Curitiba

Muito respeito

Foto: Átila Alberti
Escrito por Luiza Luersen

Dia do Gari nos lembra o quanto esses profissionais são importantes pra nossa cidade. Apesar do gosto pela profissão, eles pedem ajuda da população para o trabalho ser mais digno

Há seis anos, Rose, como é chamada pelos colegas, comemora no dia 16 de maio o seu dia, o “Dia do Gari”. Contudo, apesar dos estigmas da profissão, ela não deixa a vaidade para trás. A rotina de Rosemary Farias dos Santos, 41 anos, começa todos os dias às 4h30 da manhã. Assim como diversos garis coletores, ela acorda nesse horário, organiza algumas coisas dentro de casa e segue para o Terminal de Almirante Tamandaré, onde mora, rumo à sede da unidade de coleta da Rua João Bettega, na Cidade Industrial, onde dá início ao dia de trabalho como gari coletora. Lá ela registra sua entrada às 7h da manhã em ponto e segue para um café da manhã com os colegas. Assim como muitos dos 255 funcionários somente desta unidade, ela é gari e tem muito orgulho disso.

Mãe de dois filhos, um menino de 13 anos e uma jovem de 19 anos, ela coleta das ruas de Curitiba, por dia, 466 quilos de lixo reciclável, gerando uma média mensal de 12 mil quilos recolhidos. Apesar da rotina corrida atrás do caminhão, literalmente, as unhas sempre estão pintadas, cabelo arrumado e maquiagem alinhada. Do grupo coletor de “lixo que não é lixo”, ela é a única mulher em Curitiba e nesta data de comemoração, representa os colegas que admiram a profissional.

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

“Meus colegas me respeitam muito e eu gosto muito deste trabalho. Antes eu trabalhava como auxiliar de serviços gerais e aqui, no começo, eu encontrava algumas dificuldades para ajustar a logística do trabalho, mas agora tiro de letra. Não fica lixo para trás, não”, brincou a coletora durante uma entrevista à Tribuna.

Coletores e varredores

Atualmente, a Cavo é responsável pelos serviços de limpeza, coleta e transporte de resíduos da capital. Para entender melhor, existem garis coletores e garis varredores. Aqui na cidade, são 1.770 pessoas contratadas pela empresa para estas funções. Conforme o Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação de Curitiba (Siemaco), são seis mil garis trabalhando em diversas empresas de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral do Estado.

A data é comemorada em todo o Brasil com a intenção de homenagear os profissionais. O termo “gari” surgiu em 1976, em homenagem o francês Pedro Aleixo Gary. Ele fundou a primeira empresa de coleta de lixo nas ruas do Rio de Janeiro.

Dias de luta

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

Alguns dos garis que trabalham em Curitiba estão há mais de vinte anos na mesma função. É o caso do varredor Joverci Julião, 57 anos. Ele já se aposentou, mas continua trabalhando para ganhar uma “graninha extra”. De longe, Joverci é um dos garis mais simpáticos do grupo. De sorriso fácil e gentileza, ele contou empolgado sobre a sua rotina, que começa todos os dias das 14h30 e vai até às 22h30.

“Eu acordo cedinho, ajudo minha esposa com alguns lanches que fazemos para vender, almoço, me arrumo e sigo para o trabalho. Eu moro em Piraquara e chego todos os dias por volta de meia-noite. Eu acho que daqui eu sou o mais velho. Tem gente que já morreu, tem gente que já saiu do trabalho e eu sempre faço novos amigos. Sigo no meu trabalho”, contou rindo.

Joverci trabalha na Boca Maldita, no Centro, e com tanta simpatia, muitas pessoas o cumprimentam diariamente. Ele brinca que conhece até os moradores em situação de rua. “Com tanto tempo de serviço, eu conheço todo mundo. Os trabalhadores do centro me dão oi, perguntam como estou e até aqueles que vivem na rua eu já conheço de vista”, completou o trabalhador que é pai de três filhos e avô de dois netos.

Riscos

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

Mas apesar da paixão e orgulho dessas pessoas pela profissão, nem tudo são flores, muito pelo contrário. Diariamente, os garis coletores, que recolhem os sacos de lixo nas portas e colocam nos caminhões compactadores, e varredores, acabam de machucando durante o trabalho. Isso porque nem todo mundo usa uma palavra chamada “empatia”, que é a capacidade de se colocar no lugar dos outros. Alguns são mordidos por cães, feridos por cacos de vidros e quase atropelados durante o momento em que coletam os sacos de lixo.

“É uma profissão que tem diversas dificuldades. O que a gente reforça para os moradores da cidade são as coisas básicas como acondicionar de forma correta o lixo residencial, embalar bem os cacos de vidro, descartar de maneira correta os produtos, cuidar dos seus cães e dirigir com prudência, já que muitos dos nossos trabalhadores andam pelas ruas e correm o risco de serem atropelados por motoristas”, explicou o presidente do Siemaco, Manassés de Oliveira. Para saber como funciona a coleta de lixo em sua região basta entrar em contato com a Prefeitura de Curitiba. Neste dia 16 de maio, faça sua parte e não se esqueça de parabenizar o coletor que passa pela sua casa. A profissão é admirável.

Alvos do descaso

Sobre o autor

Luiza Luersen

(41) 9683-9504