Curitiba

Panos do triunfo

Ele atende do dono da Ferrari ao dono do Fusquinha. E a sua cliente número um, ele faz questão de contar, é a primeira dama Fernanda Richa, que de vez em quando para pra bater um papo. Estamos falando do vendedor ambulante José Carlos da Silva, o “Carlinhos da Sinaleira”, 51 anos, que vende panos de prato alvejados na esquina das ruas Martim Afonso e Professor Fernando Moreira, no Bigorrilho.

selo-vidaEle vende quatro panos por R$ 10 e diz que dá para levar uma vida boa trabalhando no sinal vermelho. Fecha na Martim Afonso, ele corre pra Fernando Moreira, e vice-versa, ligeiro que só.

Sempre animado, ele já desenvolveu suas próprias técnicas para vender bastante, sem ser inconveniente com ninguém. Carlinhos não tem as duas pernas e anda na cadeira de rodas. Então coloca uma placa alta na cadeira, mostrando o produto que está vendendo e por quanto. “Assim eu não preciso abordar ninguém e
incomodar. Todos me veem e quem quer comprar já me chama”, diz ele, que vai passeando entre os carros
e procura não ser invasivo.

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“Não fico encostando a mão nos carros ou me pendurando na janela, não fico olhando para carteira das pessoas enquanto estão procurando dinheiro para me pagar, se tem alguma mulher de saia não fico olhando. Tem que ter respeito”, frisa o vendedor.

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Sustento garantido

Chova ou faça sol, Carlinhos está lá na esquina, de domingo a domingo. Ele diz que traz do nordeste um
caminhão fechado de panos de saco todo mês. E vende tudo. Assim sustenta a família e já fez diversas conquistas, inclusive o seu “escritório”, que ele faz questão de mostrar: um carrão todo equipado e adaptado para ele, que fica parado na esquina. Além dos panos de prato, lá ele também tem café, copos e xícaras,
caso o cliente queira parar para um bate-papo.

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“Praticamente 70% das pessoas aqui me conhecem pelo nome, conheço a história de muita gente, quem morreu, quem tá vivo. Estou há 18 anos nesse ponto e sou um  exemplo para muita gente”, afirmou o vendedor,  que disse que até já ajudou pessoas a desistirem de suicídio. “Todo mundo tem suas dificuldades.
De Gênesis a Apocalipse, a humanidade sempre teve problemas. Às vezes as pessoas param aqui pra falar comigo, tristes, desanimadas, querendo desistir de tudo. Eu converso, eu aconselho, tento mostrar que as coisas vão melhorar. Estou sempre aqui, animado, feliz. E já teve gente que voltou aqui, dias depois, me agradecendo pelas palavras que falei”, orgulha-se Carlinhos, que já foi convidado até para ser candidato a vereador.

Ele finalizou a entrevista agradecendo os clientes pela preferência e convidando a primeira dama para aparecer lá de novo. “Ela já deve estar precisando de pano de chão de novo. Ela tem muitas casas né, e já faz tempinho que não passa aqui comprar panos”, brincou o vendedor, entre uma buzinada e outra que
ia recebendo dos clientes que iam passando.

Foto: Felipe Rosa.
Foto: Felipe Rosa.

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Giselle Ulbrich

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