Curitiba

Ano novo, velhas contas!

Escrito por Maria Luiza Piccoli

Especialista em finanças dá dicas para começar 2018 no “azul”

O ano é novo, mas todo mundo sabe: as despesas são as mesmas de sempre. E não tem como fugir. Além dos débitos das festas, a cobrança de impostos importantes em janeiro, como o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), morde uma fatia importante do nosso orçamento e, quem não se prepara, sofre para manter as contas em dia nos três primeiros meses do ano. Para quem tem filhos, um agravante: material escolar e matrícula aumentam ainda mais o gasto familiar. Para não ficar no vermelho, o jeito é tentar conciliar compras e impostos, planejando bem a forma de pagar.

Na sala de casa, a professora Vivian Friesen, 34, repete a mesma conversa que tem com os filhos todo o início de ano letivo. Matriculados em uma escola particular, Daniel (8) e Melissa (5) já sabem que a compra dos itens da lista é missão exclusiva da mãe. “Eles sabem que materiais ilustrados com personagens, por exemplo, são mais caros. Por isso, quando chega o dia das compras, cada um escolhe a cor do material que vai querer e eu vou sozinha para evitar as ’tentações’. Eles aceitam numa boa”, afirma.

Autônomos, Vivian e o marido dividem as contas que, somadas, saem em torno de R$ 1.900 mil incluindo os valores do IPTU, IPVA, material escolar e rematrícula. Para não se apertar o casal criou o hábito de planejar o orçamento já nos meses que antecedem as festas. “A gente procura prever os gastos e poupar durante o ano justamente pra evitar o desespero na hora que as faturas chegam”, diz a professora.

Nem todo o mundo, porém, se planejou corretamente para pagar as contas do primeiro trimestre. Nesses casos vale repensar as finanças. O corte simples de gastos não soluciona o problema, mas pode ajudar. Quem explica é a professora de finanças empresarias da PUCPR, Andreia Ribeiro da Luz. “Para quem não se preparou, agora é hora de eliminar gastos supérfluos e avaliar quais despesas são realmente necessárias. É momento de pensar se é viável manter a assinatura prêmium da tv a cabo, se dá pra segurar a fome até chegar em casa ou se o passeio do fim de semana deve mesmo ser no shopping, que cobra estacionamento e convida a gastar ainda mais dinheiro‘, pondera.

Segundo Andreia, para evitar recorrer aos ‘cortes‘, o ideal é que orçamento familiar seja organizado antecipadamente, sempre no ano anterior, evitando imprevistos e garantindo o pagamento de todas as contas em dia. ‘Um bom mês para começar a guardar dinheiro para as contas de início de ano é outubro. O ideal é que as famílias planejem as festas já contando com esses gastos. Assim tudo é feito de forma mais consciente‘, diz. A especialista ainda recomenda que os débitos sejam listados de forma visível, em um caderno ou planilha, para facilitar a organização dos valores. ‘Com tudo discriminado fica mais simples decidir de que forma os pagamentos serão feitos. Se à vista ou parcelados, de acordo com a situação financeira do momento‘, ressalta.

Foto: Felipe Rosa.
Foto: Felipe Rosa.

Olé nos gastos

Às vezes não é possível pagar à vista todas as contas de começo de ano. Nesses casos é importante avaliar quais são prioritárias e podem ser pagas uma vez, e quais podem ser parceladas. Uma dica importante é pesquisar os descontos nos pagamentos à vista. Em alguns casos, o desconto no IPTU chega a 20% – o que faz diferença no bolso.

Outra dica é reservar o décimo terceiro salário, exclusivamente ou em partes, para o pagamento das despesas do primeiro trimestre. De acordo com Andreia, caso não existam dívidas ou nenhuma destinação de emergência tenha sido dada para o benefício, este é o momento de usá-lo. ‘Muita gente poupa, guarda ou aplica o décimo terceiro pensando em compras futuras. Mas se as contas chegaram e o valor em caixa não é suficiente, vale usar o dinheiro para liquidar esses débitos‘, afirma. É o que faz a funcionária pública Viviana Gualtieri, 51, que todos os anos destina uma parte do décimo terceiro ao pagamento do IPVA e do IPTU. Ao todo, os valores somam quase R$3.000 mil. ‘Quando entra o dinheiro eu procuro nem ’me apegar’ muito. Dói no coração, mas é melhor pagar as contas de uma vez e não ficar devendo‘, afirma.

Muita gente não tem essa consciência e acaba se complicando com as faturas. Sem planejamento, é comum entrar no cheque especial e fazer empréstimos. Segundo Andreia, as medidas são arriscadas e se transformam facilmente em verdadeiras ‘bolas de neve‘. ‘Fuja dos empréstimos. Em muitos casos as pessoas se endividam ainda mais e, com os juros altíssimos, muitos não conseguem pagar as dívidas‘, alerta.

Felizmente nunca é tarde para organizar as finanças. Segundo Andreia, é importante criar consciência a respeito da economia, reservando uma parte do salário durante o ano todo, não apenas para as contas do primeiro trimestre, mas também para imprevistos. ‘Remédios, acidentes, reparos em casa. Nunca sabemos quando vamos precisar desembolsar algum dinheiro de surpresa. Por isso, é necessário fazer um esforço e guardar pelo menos 10% do salário todo o mês. Pode ser numa poupança ou aplicação, tudo depende de quando se vai precisar. Dessa forma se previne de dos apertos, dos cortes de gastos e, mais importante, das dívidas‘ finaliza.

Para quem tem filhos e procura economizar com as compras escolares neste início de ano, criatividade e paciência podem ser fortes aliadas. Um ideia criativa foi a criação de um grupo, no aplicativo Whatsapp, no qual pais de alunos matriculados na mesma escola que os filhos de Vivian anunciam não apenas materiais usados para venda, mas também uniformes, calçados e diversos itens escolares de ‘segunda mão‘, a preços acessíveis.

‘Existem regras e todos os produtos anunciados têm de estar em bom estado. Eu mesma comprei um mochila de rodinhas – que nova, custa R$150 – pelo grupo. Paguei só R$50. Mais feliz que eu só ficou meu filho‘, brinca.

Para a professora de finanças empresarias da PUCPR, Andreia Ribeiro da Luz, pesquisar e comparar preços é fundamental, uma vez que os valores variam de um estabelecimento para outro. ‘Mesmo com bons descontos, é importante negociar e procurar condições ainda melhores de pagamento‘, afirma.

Se o gasto pode ser evitado, melhor. É o caso, por exemplo, de materiais escolares utilizados no ano anterior, mas que ainda apresentam boas condições de uso. Numa rápida ‘limpa‘ feita nos materiais escolares antigos dos filhos, a professora Vivian Friesen separou canetas, borrachas, lápis e réguas que serão reaproveitados este ano. ‘Muita coisa eles não conseguem terminar de usar. Só nessa ’faxina’ já separei o equivalente a 50 reais em material escolar‘, revela. É menos dinheiro gasto e mais consciência de consumo.

Sobre o autor

Maria Luiza Piccoli

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