Curitiba

Supermulheres

Coragem, determinação, garra e, ao mesmo tempo, delicadeza. São algumas das características das mulheres da Polícia Militar do Paraná. Há mais de cinco anos na corporação, a soldado Danusa Nascimento, 35 anos, se desdobra todos os dias para desempenhar bem seus papéis mais importantes: o de policial militar comprometida, bem treinada e destemida, e o de mãe presente, que educa e dá a atenção necessária para seus filhos, o pequeno João Pedro de 11 meses, e Lucas, 15 anos. Tudo isto, sem deixar de lado os cuidados com a casa, com a família, amigos e, sempre que possível, um ou outro ritual de beleza.

Danusa gosta de usar o dia de folga para passear com os filhos. Foto: Giuliano Gomes
Danusa gosta de usar o dia de folga para passear com os filhos. Foto: Giuliano Gomes

“Trabalhamos por escala, à vezes à noite, em outros dias pela manhã ou à tarde. Tenho que ‘me virar nos 30’ para dar conta de tudo, para conciliar o trabalho e a amamentação, por exemplo. Meu trabalho e meus filhos são minha prioridade. Com os filhos, a gente perde um pouco o sono, mas consegue. E mesmo com uma rotina puxada, sempre sobra algum tempo, damos um jeito. Quando estou de folga, gosto de sair com os meninos, de ir para a praia ou shopping”, conta.

“Sempre tive vontade de ser uma policial militar, queria desde criança. Tentei algumas vezes, até que consegui. Sempre tive vontade de ajudar as pessoas. Minha família falava para eu fazer concurso para trabalhar em um banco, mas sempre desejei entrar para a PM. E quando minha mãe me viu fardada pela primeira vez, ficou muito feliz. Mas até hoje ela diz que está sempre rezando por mim”, diz Danusa, que após o nascimento de João, trabalha no atendimento telefônico 190, dentro da Central de Operações Policiais Militares (Copom). Mas até os cinco meses de gravidez, por desejo próprio, permaneceu na equipe das Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam), que presta atendimento a ocorrências de maior risco.

“Me formei e fui direto para a Rotam, uma tropa de elite do batalhão. Fui uma das primeiras mulheres lá, fiz estágio de 60 dias e consegui permanecer no grupo. Na época, eram 40 homens e nenhuma mulher. No início foi difícil, tive que provar para o pessoal que eu era capaz. Eles não acreditavam muito, mas depois me deram os parabéns. E sempre fui respeitada pelos colegas, que não me viam como mulher e sim, como policial. Aliás, na rua o povo vê a gente como policial, independente do gênero. Para a mulher, o dia a dia é mais puxado, por conta dos afazeres com a casa e filhos. Mas dentro da polícia não tem nenhuma diferença”, relata.

Sangue frio

Foto: Giuliano Gomes
Foto: Giuliano Gomes

Para ela, saber os riscos que corre todos os dias é delicado. “A parte difícil é sair de casa. Saio falando para mim mesma que preciso voltar. Tomo todos os cuidados na rua, pois sei que meus filhos dependem de mim, mais do que nunca, preciso voltar bem para casa todos os dias. Mesmo em casa permaneço atenta. Tomo todo o cuidado, mas não fico sem minha arma, nem para dormir”.

A PM revela o que mexe com seu emocional. “Na época em que estava na Rotam passei por muita ocorrências com trocas de tiros, teve situações em que pensei: o que estou fazendo aqui? Mas é preciso manter o sangue frio e fazer o que foi ensinado nos treinamentos. E também tem a adrenalina, que é legal, a gente dá o máximo para chegar a uma situação o quanto antes, para quem está precisando é muito importante. Mas hoje o que mexe bastante comigo são as situações com crianças, nestes casos não amoleço para quem vê uma criança em risco e não faz nada”, entrega.

Preparada, treinada e equipada

Há dois anos e meio na PM, a soldado Pollyanna Leopoldo de Lima, 25, é mais um exemplo das mulheres de fibra que atuam em profissões onde o perigo é maior. Atraída pela carreira militar devido ao exemplo que tinha em casa, ela tem paixão pela profissão. “Sempre admirei a instituição. Meu pai era do Exército e sempre impôs uma rigidez militar em casa. E eu gosto de estar na rua e de atender ao público. É uma soma de fatores. Desde o início da formação e do treinamento eu já gostava do que fazia. E quanto ao perigo, desde o momento em que saímos de casa já estamos suscetíveis a ele. Por isso, saio de casa preparada, treinada e equipada. Os bandidos é que têm que ter medo”, afirma.

Foto: Giuliano Gomes
Pollyana tem paixão pela profissão. Foto: Giuliano Gomes

Casada e com um enteado, Pollyanna pensa em ter filhos no futuro. Enquanto isso, segue investindo na carreira e no relacionamento com o marido. “Minha rotina é bem dividida. Meu esposo ajuda bastante e pelo fato de também ser policial, da mesma equipe, as coisas são mais fáceis. Assim, um entende o outro quando há um chamado de surpresa, os horários nas escalas ou plantões. Minha equipe é a da Patrulha do Sossego, da Ação Integrada de Fiscalização Urbana (Aifu), que trabalha muito com operações nos finais de semana, além da parte administrativa, com atuação em Curitiba e na região metropolitana. Hoje sou uma profissional realizada, não me vejo fazendo outra coisa”, diz.

Atuando em um ambiente essencialmente masculino, a policial ressalta que a postura da mulher é muito importante para sua carreira. “Hoje em dia, o mais difícil para mulher é se impor no mercado de trabalho e na sociedade. Na PM, que é uma instituição predominantemente masculina, você precisa mostrar que trabalha como um policial masculino. A partir do momento em que você veste a farda, você é um igual, não tem diferença. É preciso conquistar e manter este respeito”, observa.

Postura firme

Foto: Giuliano Gomes
Foto: Giuliano Gomes

Extrovertida e comunicativa, a soldado, entretanto, reforça que na rua sua postura é firme. “É bem engraçado ver a reação das pessoas. Meus amigos sabem que gosto de lidar com o público, mas já teve o caso de um conhecido que ficou sem jeito de me cumprimentar, ele disse que estava séria. Mas não é assim. É que na rua a gente não pode dar essa brecha. Mas no geral a reação das pessoas é muito boa, muitos perguntam se não tenho medo e outros falam ‘que legal, uma policial feminina’. No último serviço teve o caso de um pai, que pediu para que eu tirasse uma foto com sua filha pequena, que adorava a farda e que tem o sonho de ser policial”, relata.

Ao fazer um balanço de sua vida, Pollyanna afirma ter feito a escolha certa. “Ser policial militar é recompensador. É muito gostoso quando você consegue resolver a questão, prestar um bom atendimento, quando consegue trabalhar e ser respeitada. Voltar para a casa com a sensação de dever cumprido é muito bom”, finaliza.

Sobre o autor

Paula Weidlich

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