Curitiba

Busão é passado!

Com passagem cara, moradores de Curitiba e região metropolitana trocam ônibus por outros meios de transporte

Passagem cara, ônibus cheios, percursos longos e demorados, além da falta de conforto e segurança. Estes são alguns dos problemas apontados por pessoas que estão deixando de utilizar os ônibus em Curitiba, passando a optar por outras maneiras de locomoção. Como é o caso do azulejista Nadson Reis, 36 anos, que todos os dias sai cedinho de sua casa, na Região Metropolitana de Curitiba, para ir até seu trabalho na capital, no bairro Campina do Siqueira. Neste trajeto, com sua moto ele leva cerca de 40 minutos para chegar. Mas quando o meio de transporte utilizado era o ônibus, segundo ele, sua rotina era muito mais complicada.

“Saio de casa, em São José dos Pinhais, todos os dias às 6h30 e chego ao trabalho no horário. Antes, quando ia de ônibus, levava duas horas e meia neste mesmo trajeto, era muito cansativo. Agora eu prefiro fazer tudo de moto, já andei muito de ônibus, mas hoje não compensa. O ônibus ficou lento e caro demais”, relata.

Wallace trocou o transporte coletivo pela bicicleta. Foto: Felipe Rosa
Wallace trocou o transporte coletivo pela bicicleta. Foto: Felipe Rosa

Outro que foge do transporte coletivo, por conta da superlotação e do valor da passagem – que subiu R$ 0,55 em fevereiro e custa R$ 4,25 – é o desenhista Wallace Barreto, 47, que trocou os ônibus pela bicicleta, hoje, sua companheira inseparável. “Venho de bicicleta (para o trabalho) todos os dias. Primeiro foi por economia, mas depois comecei a gostar e virou uma opção de vida. É muito mais econômico do que o ônibus, que vive abarrotado de gente, e eu ainda posso ir curtindo a cidade. Hoje vivo no Centro e trabalho no Batel, mas quando morava longe já vinha de bicicleta ou moto”.

Clébia costuma usar o Uber: ônibus é a última opção. Foto: Felipe Rosa
Clébia costuma usar o Uber: ônibus é a última opção. Foto: Felipe Rosa

Alternativas

Já para a auxiliar de produção Clébia Bentes, 30, recorrer aos aplicativos de caronas pagas costuma ser uma boa solução. “Uso o Uber quando vou para o Centro ou quando preciso fazer uma coisa rápida. É bom, ele vem na porta de casa e ainda dá para dividir com alguém. Com o valor de duas passagens, me desloco com mais conforto. E também uso muito a moto. O ônibus é a última opção, pois demora demais, para vir e chegar ao destino”, diz.

“O ônibus tá caro, compensa andar de carro. Pelo preço de uma passagem, abasteço e percorro vários quilômetros com meu carro, que é 1.0. Mesmo pagando EstaR ou estacionamento, pela comodidade, conforto e segurança, prefiro o carro. Ele ou a bicicleta”, revela o vigilante Geraldo Mendes Rodrigues, 50.

Geraldo prefere seu carro popular. Foto: Felipe Rosa
Geraldo prefere seu carro popular. Foto: Felipe Rosa

Fuga em massa

Assim como Nadson, Wallace, Clébia e Geraldo, nos últimos anos muitas pessoas adotaram um comportamento semelhante, optando pela bicicleta, motocicleta, carro ou aplicativos de caronas, deixando de utilizar o transporte coletivo de Curitiba. Segundo dados do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) houve uma queda de 14% no número de passageiros, no comparativo entre os meses de março, abril e maio de 2016, com o mesmo período de 2017. No total, a quantidade de passageiros caiu de 53,7 milhões de passageiros para 46 milhões.

De acordo com a entidade, este fenômeno é atribuído à crise econômica, já que boa parte dos passageiros possui cartão-transporte disponibilizado pela empresa. “Quando o desemprego aumenta, muita gente deixa de usar o ônibus”, aponta o sindicato, em nota. O Setransp admite que, atualmente, a concorrência de outros aplicativos de transporte também afeta os ônibus.

Já de acordo com a Urbs, a queda no número de passageiros foi de cerca de 8% no acumulado de fevereiro a maio. A gestora do transporte coletivo explica que diferentemente do Setransp, não inclui nos cálculos os dias de greve e feriados. Para a Urbs, o principal fator causador desta queda também está relacionado ao desemprego e, consequentemente, à diminuição do uso de vale-transporte.

Especialista defende subsídios para o transporte coletivo voltar a atrair passageiros. Foto: Felipe Rosa
Especialista defende subsídios para o transporte coletivo voltar a atrair passageiros. Foto: Felipe Rosa

Possíveis soluções

Professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Eduardo Ratton, acredita que somente uma tarifa subsidiada pelo poder público, que fosse acessível, com valor próximo a R$ 1, poderia trazer os usuários de volta para o transporte coletivo, resolvendo este problema que não é uma exclusividade de Curitiba.

“Tem mais de 10 anos que o número de passageiros do transporte público diminui, ano a ano. Entre os fatores que provocam esta queda estão a falta de segurança, conforto e o custo, a passagem é muito cara. E esta falência do sistema é um ciclo vicioso. Aumentam a tarifa e isto diminui o número de passageiros. Diminuem os passageiros e a tarifa sobe novamente. Com a gasolina custando cerca de R$ 3 o litro, uma pessoa com um carro popular percorre 14 quilômetros com este valor. Fora as outras alternativas. Difícil competir”.

Na avaliação do Setransp, para reverter a situação é preciso haver políticas públicas de prioridade aos ônibus. “O Setransp defende a criação de faixas exclusivas, modernização do sistema de bilhetagem, adoção de novos aplicativos para celular com informações sobre o sistema, investimento em infraestrutura viária destinada ao transporte coletivo, a fim de atrair passageiros para o ônibus”. Reunidas, as empresas brasileiras de ônibus urbano ainda apoiam a ideia da criação de uma contribuição sobre o preço da gasolina, etanol e gás natural, paga pelos donos de veículos particulares, cujos recursos iriam para um fundo com destinação exclusiva para custeio do transporte coletivo.

Questionada sobre as iniciativas que poderiam atrair mais passageiros e sobre os impactos do aumento da tarifa, a Urbs limitou-se a informar, via assessoria de imprensa, que a queda no número de passageiros transportados se deve ao desemprego e à consequente diminuição do uso de vale-transporte.

Sobre o autor

Paula Weidlich

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