muito dos parques e das praças”.

 

 

Sobre o autor

Carolina Gabardo Belo

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