Curitiba

Mãe só tem… duas

Escrito por Tribuna do Paraná

A nova certidão de nascimento do pequeno Guilherme Zaroni, 8 anos, certamente vai chamar a atenção. No documento, que ainda nem chegou às mãos da família, vai constar o nome do pai, de duas mães e de seis avós. Isto porque depois do falecimento da mãe de Guilherme, há dois anos, o menino foi acolhido com muito carinho pela madrasta, a empresária Margit Riederer Zaroni, 32 anos, que quis registrá-lo como filho, mas sem apagar a memória da mãe. Assim, Margit conseguiu algo ainda inédito na Justiça paranaense: a filiação socioafetiva do menino, e ainda deu um exemplo acolhimento e amor incondicional.

A advogada da família, Liriam Sexto, explicou que adoção e filiação socioafetiva são diferentes. Na adoção, os nomes dos pais biológicos são apagados da certidão de nascimento da criança, documento que passa a ter somente os nomes dos pais adotivos. É uma história que recomeça do zero. No caso da filiação socioafetiva, a história da criança não é deixada para trás. E foi justamente esta a intenção de Margit, que não queria que Guilherme se esquecesse de sua mãe. Ela apenas queria que ele convivesse com o pai e com os irmãos, Bernardo e Laura, de 7 e 4 anos, como uma família, não só afetivamente, mas também de “papel passado”.

“Eu conversava muito com a advogada. Falávamos de guarda. Mas não posso ter guarda de algo que não é meu. Então pensamos em entrar com pedido para que eu fosse a tutora dele. Mas desta forma eu tiraria o direito de pai do meu esposo e este não era o objetivo. Fomos procurando, pesquisando, até que encontramos a possibilidade da filiação socioafetiva, que era exatamente o que eu queria”, diz a empresária.
Guilherme com mãe “afetiva”, o pai e os irmãos. Certidão de nascimento também terá o nome de seis avós. Foto: Gerson KlainaA peça jurídica ainda é novidade no Brasil e foi aplicada em poucas decisões em São Paulo, Rio de janeiro, Minas Gerais e Pernambuco. Depois de um ano de processo, há duas semanas a juíza Maria Fernanda Nogara Ferreira da Costa, da 6.ª Vara de Família e Sucessões, julgou procedente os pedidos de Margit e concedeu o direito dela ser a “segunda” mãe de Guilherme. Com isto, a nova certidão de nascimento do garoto vai constar o nome de seu pai, o engenheiro civil Leandro Zaroni, 39 anos, das duas mães (a biológica e a afetiva), dos dois avós paternos e dos quatro avós maternos. Margit também ganhou o direito de adicionar o seu sobrenome ao nome do menino, sem apagar o da mãe biológica: Guilherme Oliveira Riederer Zaroni.

Um caso de amor imediato

Margit conta que namorou por um bom tempo com o atual marido, até que romperam e, durante a solteirice, Leandro foi passar férias em Natal (RN). Lá teve um rápido romance, do qual surgiu Guilherme. Depois de voltar a Curitiba e reatar o relacionamento com Margit, o engenheiro soube do nascimento do menino. O casal então viajou a Natal para conhecer o bebê e para que Leandro o registrasse em seu nome. Devido à distância, o contato entre o casal e Guilherme não era frequente, até que um dia Leandro recebeu uma proposta de trabalho para morar em Natal. Margit e os familiares o apoiaram, pois assim Leandro poderia ficar mais próximo do filho e estreitar os laços.

Em novembro de 2012, a mãe de Guilherme faleceu devido a um problema de saúde. Então o menino ficou morando somente com a avó, já que o pai já tinha voltado a morar em Curitiba. Margit ficou comovida e junto ao marido decidiram trazer Guilherme para viver na capital paranaense, por entender que aqui ele teria uma família “completa”, com carinho de irmãos, pai e mãe e também teria melhores condições financeiras. “Tem coisas que agente não consegue explicar. Foi imediato o amor que senti por ele. O Gui é um presente de Deus, sinto como um filho”, emociona-se a empresária.
Guilherme e Margit: “Ele é um presente de Deus”, diz a empresária. Foto: Gerson KlainaAceitação ao natural

Desde que veio morar em Curitiba, no início de 2013, Guilherme foi muito bem recebido pelos irmãos e pelos primos, turma que está reunida quase todos os fins de semana e colocando a casa de Margit “de pernas pro ar”. A família da empresária e do engenheiro civil, a vizinhança e os colegas da escola também receberam bem Guilherme, que já criou um vínculo familiar e de amizade forte com todos. “Foi uma aceitação natural. Parece que ele nasceu aqui”, afirma.

“O Bernardo ficou feliz da vida quando soube que tinha um irmão. Recebeu o Gui super bem. Disse que ia dividir os brinquedos, as roupas, o quarto. Até que percebemos que estava na hora do Gui ter um cantinho só pra ele. Eu tinha meu escritório no andar de cima da casa. Quando ele foi pra Natal passar as férias com a avó, eu reformei lá em cima e fiz um quarto só pra ele”, conta a empresária, com um sorriso de um canto a outro do rosto.

Desde que Guilherme nasceu, Margit sempre foi carinhosa com ele. Logo que perdeu a mãe biológica, Guilherme logo adotou a empresária como sua nova “cuidadora”. Tanto que rapidamente passou a chamá-la de “mãe Margit”, entendendo que tinha “duas mães”. Mas o zelo e o vínculo afetivo da empresária com o menino foi tão grande que não demorou mais que sete meses para ele trocar o “mãe Margit” simplesmente por “mãe”, o que fez a empresária transbordar de alegria, já que, desde que ele veio morar com a nova família, ela o chama de filho.

Giselle Ulbrich

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