Curitiba

Sem destino

Escrito por Giselle Ulbrich

Empresas de transporte rodoviário de passageiros podem interromper operações em breve

A chegada e saída dos ônibus de viagem, na Rodoferroviária de Curitiba, já começam a ficar prejudicadas por causa dos bloqueios em rodovias e iminência da falta de combustíveis. A maioria das companhias ainda opera normalmente rotas para todos os lugares do País. Mas algumas tiveram problemas pontuais, com atrasos em algumas rotas e cancelamento de alguns horários.

No entanto, se faltar combustível ou as estradas ficarem totalmente bloqueadas, as empresas deixarão de operar. E se a crise nas estradas persistir até a semana que vem, poderá afetar quem está se programando para viajar no feriado de Corpus Christi. As vendas de passagens para o feriado já estão com alta procura na Rodoferroviária.

A Federação das Empresas de Transporte de Passageiros dos Estados do Paraná e Santa Catarina (Fepasc) já trabalha com a possibilidade de haver cancelamentos oficiais a partir deste domingo (27).  A orientação é que as pessoas não viajem neste período, pois os bloqueios também provocam atrasos.

Nesta quinta-feira (24), a Tribuna do Paraná percorreu todos os guichês de vendas de passagens do terminal e constatou que apenas a empresa Transpen, que faz viagens para o interior de São Paulo, deixou de vender os bilhetes. Conforme o funcionário, há o risco grande dos ônibus ficarem na estrada, pois eles utilizam a BR-116 e a BR-277 como rota, justo as rodovias que estão sofrendo os maiores bloqueios. Já a Cometa não cortou horários, porém alguns de seus carros tiveram dificuldade em sair de São Paulo.

Um ônibus da Eucatur já não teve a mesma sorte. O que deveria sair 16h15 do terminal Tietê, em São Paulo, ficou preso na rodoviária e não conseguiu sair. Os passageiros desembarcaram e foram remanejados para outro ônibus que saiu às 19h e conseguiu passar pelas interdições nas estradas de madrugada.

As empresas que operam rotas para o oeste do Paraná estão fazendo viagens apenas até Guarapuava pois, adiante disto, as rodovias estão com vários pontos de interdição parcial (porém com o risco de se tornarem totais ou dos ônibus terem a passagem impedida). A empresa Princesa dos Campos e a J. Araújo cortaram alguns horários para estas rotas.

Na J. Araújo, o funcionário informou que estão vendendo passagens apenas até Guarapuava. Quem já comprou passagens para adiante disto, a empresa está devolvendo o dinheiro, remarcando a passagem ou levando até Guarapuava e reembolsando o valor do trecho restante. No ato da compra da passagem, os passageiros já estão sendo alertados do risco.

Já as empresas que operam para outros cantos do Paraná (norte e litoral), para o Paraguay, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, alguns trechos do interior de São Paulo, Rio de Janeiro, estados do Norte e Nordeste e Distrito Federal estão operando normalmente, sem notícias de interrupções de viagens ou atrasos, por enquanto.

Tanque cheio

Funcionários das empresas Graciosa, que a faz o litoral do Paraná, e Catarinense, que percorre Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e São Paulo, disseram que as empresas estão com bastante combustível para operar pelos próximos dias, até o feriadão talvez. Só param se houver bloqueios. Já algumas outras empresas estão com combustível garantido apenas para esta sexta-feira. Depois disto, não sabem como será o abastecimento e operação das rotas.

Melhor ficar em casa

Thadeu Castelo Branco e Silva, diretor da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Paraná e Santa Catarina (Fepasc), explicou que muitas empresas estão trabalhando com combustível perto de acabar. Muitas não sabem se chegam aos seus destinos, pois todas as estradas “troncais” estão interditadas parcialmente. Mas se as empresas têm certeza que algum trajeto está interrompido, nem saem da rodoviária. E se a “crise” nas estradas continuar nas próximas horas ou dias, as empresas devem parar.

A região oeste, como pesquisado pela Tribuna, é a área mais complicada, principalmente nos trechos entre Cascavel e Foz do Iguaçu e Guarapuava e Cascavel. “Porém é um cenário (bloqueios) que muda a cada minuto”, explicou Thadeu, que orienta às pessoas a ficarem atentas nos noticiários, além de olhar nos sites das empresas ou telefonar a elas, para saber como está situação, antes de decidirem fazer ou não uma viagem.

“Mas para quem não tem urgência ou grande necessidade de viajar, aconselhamos que fique em casa. Estão saindo uma série de liminares na Justiça. Algumas coisas podem começar a ser desbloqueadas, porém isso pode exaltar os ânimos. É fácil travar o estado todo e impedir a circulação rodoviária. Mas uma coisa é uma cidade parada. Outra é uma estrada parada, com manifestações e ânimos exaltados. Estamos com uma bomba relógio na mão. Imagine todos os presídios sem comida, ou hospitais sem oxigênio, porque os caminhões não chegam. Os ônibus, assim como os aviões, estão cortando tudo que é horário pra racionar combustível. Então, é melhor não arriscar e ficar em casa até as coisas acalmarem”, analisa Thadeu.

Garantindo a ida

João estava esperando a esposa na Rodoferroviária. Foto: Giselle Ulbrich
João estava esperando a esposa na Rodoferroviária. Foto: Giselle Ulbrich

O mecânico hidráulico Ricardo Andrade, 46 anos, foi com o filho, Ivan Guilherme Andrade, 18 anos, até a Rodoferroviária adiantar a viagem que já estava marcada para sábado. Ivan é ciclista profissional, líder do ranking nacional, e tem uma competição no próximo domingo, em Maringá, que ele precisa participar para manter a liderança.

Ivan viajou ontem a noite, para não ter risco de perder a prova, a Copa Cidade Canção. “Mas tenho amigos que estão indo de carro a Maringá, entre amanhã e sábado, e estão preocupados de não conseguirem voltar pra Curitiba”, disse o ciclista.

Já o operador de máquinas João Oliveira, 39 anos, estava esperando a esposa na Rodoferroviária. Ela, que vem pela primeira vez a Curitiba, embarcou em Sorocaba (SP), às 10h20, e deveria chegar em Curitiba às 16h. Mas neste horário, ela informou que ainda estava na estrada, no estado vizinho.

Panela de pressão

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