Curitiba

Nada de lactose

Escrito por Giselle Ulbrich

 

A intolerância à lactose é a incapacidade do nosso organismo em digerir lactose, um tipo de açúcar presente no leite. O corpo produz uma enzima chamada lactase, que é quem processa este açúcar. Algumas pessoas produzem pouco, outras nada. Para os intolerantes, quando o açúcar do leite chega ao intestino, fermenta e forma muitos gases (distensão abdominal), diarreia e dor aguda na barriga. Em algumas pessoas chega a causar indigestão, náuseas e vômito. Geralmente, os sintomas começam a aparecer de 30 minutos a duas horas após a ingestão de lactose.

O problema não tem cura e a melhor solução é não comer estes alimentos. Conforme uma pesquisa feita pela Novozymes ­ empresa que estuda enzimas e microrganismos, com objetivo de solucionar problemas biológicos ­ cerca de 70% da população mundial possui algum grau de intolerância à lactose, seja apenas um desconforto ou sintomas mais severos. Entre os produtos lácteos mais consumidos no Brasil estão o iogurte, o leite longa vida e o sorvete.

A pesquisa ressalta que nem todo mundo que compra produtos zero lactose possui intolerância, ou seja, apenas utilizam porque querem melhorar desconfortos gástricos, gases ou consumir menos açúcar. O mesmo estudo aponta que os participantes questionados disseram que aumentariam o consumo se houvesse uma maior variedade de produtos disponíveis, como iogurte (67,4%), sorvete (60%), leite condensado e manteiga (61,8%).

Existe remédio?

Para as pessoas que possuem a intolerância e desejam consumir algum laticínio, a solução é tomar um medicamento à base de lactase, a enzima capaz de processar o açúcar do leite, de 20 a 30 minutos antes da refeição. Tomado depois da comida, a lactase já não faz o mesmo efeito. O SUS não oferece o medicamento. Mas, nas farmácias de Curitiba, é possível encontrar a lactase a partir de R$ 26 (embalagem com 30 cápsulas).

Proteína do leite

Muitas pessoas confundem intolerância à lactose com intolerância à proteína do leite. Na prática, os sintomas são muito parecidos e por isto a confusão. Mas a nutricionista Tayana Fernandes Cecon, do departamento de educação alimentar da Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento (Smab), explica que, diferente da lactose, o intolerante à proteína não tem nenhum medicamento que o socorra numa crise. Ou seja, ele não pode consumir leite de forma alguma, muitas vezes, nem sentir o cheiro. Neste caso, o cuidado com a alimentação é mais difícil.

Às vezes, explica Tayana, uma pessoa cozinhou algum alimento com leite numa panela, tomou leite em algum copo ou passou margarina no pão e, mesmo que aquele utensílio tenha sido muito bem lavado (bem esfregado, com bastante sabão e enxaguado com água em abundância) existe a possibilidade de ficar traços de leite naquele utensílio, na esponja ou no pano de prato. Mesmo imperceptíveis a olho humano, eles podem fazer o intolerante à proteína passar muito mal. Por isto, esta pessoa geralmente precisa de “uma cozinha” separada para ela.

Se ela consome a proteína do leite (caseína), o sistema imunológico começa a combatê-la. Então, além dos sintomas já citados, a pessoa também pode ter inchaço nos lábios, pálpebras, língua, pulmão e glote, espirro e falta de ar, além de placas avermelhadas no corpo, coceira e até choque anafilático.

Preço dos produtos zero Lactose variam muito. Foto: Felipe Rosa / Tribuna do Paraná
Preço dos produtos zero Lactose variam muito. Foto: Felipe Rosa / Tribuna do Paraná

Valor da saúde

 

Você tem intolerância à lactose? Quanto a mais você gasta de supermercado, por precisar comprar produtos “zero lactose”? A Tribuna fez uma pesquisa e constatou que os produtos sem lactose custam, em Curitiba, aproximadamente 36% a mais que os produtos comuns. No levantamento que fizemos constatamos que vistos isoladamente os preços assustam ainda mais.

O iogurte teve uma variação de 66% do comum (média de R$ R$ 6,53) para o sem lactose (média de R$ 10,86). O leite condensado especial custa 42% mais e o leite, 36%. O produto que menos variou foi o doce de leite: o sem lactose (média de R$ 6,96) custa 18% mais que o comum (média de R$ 5,88). Então como faz?

Como não tem jeito de fugir da alimentação especial, o jeito é procurar onde vende mais barato. E equipe de reportagem descobriu que este tipo de alimento especial pode ser comprado nos Armazéns da Família, que é um “supermercado” da prefeitura que vende produtos a preços 30% mais baratos que o restante do varejo. Ao todo são vendidos nestes locais leite UHT, leite condensado, creme de leite, chocolate, granola e biscoito, todos sem lactose.

Substituir

Mas se ainda assim fica apertado comprar os produtos especiais, o jeito é substituir. O leite e seus derivados são ricos em cálcio, vitamina B e outros nutrientes, importantes para o organismo. Então, explica a nutricionista Tayane Fernandes Cecon, consumir vegetais verdes escuros e o gergelim substituem o cálcio. Se no supermercado as frutas e verduras estão caras, uma possibilidade é compra-las nos sacolões, populares ou da prefeitura, e no programa Nossa Feira. Já a carne vermelha possui vitamina B12 e é importante consumi-la pelo menos duas vezes por semana. Outra forma de repor o cálcio é consumindo casca de laranja, seja em receitas que levam raspas de laranja ou em pó, por cima da comida. Basta secá-la no forno e triturar bem no liquidificador.

Há também o leite de vegetais. Ele pode ser feito com castanha, amendoim ou amêndoas. Coloque as castanhas no liquidificador e cubra com pouca água (somente o suficiente pra bater). Depois coe com uma peneira bem fina ou um pano de prato. Esprema bem com o pano, pois é este caldo que sai das castanhas o leite propriamente dito.

 

Sobre o autor

Giselle Ulbrich

(41) 9683-9504