Curitiba

Doutor em obras

Um verdadeiro regente de obras. Para o arquiteto Sylvio Nogueira, 70 anos, tal qual um maestro em uma orquestra, a profissão que ele escolheu há 48 anos tem por condição essencial reger de maneira primorosa todos os recursos materiais e humanos em prol da arte milenar de construir, levando em consideração o local em que se está realizando a obra e suas condições climáticas.

E essa maneira criteriosa de encarar a arquitetura fez com que os últimos 18 anos desse profissional fossem dedicados ao árduo trabalho de elaborar pareceres técnicos sobre patologias da construção civil. Em suma, o experiente arquiteto é contratado por administradoras e condomínios para elaborar uma análise detalhada das deformidades da obra em questão.

“Quando comecei a atuar na emissão desses pareceres, costumava receber trabalhos de construções com 15 anos ou mais de vida. Hoje, atendo condomínios que ainda não ultrapassaram dois anos de uso. Isso porque realmente relaxaram na qualidade e durabilidade das obras, por priorizarem a velocidade e o resultado é o caráter prematuro do surgimento das patologias”, observa.

“As construções atuais, comparadas às mais antigas, são quase cenográficas”, dispara. E ele acrescenta que o problema maior não se refere ao risco de desmoronamento da obra, mas desses lugares ficarem insalubres por conta de fatores como umidade e proliferação de insetos consequentes dos novos padrões de construção.

Sylvio Nogueira usa experiência de 48 anos pra elaborar pareceres sobre “patologias” da construção civil. Foto: Marco Andre LimaCom aproximadamente 230 laudos e pareceres técnicos, bem como assistências em ações judiciais, Sylvio admite que a tarefa de comunicar aos “adquirentes” de um imóvel sobre todos os problemas de determinada construção é um tanto ingrata.

“Já passei por diferentes situações desagradáveis, porque as pessoas compram um imóvel sem fazer ideia da sucessão de equívocos cometidos e não querem ouvir o que tenho a dizer, preferem continuar na ilusão. É quase como um paciente que, por pagar a consulta do médico, não quer que ele diagnostique a doença”, compara.

Segundo Sylvio, vencido o desconforto de reconhecer os problemas daquele imóvel comprado muitas vezes com muito esforço financeiro, as pessoas têm muito a ganhar ao buscar conhecer a obra pelo viés do patologista em obras. “Após a vistoria, oriento o que fazer e em qual ordem realizar as reformas, porque não é raro ser procurado por condomínios que caíram várias vezes nas mãos de espertalhões ou de empresas que até fizeram um reparo bem feito, mas sem olhar para o prédio por completo e perderam todo o investimento feito no serviço”, explica.

Formação

Fascinado pelo vasto campo de atuação que a arquitetura proporciona, Sylvio critica severamente a grade de formação dos cursos. “Esses conhecimentos técnicos são sonegados pelas instituições de ensino superior, mesmo sendo da seara do arquiteto”, comenta.

Segundo ele, os 30 anos de atuação no Departamento de Engenharia do Banco do Brasil e a oportunidade de ser bolsista do governo alemão (no Technische Hochschule Stuttgart/DAAD) moldaram a sua formação. “Tenho 30 anos de erros e 18 anos lembrando desses 30 anos para estar atento ao que funciona ou não na construção civil”, explica.

Sobre se aposentar e evitar o desgaste cotidiano de trazer a verdade à tona, ele defende a necessidade de uma postura ética e coerente diante da própria vida. “Não se pode sonegar o que você sabe. Ainda mais no meu caso, que frequentei faculdade pública, paga pelo cidadão brasileiro e trabalhei em um banco de economia mista que me deu a licença de um ano e meio para eu estudar na Alemanha. É a minha forma de retribuir”, declara.

Quem quiser conhecer mais sobre patologia em obras pode acessar o site mantido pelo arquiteto: www.snogueira.com

Sobre o autor

Magaléa Mazziotti

(41) 9683-9504