Curitiba

Homem das histórias

Deixando a vida no campo ainda adolescente e tendo cursado só até a quarta série, no Rio Grande do Sul, escolheu a capital do Paraná como cidade para morar e tentar a vida. Foi onde cresceu como pessoa e profissional. Casou-se e criou, junto com a esposa, quatro filhos. Sorridente, lembra cada detalhe de todos os episódios que marcaram sua vida. E não foram poucos.

Ao lado do Pote Chopp estava o hotel Ouro Verde – inaugurado em 1967. Por não ter cozinha própria, o estabelecimento passou a contar com os serviços do restaurante. À época, por ser um dos melhores hotéis da cidade, passou a hospedar ônibus e mais ônibus de jogadores de futebol e celebridades que vinham a Curitiba.

“Servíamos almoço e janta para os hóspedes. Nós [funcionários do restaurante] sabíamos que a regra era: não se aproximar dos jogadores. Quando vi o Pelé, pensei comigo mesmo ‘não posso deixar a oportunidade passar em branco’. Ao servir a comida para ele, botei um bilhete debaixo do prato para ele saber que eu era um grande fã e aproveitei para pedir uma lembrança. Tal qual foi minha surpresa quando soube que o maior ídolo do futebol havia deixado uma embalagem na recepção para mim. Uma camisa autografada”, comemora. Mas, será que o presente ainda está bem guardado? “Não sei, comigo não está. Vendi e fiz uma fortuna. Assim consegui pagar quase toda a faculdade de um dos meus filhos”, ri.

Além dele, Pedro se tornou amigo de outros atletas, como Zico, Ademir da Guia e Falcão – que também precisou deixar uma lembrança para o garçom: uma camisa e um chaveiro.

Neve em Curitiba

Pedro se casou no dia da neve em Curitiba.
Pedro se casou no dia da neve em Curitiba.

Se hoje muita gente só sabe da neve em Curitiba por meio de foto ou de relatos de familiares mais antigos, Pedrinho, como é chamado por alguns amigos, enche o peito para relatar cada detalhe do fenômeno que presenciou no dia 17 de julho de 1975. “Na noite anterior estava muito frio. Eu não conseguia dormir. Desci da minha quitinete, na Rua Doutor Muricy, e tomei três doses de vodka em um bar próximo, para me esquentar. Consegui dormir rapidinho. Na manhã seguinte, às 7 horas, comecei a ouvir uma gritaria e gente me chamando. Abri a porta, vi aquela montoeira de neve e voltei pro quarto. Pensei comigo ‘não é possível, devo estar bêbado ainda’. A ficha só caiu alguns minutos depois e entrei na festa com o pessoal”, brinca.

A neve na cidade fez muitos comerciantes fecharem as portas e declararem, por conta própria, feriado municipal. “Fui buscar minha noiva porque a gente precisava registrar aquele momento. Eu só tinha três poses sobrando no filme da máquina. Claro que usei todas pra guardar essa linda memória”. A foto em tamanho grande agora estampa uma das paredes da casa.

Escrevendo memórias

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

Com tantos episódios felizes e surpreendentes, seu Pedro, morador de Campo Magro, resolveu começar a publicar as histórias em um jornal do bairro vizinho, na capital, Santa Felicidade. Foi em 2011 quando ele ganhou a oportunidade de compartilhar suas crônicas no jornal quinzenal. Antes disso, fez um curso de informática por seis meses, para se adaptar ao equipamento. Causos antigos, outros nem tanto.

Os relatos começaram a cair no gosto dos leitores e o espaço foi aumentando. De presente de aniversário, um dos filhos publicou 62 histórias em um livro (Histórias de Vida) e fez 100 cópias. Entregou ao pai como surpresa. “Meu filho disse que estava meio sem grana e só poderia me presentear com palavras cruzadas – que eu gosto muito. Ao tirar o primeiro exemplar para ver melhor, percebi que todo o resto, incluindo uma caixa cheia, era do meu livro. Nunca imaginei isso. Choramos todos, foi um momento muito emocionante”, diz. Das 100 cópias, restam menos de 10. “Já vendi para Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais”. Os compradores aparecem pelo Facebook.

Planos

Família de Pedro. Foto: Felipe Rosa
Família de Pedro. Foto: Felipe Rosa

Em janeiro de 2017 a esposa também deve se aposentar. Depois disso, tem início a vida sem preocupações. “Vamos morar na praia, vamos viver a vida. Graças a Deus nossos filhos já estão todos criados e podem tocar a vida deles”, ressalta.

Mas não para por aí. A intenção é, também, viajar para fora do país. “Sou doente por filme e sempre adorei os que se passavam nos Estados Unidos. Por isso, nós vamos pra Nova York. Vou pisar na Quinta Avenida”, garante. E depois? “Vou visitar familiares em Portugal. E daí, tomar um vinho verde e comer um bacalhau, com certeza”.

Sobre o autor

Ricardo Pereira

(41) 9683-9504