Curitiba

Sonhos de Noel

A Tribuna entrevistou Papais Noéis de Curitiba para descobrir quais os sonhos do “Bom Velhinho” neste Natal

Um é terapeuta filosófico, o outro massoterapeuta e o terceiro atualmente está desempregado, mas os três dedicam seu tempo a uma missão diferente a cada final de ano. Deixam tudo para trás e se transformam em Papai Noel, com uma única finalidade: trazer alegria e esperança de um mundo melhor às crianças. Mas, humanos que são, não deixam suas emoções de lado.

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As três histórias, de alguma forma, se entrelaçam. José Ângelo Flores, 55 anos, do Portão, Darcy Nichetti, 74, do Água Verde, e Ednelson de Lima, 52, morador do Hauer, começaram a colocar àquela roupa vermelha com a touca na cabeça com uma única intenção: ajudar as pessoas, cada um à sua maneira.

Além de sua atividade comercial, José Ângelo percorre hospitais como voluntário. Foto: Arquivo Pessoal.
Além de sua atividade comercial, José Ângelo percorre hospitais como voluntário. Foto: Arquivo Pessoal.

Massoterapeuta, José contou que quando teve a ideia de ser Papai Noel, só via a necessidade de atender às pessoas carentes. “Fiz um trabalho muito grande, há 25 anos, mais ou menos, no Hospital Oswaldo Cruz, numa época em que a Aids era uma doença que não tinha muito recurso. Lá eu vivi uma experiência muito forte, quando a pessoa já está numa fase terminal e não tem mais forças para sobreviver, e entendi o que é ser Papai Noel”.

Com o tempo, José passou a dedicar seu tempo aos hospitais, às crianças carentes e até mesmo ao trânsito. “Aproveitamos àqueles momentos que, por muitas vezes, podem ser ruins para as pessoas, de tensão, e transformamos. A gente não faz ideia do bem que faz, mas essa é a verdadeira missão”.

Darcy começou a ser Papai Noel para buscar humanização. Foto: Gerson Klaina.
Darcy começou a ser Papai Noel para buscar humanização. Foto: Gerson Klaina.

Seguindo o mesmo ritmo de José, Darcy passou a assumir a personalidade do “bom velhinho” por acaso, buscando colocar em prática, de uma forma diferente, sua profissão de terapeuta filosófico. “A experiência de querer levar às crianças essa experiência do consultório me levou a optar por essa oportunidade. Eu senti que poderia contribuir com as pessoas. Penso que tenho conseguido bons resultados”.

O mais aventureiro deles, Ednelson andava de moto e sofreu vários acidentes de trânsito. O que ele não imaginava é que seria uma dessas fatalidades que mudaria sua vida. “A vontade (de ser Papai Noel) surgiu numa cama de hospital, depois que sofri um acidente e fiquei 15 dias internado e não podia fazer cirurgia porque o sangue não coagulava”.

Ednelson teve vontade de assumir o papel do "bom velhinho" numa cama de hospital. Foto: Gerson Klaina.
Ednelson teve vontade de assumir o papel do “bom velhinho” numa cama de hospital. Foto: Gerson Klaina.

Quando conseguiu operar, Ednelson contou que foi para a casa, mas teve dificuldade para cicatrizar a perna. “Conheci uma enfermeira, que virou amiga, e se ofereceu para cuidar de mim. Minha perna ficou boa próximo ao Natal e a história toda começou quando essa enfermeira pediu um favor pra mim”, detalhou.

A mulher contou a ele que fazia serviço voluntário e uma das famílias, com várias crianças, ia ser ajudada na semana do Natal. “Eu estava numa época muito ruim, não fazia barba, estava entrando em depressão. Ela me pediu que eu me vestisse de Papai Noel e fosse com ela ajudar as crianças carentes. Era Deus que estava mandando isso pra mim. Desde então, não larguei mais”.

Sonhos realizados

Os três homens contam que, a cada ano, se sentem ainda mais realizados, mas o que é mais interessante é que seus sonhos não são pessoais, são pelos outros. “Agradeço todos os dias a Deus por estar vivo, com saúde e força para fazer isso. Quero sempre fazer mais”, comentou Ednelson, que mesmo desempregado não faz por onde para conseguir recursos que permitam seguir em frente.

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O Papai Noel do Hauer roda hospitais buscando apenas uma coisa: o sorriso de uma criança. Isso, para Ednelson, é seu maior presente. “Chegamos e vemos as crianças todas tristes, a partir do momento que consigo um sorriso, vale muito. Quando consigo dar um brinquedinho, estou dando também uma esperança a eles. Meu objetivo é fazer com que sabiam que o mundo tem muita coisa ruim, mas também pode trazer muita coisa boa”, detalhou durante uma de suas visitas ao Hospital Evangélico, na ala de queimados.

José contou que seus sonhos se realizam a cada Natal. “Acho que ser voluntário é o que faz mais sentido hoje. Durante 20 anos, só trabalhei como voluntário. A partir dos últimos anos é que comecei a ter um trabalho comercial também, mas nunca deixei de lado o social. E meus sonhos se realizam sempre. Só agradeço a Deus por transformar minhas características físicas tão semelhantes às do Papai Noel”.

Darcy, que trabalha num shopping de Curitiba, confessou que seu único sonho é contribuir para que as crianças tenham uma visão do Natal menos consumista e mais humano. “É verdade que faço deste trabalho uma parte do meu sustento, mas faço muito mais deste trabalho de Papai Noel a minha sustentação”.

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O melhor resultado, segundo Darcy, é a humanização. “O afeto, o carinho, o se colocar no lugar do outro, o receber bem, o compreender. Me faz mais gente e me leva a respeitar a individualidade de cada um”.

Mensagem de amor

Buscando passar uma mensagem de paz e amor, os três continuam firmes e fortes em seus objetivos. Às pessoas, José, Darcy e Ednelson querem apenas o melhor. “Desejo que as pessoas reflitam sobre o verdadeiro significado do Natal, que é o nascimento do menino Jesus. Que o Natal não seja apenas uma forma material, mas sim com muito amor, harmonia, paz e saúde”.

“Tenha sentimento de gratidão. Agradeça. A vida é tão bela, mesmo com tantas dificuldades, eu digo que vale a pena viver esse tempo que a gente tem”, disse Darcy. “Muita paz, muita alegria no coração. Que cada um adote uma criança e seja feliz. Você fará alguém feliz e também vai ser feliz. Feliz Natal”, completou Ednelson.

Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

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