Curitiba

Mais caro!

Escrito por Maria Luiza Piccoli

Aumento no preço do pão tem vários “vilões”. A tendência é subir ainda mais.

A receita é simples: meio quilo de farinha de trigo, dez gramas de fermento, quinze gramas de sal, vinte de açúcar e uma colher de sopa de margarina. Misture bem e deixe descansar por duas horas. Depois, é só assar em forno pré-aquecido por 40 minutos, e pronto. Pão francês quentinho, feito na hora. Dificilmente quem passa em frente à padaria quando a fornada sai resiste. Na hora de pagar, no entanto, muita gente nem percebe os centavinhos a mais que passaram a fazer parte do preço do pão em novembro.

Até o mês passado, 10 pãezinhos saíam, em média, R$ 4,25. Neste mês a mesma quantidade está saindo por R$ 4,40. Fotos: Átila Alberti.
Até o mês passado, 10 pãezinhos saíam, em média, R$ 4,25. Neste mês a mesma quantidade está saindo por R$ 4,40. Fotos: Átila Alberti.

Até o mês passado, 10 pãezinhos saíam, em média, R$ 4,25. Esse mês, a mesma quantidade está saindo por R$ 4,40. E a tendência é aumentar. Ao contrário do que se possa imaginar,o motivo do acréscimo não foi somente a baixa oferta de trigo registrada esse ano, por conta de problemas climáticos que influenciaram a qualidade da safra.

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Quem explica é o presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Estado do Paraná (Sipcep), Vilson Felipe Borgmann. De acordo com ele, o aumento médio de 3% no valor do pão é resultado de três fatores principais: o preço da farinha – que subiu 3,5% em novembro – o reajuste de 5,85% na tarifa de energia elétrica, e o aumento da cobrança sobre a água reajustado em 8,53% pela Sanepar no segundo semestre de 2017. “Em termos de gestão, o custo para manutenção e produção nas padarias sofreu muito com esses reajustes. Um estabelecimento que pagava em média R$ 6 mil de luz, agora paga R$ 7 mil. A mesma coisa aconteceu com a água, que é um dos principais ingredientes usados na panificação. Os comerciantes tentam, mas às vezes não dá pra segurar os preços”, afirma.

Sentindo no bolso

Pra muita gente, a diferença de alguns centavos a mais, passa despercebida. É o caso da dona de casa Gloria Espina, 66 anos. “Compro pão todos os dias, então quase não noto quando o preço muda. Em casa somos eu, minha neta e meu marido. Não consumimos muito então não faz muita diferença”, afirma. Já para quem tem família um pouco maior, o valor não “passa batido”.

Maria Alexandra Vale, 43, mora com o marido e dois filhos adolescentes. Antes ela comprava, em média, 15 pães por dia. Agora com preços mais altos, são apenas 10. “Sempre levei pra sobrar, mas agora estou recalculando. Meus filhos consomem bastante pão e não dá pra ficar sem, mas são dois pra cada e olhe lá”, diz

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Corte de gastos

Para os donos de padaria, sobra optar pela parcimônia na hora de tabelar os preços. Há 50 anos, Dagoberto Winkert administra a fábrica de pães da família, em Santa Felicidade. Para não mexer no preço do produto final e manter os clientes, a saída foi cortar gastos onde era possível, e negociar com fornecedores.

Donos de padaria estão fazendo 'malabarismo' para evitar mais aumentos no preço. Foto: Átila Alberti.
Donos de padaria estão fazendo ‘malabarismo’ para evitar mais aumentos no preço. Foto: Átila Alberti.

“Tem coisas que não dá pra negociar, como água e luz. No que é possível, no entanto,a gente tenta reduzir o custo de forma que o consumidor sinta o mínimo possível. Uma solução que encontramos foi variar fornecedores. Os valores mudam muito de um para o outro e isso faz diferença”, revela.

De acordo com Winkert, o valor do saco de 25 quilos de farinha, utilizado para produção em larga escala, varia de R$ 33 a R$ 38. “O jeito é comprar mais barato e aumentar o mínimo possível”, diz. Na panificadora da família, localizada no centro da cidade, as broas e pães carros-chefes da casa não sofreram aumento no preço. A escolha foi para manter a clientela.

“Os clientes notam e reclamam dessas mudanças, então mantivemos os valores dos produtos. Já está difícil de vender pelo preço normal, que dirá cobrando mais”, afirma Terezinha Winkert, esposa de Dagoberto e gerente da loja. Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Estado do Paraná (Sipcep), Vilson Felipe Borgmann, formas
de cobrança que impactem o mínimo possível o bolso dos consumidores são ideais. “Meu conselho para o comerciante é que tenha cautela na hora de cobrar mais. Se possível, os preços devem ser mantidos e os aumentos, repassados o mínimo possível para os clientes”, recomenda.

Não tão doce assim

Não é só sobre o preço do pãozinho que os acréscimos nos custos de produção recaem. Gostosuras como bolos, bolachas e panetones também tendem a ficar mais caros no final do ano. Marina Valente é confeiteira e faz doces sob encomenda. Ela explica que, apesar da farinha representar um custo baixo em relação a chocolates, cremes, e outros ingredientes mais caros, ela está presente em quase todos os doces que produz, de modo que não repassar o aumento sobre os produtos é praticamente impossível. “Quando se fala em farinha 3% mais cara, pode não parecer tanto. Mas considerando que são quase 5 quilos por semana faz diferença, o produto acaba ficando mais caro. Não tem jeito”, finaliza.

"A gente tenta reduzir o custo de forma que o consumidor sinta o mínimo possível', diz Dagoberto.
“A gente tenta reduzir o custo de forma que o consumidor sinta o mínimo possível’, diz Dagoberto.

 

 

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Maria Luiza Piccoli

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