Curitiba

Pifou!

Por Maria Luiza Piccoli

As mensagens em código são difíceis de decifrar. Palavras ilegíveis, que, se tivessem algum significado, tornariam a situação menos pior. O mais comum, no entanto, é encontrar os Painéis de Mensagens Variáveis (PMV) totalmente desligados pelas ruas de Curitiba. Aí não há mesmo o que falar. Instalados em 2012, os equipamentos tinham um objetivo: atualizar as informações do trânsito pelas vias da capital, e indicar caminhos alternativos para os motoristas.

A ideia funcionou por um tempo, mas em julho de 2015, o serviço caiu em desuso por falta de manutenção, e assim permanece até agora. Os letreiros viraram enfeite, e vias importantes da capital – que poderiam ter o fluxo de veículos otimizado – acabam ficando intrafegáveis nos horários de pico.

Ao todo, são 44 equipamentos instalados. Ativos, apenas 14 – e funcionando parcialmente. O custo da brincadeira foi alto. Nada menos que R$ 9,5 milhões utilizados para instalação do serviço que, quando funciona, no máximo emite mensagens que em nada ajudam quem está ao volante como “dirija com cuidado” e “atenção, motorista”.

“As mensagens aparecem cortadas, é difícil de ler. Ao invés de emitirem informações úteis, a gente se depara com frases sem sentido, pela metade”, afirma a publicitária Gabriela Lopes, 30, que na rota diária, de casa para o trabalho, passa pelo letreiro instalado na Avenida Visconde de Guarapuava.

Em outros trechos de fluxo intenso, como a Avenida Getúlio Vargas, e vias de acesso às estradas, como a Avenida das Torres, os painéis apagados intrigam os motoristas. “Não dá pra entender. Ao invés de comprar esses equipamentos que não funcionam, o governo poderia ter investido em serviços mais importantes como saúde”, afirma a gerente financeira Vanderlea Bussin, 48, que trabalha em uma empresa situada na Avenida das Torres.

Rotas alternativas

Não é preciso ir muito longe, no entanto, para saber que os painéis interativos – quando funcionam – são bastante úteis para desafogar o trânsito, cada vez mais complicado, das grandes capitais. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, o serviço é eficaz e, além dos indicadores de fluxo, oferece opções de caminhos alternativos quando há engarrafamento. Já em países do exterior, como os Estados Unidos, além da atualização da situação nas pistas, os painéis são utilizados também para sinalização de emergência, nos casos de reversão de pista por exemplo.

Quem explica é o especialista em trânsito e mobilidade urbana, e também professor dos cursos de Engenharia da Universidade Positivo (UP), Glavio Leal Paura. “Os letreiros são muito eficientes quando bem utilizados, principalmente para o controle de tráfego. Em cidades como o Rio de Janeiro, os painéis sugerem rotas diferentes para o motorista que está preso no engarrafamento”, esclarece.

De acordo com o especialista, para ser otimizado em Curitiba, o serviço deveria contar com uma equipe de monitoramento, responsável por apurar a situação do tráfego de veículos e atualizar as informações dos equipamentos, oferecendo opções de caminhos mais rápidos às vias e indicando aquelas nas quais o trânsito esteja livre.

Ele exemplifica: “Imagine o motorista que precisa chegar rápido à Rodoviária, preso no engarrafamento da Avenida Silva Jardim. Em uma situação como essa, os painéis poderiam oferecer informações úteis sobre o número de veículos em circulação, e indicar caminhos por vias paralelas, como a Rua Brasílio Itiberê, por exemplo. Isso ajudaria a desafogar o trânsito e facilitaria muito a vida dos motoristas”, explica. Muita gente pensa que, se por um lado o equipamento libera uma rua, congestiona a outra, fazendo com que todo o mundo siga a sugestão do letreiro. Ele esclarece, no entanto, que isso não acontece na prática. “O fluxo fica melhor distribuído, e consequentemente, mais rápido”.

O que diz a Setran?

De acordo com a Secretaria Municipal de Trânsito (Setran), os Painéis de Mensagens Variáveis (PMV) não funcionam por falta de manutenção. Em julho de 2015 ­ durante a gestão do ex-prefeito Gustavo Fruet – a empresa responsável por realizar o serviço cancelou, e não renovou o contrato com a prefeitura. A secretaria informa que está em andamento um termo de referência para o lançamento de nova licitação, para contratar um novo prestador de serviços responsável pela manutenção dos equipamentos.

Ainda não existe, segundo a Setran, uma previsão de quando a licitação será feita. Por meio de nota, a pasta informa que “a prioridade da Setran é manter a sinalização horizontal e vertical das ruas, assim como os semáforos e radares da cidade, que têm influência direta na segurança do trânsito nas vias”.

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