Curitiba

Mobilidade polêmica

O projeto de ampliação da capacidade da linha Inter 2, no início deste mês, recebeu a aprovação da Câmara Municipal de Curitiba para a contratação da operação de crédito de R$ 9,4 milhões, correspondente a 95% da obra, que é a parte financiada via governo federal, por meio de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2).

Com esse aval, aumentou a preocupação dos apoiadores do movimento Longa Vida ao Arquipélago de Camões, que discute soluções de mobilidade e o impacto do projeto no que se refere ao primeiro trecho a ser transformado em binário, as ruas Camões e Padre Germano Mayer. A modificação e perda de áreas de três das quatro praças impactadas pela obra, bem como a prioridade do referido trecho são os dois pontos mais criticados pelo grupo.

Um dos integrantes, o pedagogo Dráuzio de Almeida, 33 anos, que acompanha o debate desde 2005, defende que o objetivo principal de ampliar a capacidade do Inter 2 é um tanto questionável. “Dos 18 quarteirões afetados pelo binário, essa linha utiliza somente seis no sentido anti-horário da Germano Mayer e dois no sentido horário. E pelo que percebo no ônibus, a parte da Germano Mayer não é onde ocorre o maior gargalo no trajeto”, avalia.

Esse argumento, somado à previsão de modificar a estrutura atual do Jardinete Leonardo Henke e do Jardinete Aline Parigot de Souza, ambos na Rua Camões, e do Largo Izaac Lazzarotto, na Rua Schiller, aumentam o receio contra o projeto atual. “A maior urgência é a partir da Rua Souza Naves, por isso questionamos a prioridade desse trecho, ainda mais com todo o impacto para o comércio da região, a derrubada de árvores e o comprometimento da qualidade de vida nas praças afetadas pelo binário”, explica Dráuzio.

O nome do movimento tem conexão com as características dos espaços que serão atingidos pelas obras. “Essas praças são verdadeiras ilhas de convivência, que perderão essas características, pois além da linha férrea, haverá toda a movimentação das duas rápidas futuras”, prevê Dráuzio. Ele explica que o grupo em nenhum momento se opõe às transformações e quer, sim, participar das discussões sobre mobilidade na região. “Gostaríamos de ser ouvidos antes de o prefeito sancionar o projeto”, afirma.

Consulta

O presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Sérgio Póvoa Pires, garante que ouvir a sociedade será o próximo passo do projeto. Ele explica que os recursos aprovados não comportam toda a extensão do binário Ahú/Jardim Botânico, que objetiva gerar uma ligação entre Avenida Paraná e Avenida Presidente Affonso Camargo. “É uma modificação macro, mas que só é viabilizada por pedaço”.

Pires afirma que a obra no trecho entre as ruas Camões e Padre Germano Mayer também irá desafogar o trânsito de veículos de ruas como a Almirante Tamandaré. “A obra foca no transporte coletivo, mas não perde o valor por melhorar o trânsito de veículos. É necessário entender que a cidade é uma capilaridade só e a tendência é usufruir de diversos modais para melhorar o deslocamento de todos”.
Plantação de abacateiros feita por Adroaldo Giraldi está ameaçada. Foto: Ciciro BackOito décadas de mudança

Mesmo sabendo do projeto, o aposentado Adroaldo Pedro Giraldi, 81 anos, insiste em plantar abacates ao longo do Largo Isaac Lazzarotto. “Nasci e cresci nessa região já vi tantas mudanças, que aprendi a esperar para ver como vai ficar”, explica.

Sobre o risco de seus 12 pés de abacates não sobreviverem ao projeto, ele demonstra conformação. “Já plantei flores que no dia seguinte foram arrancadas. Esses abacates devem dar fruto daqui cinco anos, não estou fazendo para mim”, avaliou.

Segundo Adroaldo, na sua infância havia na região um pé de abacate que sempre ficava carregado de frutos, mas que cedeu lugar ao desenvolvimento.

Veja o vídeo

Sobre o autor

Magaléa Mazziotti

(41) 9683-9504