Curitiba

Barriga pra dentro

Paula teve complicações na gravidez por causa de uma cirurgia plástica muito comum, a abdominoplastia. Médico aconselha pacientes a realizar a intervenção somente após ter filhos

Às mulheres, aconselha-se fazer a abdominoplastia – cirurgia plástica para retirada de gordura e flacidez na barriga – somente depois de “encerrar a fábrica” de filhos. Apesar de muito raro, a gestante pode ter problemas durante a gravidez, mesmo anos após a cirurgia plástica. Raro, mas não impossível, pois aconteceu em Curitiba com a assistente executiva Paula Bibiana Fróes, 36 anos. Ela engravidou cinco anos após uma abdominoplastia. Como seus músculos da barriga estavam muito bem “costurados”, o bebê não tinha espaço para crescer, o que levou a um parto prematuro. Felizmente, a criança está bem. Mas Paula ainda terá uma jornada médica para reparar as sequelas.

Paula já tem um filho adolescente, estava separada e não pensava mais em marido e novos filhos. Fez a cirurgia plástica na barriga, para acabar com a gordura e flacidez, e pensava em apenas aproveitar a vida. Mas um novo amor surgiu, ela se casou e eles decidiram ter um filho. Apesar de ciente da cirurgia, Paula não imaginava o sufoco que passaria. Além da informação que ela tinha, que poderia engravidar cinco anos após a plástica, se fosse o caso, ela viu outros casos de mulheres com abdominoplastia que engravidaram (até com menos tempo após a cirurgia) e não tiveram problema algum. “Inclusive uma amiga minha, muito próxima, engravidou após a plástica. Acompanhei toda a gestação dela e não houve nenhum problema”, relata a assistente.

Complicações

Paula percebeu que algo estava errado com cinco meses de gravidez. Foto: Arquivo Pessoal
Paula percebeu que algo estava errado com cinco meses de gravidez. Foto: Arquivo Pessoal

Quando Paula estava com cinco meses, percebeu que a bebê não ganhava peso. Também notou que sua barriga crescia na região do estômago, que seu quadril estava abrindo, mas a barriga estava “reta”. Os músculos, bem costurados na abdominoplastia, não “esticaram” o suficiente para dar espaço ao bebê. A assistente executiva passou a ter fortes dores no nervo ciático e na coluna, já que o feto pressionava tudo por dentro, o que a levou a passar os três últimos meses de gestação deitada, tanto para aguentar a dor, quanto para o bebê se desenvolver e ganhar peso.

Parto difícil

Com 36 semanas, Paula teve contrações. O espaço estava tão pequeno para o bebê que o corpo interpretou que já era hora de nascer. Na cesárea, o obstetra teve dificuldade em puxar o bebê, que conforme Paula, “travava” na região dos músculos costurados. Mas esse não foi o único “desespero” do nascimento. Paula sofreu na hora de suturar o corte da cesárea. “O médico tentava costurar meus músculos, mas os músculos arrebentavam com o intestino empurrando tudo para fora. Ele colocava as vísceras pra dentro, tentava costurar mais uma vez, e o intestino saía de novo. Foi desesperador. Ele acabou conseguindo fazer uma costura superficial somente na minha pele”, diz Paula, que ainda tem uma “bola” inchada do lado direito da barriga, que é do intestino empurrando a pele pra fora. “Acho que terei que fazer uma cirurgia reparadora, para colocar aquela ‘tela’ de hérnia”, diz a assistente. A bebê, que está com pouco mais de um mês de vida, está bem, se desenvolvendo e ganhando o peso necessário. Não teve nenhuma sequela. Mas, se Paula não tivesse todo o acompanhamento de profissionais competentes, havia o risco de morte fetal.

 

Como é feita a abdominoplastia?

Cirurgião plástico, Bruno Beraldi explica o procedimento. Foto: Marco Charneski
Cirurgião plástico, Bruno Beraldi explica o procedimento. Foto: Marco Charneski

O cirurgião plástico Bruno Beraldi explica que o excesso de gordura na barriga faz com que o espaço vertical entre os músculos do abdômem (a diástase do reto) formem uma “fenda” aberta. Na cirurgia, após a retirada da camada de gordura abaixo dos músculos, essa “fenda” é fechada, costurando-se os músculos do lado direito com os do lado esquerdo. Com esta redução, a pele fica flácida e é necessário cortar fora um pedaço. Então a borda de pele superior é puxada e costurada com a parte inferior. A cicatriz desta costura é feita na altura do biquíni da paciente, para que não fique aparente. Também é necessário fazer a reconstrução do umbigo, já que com o corte da pele, ele é “tirado” fora. (GU)

Tempo de espera

O cirurgião plástico Bruno Beraldi, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, aconselha às pacientes a realizar a abdominoplastia somente depois de ter filhos. Durante a gestação, explica o médico, o corpo produz um hormônio, a relaxina, que faz as estruturas do corpo (músculos, tendões, articulações) ficarem mais relaxadas e flexíveis. Por isto, a maioria das mulheres que se submetem à abdominoplastia e engravidam depois possuem uma distensão normal da barriga. O caso de Paula é raro. Por isto, a gestação é uma contraindicação “relativa”, preventiva, e não absoluta para todos os casos.

Muitos médicos aconselham as pacientes a esperarem cinco anos antes de engravidar. Mas Bruno explica que não existe um “prazo” para isto. Após um ano da cirurgia, não há o risco dos pontos arrebentarem. Mesmo assim, o indicado é não engravidar depois da plástica, para evitar problemas. “Se ela engravida, a barriga tem que distender sem aqueles 15 a 20% a mais de distensão do músculo”, diz ele.

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Mesmo que a gestação ocorra bem após a abdominoplastia, alerta o médico, ainda há o risco da mulher perder os benefícios estéticos, como ter novo alargamento da diástase, ruptura da cicatriz, nova flacidez e estrias. Ele diz que é possível fazer uma segunda abdominoplastia, porém a cirurgia é bem mais complexa do que a primeira.

O feto também pode ter problemas de desenvolvimento numa barriga muito “apertada”. Com a restrição do espaço intrauterino e consequente redução do líquido amniótico, ele pode ter má formação e um parto prematuro. A paciente que fez a abdominoplastia e engravidou precisa do acompanhamento do obstetra, do pediatra e do cirurgião plástico na gestação.

Risco maior

Muitas mulheres que fazem a cirurgia bariátrica emagrecem por causa da redução do estômago e acabam optando também pela abdominoplastia, para retirar o excedente de gordura e pele flácida na barriga. Conforme o cirurgião plástico, aí está o maior público em risco de engravidar. “Geralmente são mulheres que aumentam a autoestima, acabam se relacionando mais com as pessoas, acham um companheiro e resolvem ter filhos”, diz o médico.

Bruno explica também que a obesidade gera infertilidade. Quando a pessoa emagrece, perde a infertilidade e fica mais suscetível a uma gestação. “A bariátrica deixa a pessoa mais desnutrida, o que gera flacidez. Músculos e pele mais flácidos ficam mais fáceis do bebê se acomodar”, explica Bruno, sempre aconselhando que, entre a bariátrica e a abdominoplastia, as mulheres pensem se ainda desejam ou não ter filhos.

Sobre o autor

Giselle Ulbrich

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